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O Uruguai e a Argentina vão criar uma comissão negociadora com representantes de ambos os países para tratar temas que vão desde energia e gás à navegação no Rio Uruguai até os assuntos relacionados ao Mercosul. A decisão foi anunciada ontem à noite pelo presidente eleito do Uruguai, José "Pepe" Mujica, e pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner, após encontro na Casa Rosada. Este é o primeiro sinal concreto de reaproximação entre os dois sócios e vizinhos, que travam um conflito desde 2005, por causa da instalação da fábrica de celulose Botnia, vendida recentemente à UPM, ambas de capitais finlandeses, nas margens uruguaias do rio.

Marcando uma diferença em relação a Tabaré Vázquez, o atual presidente do Uruguai, Mujica tenta recompor as relações, mas reconhece que o problema que dividiu os dois países ainda não pode ser solucionado. "Não há nenhuma solução na mão, mas temos vontade" de encontrar uma saída do conflito, afirmou durante entrevista coletiva à imprensa. Após mais uma hora de reunião com Cristina, acompanhado por sua esposa, a senadora Lucía Topolansky, Mujica ressaltou que é preciso "esperar o laudo da Corte de Haia", o Tribunal Internacional de Justiça.

Segundo ele, após o resultado de Haia, previsto para este ano, os problemas que envolvem o Rio Uruguai e seu entorno também vão estar na agenda da comissão que será formada. O curto circuito entre os dois países começou no fim de 2005, quando um grupo de ambientalistas da cidade argentina de Gualeguaychú bloquearam o trânsito da ponte internacional que une essa cidade com o Uruguai, em protesto contra a instalação da fábrica.

A fábrica de papel foi construída na cidade uruguaia de Fray Bentos, e os argentinos temem que a unidade contamine as águas do rio que compartilham com os vizinhos. A economia de Gualeguaychú depende do turismo, que é atraído pelas praias às margens do rio em questão, especialmente no verão, quando a cidade oferece o único espetáculo de carnaval da Argentina, inspirado nos desfiles e escolas de samba do Brasil. Os moradores e ambientalistas da região mantêm a ponte bloqueada. Por causa desse bloqueio, o presidente Vázquez negou-se a negociar uma saída do conflito.

Marcando outra diferença com Vázquez, o presidente eleito em novembro passado evitou fazer comentários sobre o bloqueio da ponte. "Não nos corresponde dar opiniões sobre os problemas internos da República Argentina, o que sim nos corresponde é lutar para ter a melhor relação possível com qualquer que seja o governo que esteja no País e entre nossas respectivas sociedades", disse Mujica, que assumirá o governo em março de 2010.

Recentemente, Mujica reuniu-se com ambientalistas argentinos para tentar superar o conflito bilateral. Mas o presidente eleito preferiu não revelar detalhes sobre o encontro. O bloqueio da ponte provoca prejuízos aos uruguaios. No processo em tramitação no Tribunal Internacional, a Argentina argumenta que a construção da indústria foi autorizada de forma arbitrária por Montevidéu, o que violaria um tratado bilateral que se refere ao Rio Uruguai. A expectativa é que a decisão do tribunal nos próximos meses. Há duas semanas, o grupo sueco-finlandês Stora Enso desistiu de construir outra indústria de pasta de celulose na mesma localidade uruguaia depois que Mujica manifestou-se contrário à iniciativa.

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