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A delação do ex-líder paramilitar Salvatore Mancuso caiu como uma bomba sobre o governo colombiano, envolvendo o vice-presidente e um ministro com organizações de ultradireita, e promete respingar em outros dirigentes e militares.

O escândalo parece confirmar a tese de que o Estado apoiou estes grupos.

Mancuso, líder das dissolvidas Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), continuou nesta quarta-feira seu depoimento à Procuradoria, depois de ter revelado ontem que, no passado, reuniu-se com o vice-presidente Francisco Santos e o ministro da Defesa Juan Manuel Santos, que são primos.

Esses encontros ocorreram, quando os envolvidos não eram funcionários públicos, de acordo com a declaração divulgada na audiência em Medellín (noroeste).

Segundo Mancuso, o vice-presidente pediu a ele para criar um grupo paramilitar em Bogotá, enquanto que o ministro lhe propôs integrar uma coalizão junto com as guerrilhas de esquerda para derrubar o presidente Ernesto Samper (1994-98), cuja campanha eleitoral foi financiada por narcotraficantes.

O ministro admitiu hoje dois encontros com o chefe paramilitar assassinado Carlos Castaño em 1997, mas garantiu que foram para tentar um acordo de paz com todos os grupos ilegais, enquanto que o vice-presidente se mantinha em silêncio. O presidente Alvaro Uribe defendeu a inocência de ambos.

Na semana passada, o vice-presidente reconheceu ter tido três encontros com chefes das AUC (acusadas de terem cometido mais de 9.000 homicídios), esclarecendo que foram por razões de seu trabalho como jornalista e líder de uma associação de vítimas do seqüestro.

"Se esta é a verdade que o senhor Mancuso pretende revelar, o país ficará muito decepcionado", afirmou o ministro, enquanto Samper reiterou que Santos conspirou contra ele.

Uribe manifestou "toda a confiança no moral" de ambos os funcionários, "em sua probidade" e na de todos os membros do governo, que "olha as declarações de Mancuso com toda a tranqüilidade" e "defendendo que se diga a verdade".

Em janeiro, Mancuso já tinha admitido que ordenou o assassinato de 338 pessoas, promoveu a eleição dos dois últimos presidentes e infiltrou seus homens nos organismos de segurança.

Na audiência de terça-feira, Mancuso contou que, nos anos 90, recebeu o apoio dos generais do Exército Iván Ramírez, Rito Alejo del Río e Martín Carreño, que estão na reserva, em duas regiões do norte, onde as AUC mataram centenas de civis acusando-os de cooperar com a guerrilha.

Disse ainda que o ex-chefe de polícia Roso José Serrano, atual embaixador na Áustria, aliou-se com um chefão da cocaína para conseguir a libertação de Juan Carlos Gaviria, irmão do ex-presidente César Gaviria (1990-1994), seqüestrado em 1996. "O paramilitarismo era uma política de Estado", declarou Mancuso.

A delação deste rico pecuarista de origem italiana põe fogo no escândalo da "parapolítica", que já levou para a cadeia 12 congressistas (incluindo 11 aliados de Uribe). Dois deputados estão foragidos e outros 15 políticos foram detidos na segunda por supostos vínculos com a ultradireita.

Mancuso prometeu revelar os nomes de todas as pessoas e empresas que apoiaram as AUC e, neste contexto, antecipou os de três bananeiras dos Estados Unidos, uma relação que levou ao assassinato de sindicalistas.

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