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A morte de Abu Musab al-Zarqawi significa o fim do homem que levou a insurgência no Iraque a patamares mais altos de selvageria, mas também cria um mártir cuja trajetória mobilizará novos recrutas.

Especialistas árabes e ocidentais em assuntos de segurança concordaram na quinta-feira que a morte de Zarqawi em uma operação aérea realizada pelos Estados Unidos não significaria o fim da insurgência, mesmo que represente um triunfo para o governo do presidente americano, George W. Bush.

- Haverá uma mobilização de pessoas dispostas a se unir à caravana de mártires, a seguir o exemplo dele e a honrarem-no - disse Magnus Ranstorp, um especialista em Al-Qaeda da Faculdade Nacional de Defesa da Suécia.

Mas a ação eliminou um comandante extremamente cruel e dedicado abertamente a uma estratégia de fomentar as desavenças entre a minoria sunita e a maioria xiita do Iraque, levando o país à beira de uma guerra civil.

Zarqawi se transformou no maior símbolo da insurgência ao decapitar reféns pessoalmente, comandar alguns dos ataques mais violentos realizados contra as forças iraquianas e de coalizão, além de alimentar sua lenda pessoal usando habilmente a Internet.

Os EUA ajudaram a construir a aura em torno de Zarqawi, mesmo antes da invasão do Iraque, quando o então secretário de Defesa do país, Colin Powell, afirmou à Organização das Nações Unidas (ONU), em 2003, que o militante era parte de uma "ligação sinistra" entre o país árabe e a rede Al-Qaeda.

- O garoto-propaganda que uniu o terrorismo com o Iraque se foi - disse Ranstorp. - Osama Bin Laden alimentou a fama de Zarqawi, Zarqawi alimentou sua própria fama, e os EUA contribuíram. Ele agora é um mártir. Ele sempre será um mártir, alguém maior que sua própria vida.

Exterminado

Mesmo ao anunciar que Zarqawi havia sido "exterminado", o primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, reconheceu implicitamente que outros tentariam ocupar o espaço deixado por ele. E prometeu:

- Toda vez que um Zarqawi aparecer, vamos matá-lo.

Especialistas em assuntos de segurança avaliaram como pequeno o impacto da morte do militante, afirmando que a rede de Zarqawi representava apenas uma fração da insurgência, na qual grupos de resistência menos extremistas conquistaram espaço.

Na quinta-feira, a rotina iraquiana parecia não ter se alterado. Duas bombas mataram 15 pessoas e feriram 36 em Bagdá, poucas horas depois de Maliki ter feito seu pronunciamento.

- Outros Zarqawis vão surgir dentro em breve - afirmou Nadim Shehadi, do grupo de pesquisa Chatham House, da Grã-Bretanha. - A insurgência iraquiana conta com uma organização bastante etérea e não acho que a decapitação dela tenha algum impacto de peso.

Por outro lado, não há ninguém que, sabidamente, estaria apto a substituir Zarqawi e, com certeza, ninguém dotado do reconhecimento internacional de que o militante gozava.

Zarqawi planejou com cuidado sua ascensão até se transformar na maior autoridade operacional da Al-Qaeda, tendo se aliado a Bin Laden em 2004 e rebatizado o movimento Tawhid wal Jihad (Um Deus e Uma Guerra Santa), chefiado por ele, como o braço iraquiano da Al-Qaeda.

No ano passado, os EUA alimentaram especulações sobre um desentendimento entre as duas entidades após terem interceptado uma carta na qual o vice de Bin Laden, Ayman al-Zawahri, criticava algumas das táticas adotadas pela insurgência iraquiana, entre as quais a decapitação de reféns e os ataques contra civis xiitas.

Zawahri também se perguntava se Zarqawi, nascido na Jordânia, estaria disposto a passar a liderança da organização para um iraquiano.

Respondendo provavelmente a essa comunicação, Zarqawi parou de divulgar a imagem de decapitações e colocou seu grupo dentro da organização Conselho Mujahideen, liderado por um iraquiano.

Mas o futuro da estratégia da "guerra contra os xiitas em todo o Iraque" é uma das perguntas principais que surgem depois da morte dele.

- Interessa agora ver se alguém estará disposto a levar adiante essa estratégia polêmica de alimentar o embate entre sunitas e xiitas - afirmou Ranstorp. - Haverá outros dispostos a seguir essa linha, ou a morte dele é o fim dela?

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