• Carregando...

Desespero, choro e alívio se misturaram diante do prédio nos arredores de Santiago de Compostela, onde a Xunta de Galícia centralizou as informações para os familiares das vítimas. Com 66 das 80 vítimas do acidente de trem identificadas até a tarde desta quinta-feira (25), muitos ainda aguardavam por notícias de parentes.

"Minha filha, minha filha. O que vou fazer sem a minha filha?", gritava uma mulher de vestido verde, tremendo, nos braços de uma amiga.

Não era o único sinal de desespero. Aos poucos, os nomes das vítimas se transformavam em histórias relatadas pela imprensa espanhola e que comoveram não só a Galícia, mas toda o país. Como a de Yolanda Delfín Ortega, a mexicana de 22 anos, que há seis meses estudava Direito na Universidade de Santiago. Ela voltava de Madri, depois de se despedir da mãe e da irmã no Aeroporto de Barajas. Cinco minutos antes da tragédia escrevera ao namorado, para dizer que o amava. Ou a de Antonio Jamardo Villamarín, de 40 anos, que viajava com a namorada para assistir ao casamento do irmão. A namorada se feriu, mas está bem. Antonio, no entanto, morreu.

Outros deram mais sorte. Uma família de quatro venezuelanos sobreviveu à tragédia. Ana María Castañé, uma venezuelana de origem galega que mora em Ferrol, estremeceu ao ouvir a notícia do acidente. No trem vinham a filha, Yesica Medina Castañé, de 32 anos; o genro, Daniel Castro Pinzón, de 34; o neto de 7 anos e outro de 1 ano e meio. Foram horas de angústia até que pouco depois das 21h recebeu uma ligação dizendo que todos passavam bem. Eles ainda estão no Hospital Clínico de Santiago, mas Ana María disse que escaparam apenas com arranhões.

"É um milagre que nada tenha acontecido com o meu bebê", disse a avó, depois de ir ao hospital. "Vi pessoas com o rosto muito machucado. Foi horrível."

Há histórias também de solidariedade. Médicos interromperam a greve para atender aos feridos. Vizinhos se mobilizaram para ajudar às vítimas, enquanto os bombeiros não chegavam. Isidoro Castaño participava de uma reunião de vizinhos quando ouviu o que descreveu como uma explosão. Ao chegar ao local, viu o trem ardendo, contou.

"As pessoas gritavam: 'Tirem-me daqui.' Enquanto não chegava ajuda, éramos nós que tentávamos tirá-los pelas janelas, usando as ferragens do trem como se fossem macas.

Isidoro conta que depois que os policiais e médicos chegaram, os vizinhos continuaram ajudando. "Pediam que não deixássemos os feridos dormirem. As pessoas perguntavam: 'Onde está meu filho?' Havia idosos, jovens, crianças. Foi um inferno."

O guarda civil Miguel contou que tirou sete pessoas do trem, entre elas duas crianças mortas. "Não vou esquecer disso. Uma moça, ferida, pedia: 'Se eu morrer, diga a Tito que eu o amo.' Nas duas primeiras horas, retiramos sobreviventes. Depois, eram só mortos."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]