Tanque russo destruído em vilarejo na região de Kiev: analistas apontam erros de estratégia e falta de treinamento adequado como alguns dos principais motivos para grandes perdas de blindados da Rússia no conflito| Foto: EFE/EPA/SERGEY DOLZHENKO
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Segunda maior potência militar do mundo, a Rússia parece enfrentar nesse momento uma situação constrangedora: pela primeira vez na história, tem menos tanques do que a Ucrânia, país que invadiu no ano passado e que até 2021 não era sequer um dos 30 países do mundo que mais gastavam com defesa.

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Uma reportagem recente da Bloomberg, que reuniu dados de várias fontes de estudos militares, estimou que a Ucrânia possui atualmente cerca de 1,5 mil tanques em operação, enquanto a Rússia tem aproximadamente 1,4 mil.

Um balanço do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos apontou que quando a guerra começou, em fevereiro de 2022, a Rússia tinha 3.417 tanques disponíveis e a Ucrânia, 987. Desde então, a frota de blindados ucraniana só cresceu, enquanto a russa foi sofrendo perdas significativas.

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Kiev recebeu 471 tanques de países aliados (outros 286 estão prometidos), segundo o Instituto Kiel para a Economia Mundial. Mesmo perdendo 558 tanques durante o conflito, a Ucrânia capturou outros 546, segundo dados do site holandês de informações militares Oryx. Já a Rússia teria perdido mais de 2 mil tanques no conflito.

Entre os motivos apontados por analistas para as grandes perdas russas de tanques, estão erros de estratégia e falta de treinamento adequado.

Embora esses números não sejam oficiais (ucranianos e russos, evidentemente, não têm interesse em relatar dados exatos), a diminuição de tanques da Rússia ativos na guerra motivou recentemente um bate-boca entre o Kremlin e o governo do Reino Unido.

Em uma audiência no Parlamento britânico na primeira semana de julho, o almirante Tony Radakin, chefe do Estado-Maior de Defesa do Reino Unido, disse que a Rússia já perdeu no conflito “quase metade da eficácia de combate do seu exército” e que não está conseguindo repor equipamentos.

“No ano passado, [a Rússia] disparou 10 milhões de projéteis de artilharia, mas, na melhor das hipóteses, consegue produzir 1 milhão de projéteis por ano. Perdeu 2,5 mil tanques e, na melhor das hipóteses, consegue produzir 200 tanques por ano”, alegou Radakin.

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O Ministério da Defesa da Rússia classificou essas informações como “mentiras” e desdenhou a ajuda militar que os britânicos têm enviado à Ucrânia.

“Toda essa sucata britânica fornecida ao regime de Kiev, depois de derretida, ainda servirá como boa matéria-prima para as novas regiões russas [quatro oblasts ucranianos anexados irregularmente por Moscou] durante o trabalho de reconstrução”, apontou, em comunicado.

Sem superioridade aérea, nada feito

Entretanto, em entrevista à Gazeta do Povo, o major da reserva e analista de riscos Nelson Ricardo Fernandes Silva disse que ter superioridade em número de tanques “facilita” a situação ucraniana, mas que esse fator sozinho não decidirá a guerra.

“O grande problema não vai ser a Ucrânia ter mais ou menos blindados do que a Rússia, o problema é que ela não tem superioridade aérea. Ter mais blindados, mas não ter superioridade aérea, mesmo que regional, implica que, mesmo quando a Ucrânia estiver em vantagem em número de blindados, a Rússia vai usar a aviação de ataque ao solo e vai destruir os blindados dela”, explicou.

“Isso aconteceu na guerra do Iraque, quando os Estados Unidos invadiram e havia colunas gigantescas de blindados iraquianos. Os caças americanos foram destruindo um a um como se estivessem matando baratas. É muito pouco provável a Ucrânia ter sucesso numa ofensiva sem superioridade aérea. Isso não aconteceu em nenhuma batalha desde a Segunda Guerra Mundial”, destacou Silva.

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O envio de aviões de combate para as forças armadas da Ucrânia foi um tabu para os países da OTAN durante o primeiro ano da guerra, mas por fim, em março e abril, a Polônia e a Eslováquia se tornaram os primeiros países da aliança militar a ajudar Kiev nesse sentido, enviando caças MiG-29. Até agora, foram 27 aviões de combate desse tipo enviados pelos dois países.

A Ucrânia também espera receber dos países da OTAN caças F-16, de fabricação americana, o que deve ocorrer a médio e longo prazo, após treinamento das forças ucranianas para utilização do jato.

Esses treinamentos devem começar em agosto, segundo revelado por oficiais de países-membros da OTAN na cúpula da aliança realizada esta semana na Lituânia.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]