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Cristina Kirchner cumprimenta simpatizantes em Córdoba, uma das principais cidades da Argentina. Presidente tem chance de ser reeleita no primeiro turno | Presidência da Argentina/AFP
Cristina Kirchner cumprimenta simpatizantes em Córdoba, uma das principais cidades da Argentina. Presidente tem chance de ser reeleita no primeiro turno| Foto: Presidência da Argentina/AFP

Lembrança de Néstor persiste nos discursos de sua viúva

Até meados de 2010 era dúvida se Cristina seria candidata a reeleição ou se seu marido e antecesor no cargo, Néstor Kirchner, que ocupou o cargo de 2003 a 2007, concorreria novamente à Presidência.

O argumento era que Néstor continuava a governar a Argen­­tina dos bastidores e só iria retomar o cargo. As especulações acabaram quando o ex-presidente morreu repentinamente após um infarto em outubro do ano passado.

Restou a Cristina vestir so­­mente preto ao longo de meses e evocar o nome do marido em diversos discursos. Ela chegou a comparar sua história de amor com a de Juán e Evita Perón e, no último pronunciamento no exercício do cargo de presidente antes do dia das votações, agradeceu ao público também em no­­me do falecido marido.

Entrevista

Fabián Perechodnik, diretor do instituto de pesquisa Poliarquia – conversou com a Gazeta do Povo por telefone

O que explica o favoritismo da presidente, mesmo com a inflação em alta?

As pesquisas de opinião sobre a situação do país mostram que a avaliação é mais de 50% positiva. Quando perguntam às pessoas sobre como está a situação em comparação com um ano atrás, 55% diz que está melhor. E mais da metade acha que o próximo ano será melhor que este .

É preciso diferenciar o que opinam os líderes da oposição ou do setor privado e o que opina o povo. Mais da metade da população tem uma opinião positiva e não visualiza os problemas da economia. Para as pessoas, a inflação não está entre os principais problemas. Mas isso não quer dizer que não seja um problema. É um problema, mas as pessoas não visualizam.

As eleições primárias, em agosto, deixaram Cristina Kirchner mais forte?

As primárias a deixaram mais forte, foi uma espécie de primeiro turno. No fim da campanha, 70% das pessoas têm pouco ou nenhum interesse na eleição presidencial porque nas primárias, de alguma maneira, os resultados foram antecipados e a questão resolvida.

O que ocorre com Ricardo Alfonsín que ficou em segundo lugar nas primárias e agora está caindo nas pesquisas?

Alfonsín não é visto como o principal opositor de Cristina. Ele é o candidato do principal partido de oposição, mas o partido está muito desorganizado.

E Hermes Binner, que está em segundo agora, poderia ser alguém com possibilidade de vencer Cristina?

Não há nenhuma possibilidade de vencer Cristina no cenário atual. Seria preciso ocorrer uma mudança de cenário muito drástica ou uma situação muito pontual que não se visualiza. O resultado que Cristina está atingindo é o mesmo que temos visto nos últimos seis meses. Os setores de poder que não queriam a presidenta pensavam que poderia haver alguma alternativa com o ex-presidente Eduardo Duhalde. Mas estava claro que não era assim.

Mas Duhalde está muito abaixo nas pesquisas?

Duhalde aparecia como uma opção até as primárias. Depois das primárias viram que ele não era a opção e muitos votos foram perdidos.

Então é uma eleição em que mesmo os que não votam em Cristina já esperam que ela continue sendo a presidente?

Sim, 94% das pessoas acham que Cristina vai ganhar as eleições, votem nela ou não.

  • Veja quem são os candidatos que vão concorrer à Presidência Argentina

Clima de certeza e previsões de continuidade compõem o cenário político da Argentina quando se fala na eleição presidencial que vai ocorrer daqui a uma se­­mana. Desde o início do ano, a presidente Cristina Kirchner vem mantendo mais da metade das intenções de voto. A chefe de Estado chegou a dizer que não iria concorrer à reeleição, que estava cansada e iria se dedicar à família. Mas, em junho, Cris­tina,en­­fim anunciou sua candidatura, e saiu vitoriosa, com 50% dos vo­­tos, nas primárias realizadas em agosto.

O charme de Cristina parece estar incólume aos desencontros dos números do índice de inflação. No dia 8 de outubro, o jornal argentino Clarín publicou as informações divulgadas pela deputada de oposição Patricia Bullrich, do partido Coalición Cívica. De acordo com a parlamentar, com 100 pesos hoje se compra 85% menos do que se comprava no início da gestão da presidente.

O Instituto Nacional de Esta­­dística y Censos (Indec), espécie de IBGE argentino, divulga índices de inflação que são contestados por institutos privados de pesquisa e pelos oposicionistas. "Segundo o Indec, nos últimos anos houve 50% de inflação na cesta básica, quando na realidade foi de cerca de 221%", contesta a deputada.

"Há impacto do aumento dos preços, sem dúvida isso existe. Mas há certo conformismo por parte da população em geral. A gente não vê reclamações da maioria sobre as questões econômicas", diz o professor Jorge Gus­­tavo Elías, da Faculdade de Ciên­­cias Sociais da Universidade de Buenos Aires (UBA). Mesmo as­­sim, para ele, o país passou por consideráveis melhorias. "A po­­pulação tem mais capacidade de consumo do que tinha anos atrás, e estão sendo gerados mais empregos para o setores menos favorecidos, o que torna a situação mais estável", diz.

Políticas que favorecem as camadas mais pobres da população são apontadas pelos críticos de Cristina como populistas. A professora Maria Susana Bo­­netto, do doutorado de Ciência Política da Universidade Nacio­­nal de Córdoba, rebate esse tipo de avaliação do governo. "As po­­líticas sociais não foram asistencialistas, caso contrário não te­­riam estimulado o emprego ou o acesso à saúde."

Além da aprovação do governo, a falta de opção na oposição faz com que o kirchenerismo esteja prestes a atingir uma década no poder. Para o consultor po­­lítico Fabian Perechodnik, diretor da Poliarquía Consul­­tores, a "fragmentação da oposição" é mais um fator que favorece Cris­­tina.

Ricardo Alfonsín, candidato que era o segundo colocado até as primárias, tem caído nas pesquisas. "Seus discursos se assemelham muito aos do pai [o ex-presidente Raúl Alfonsín]. Ele não tem experiência de gestão", diz o professor Elías.

Hermes Binner, que agora ocupa o segundo lugar nas pesquisas, tem sido a opção daqueles que não querem a permanência de Cristina. Mas, para os analistas, seus 13,6% estão longe de representar uma ameaça para a reeleição da presidente.

Se a permanência de Cristina no poder se concretizar, ela vai ter que reorganizar a casa, segundo os analistas. A professora Maria Susana indica alguns pontos a mudar: "Teria que melhorar o nível de funcionamento da burocracia, que é ineficiente e em muitos casos impede que os programas se realizem em tempo adequado. Também teria que fazer a troca de ministros que já estão há muito tempo e têm sofrido desgaste".

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