| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O que você faria se descobrisse que pagou impostos ao governo durante anos e a quantia arrecadada foi gasta, em pouquíssimo tempo, com uísque, vodca, cachaça e animadas viagens de jovens que vão de uma cidade a outra para queimar pneus em vias públicas, pichar edifícios e defender ditaduras estrangeiras? Indignante, não é? Pois essa é exatamente a relação que cada contribuinte brasileiro tem com a União Nacional dos Estudantes (UNE), ao menos desde que o PT assumiu o poder, em 2003.

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É uma triste verdade, contudo, o fato de que tanto a fama de desordeira da UNE quanto a irresponsabilidade com o dinheiro público não são novidades no Brasil. Espantoso mesmo é como uma instituição tão explicitamente aparelhada pelo petismo e agregados, e tão beneficiada por repasses do governo federal, não foi devidamente investigada até hoje, quase três anos após o impeachment de Dilma Rousseff.

Tanto a fama de desordeira da UNE quanto a irresponsabilidade com o dinheiro público não são novidades no Brasil

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Desde 2011, o Tribunal de Contas da União (TCU) tornou pública sua suspeita sobre os convênios firmados entre UNE e governo federal, devido à quantidade de notas frias, com gastos expressivos identificados simplesmente como “despesas”. Em outros casos, segundo reportagens da época, não houve nem sequer o pudor em mascarar o uso inapropriado do dinheiro, admitindo-se espontaneamente a compra de bebidas alcoólicas e outros itens pouco condizentes com a missão expressa no estatuto da instituição, como a compra de búzios e velas.

A lista de irregularidades, é claro, não para por aí. Nunca foi devidamente explicado, por exemplo, como a entidade usou os R$ 30 milhões recebidos do ex-presidente Lula para a construção da nova sede da entidade no Rio de Janeiro, projeto que jamais ficou pronto. Nessa quantia, aliás, não são considerados os outros R$ 15,3 milhões recebidos do governo federal desde 2003 para a organização de “caravanas, atividades culturais e artísticas, shows, jogos, projetos, congressos e encontros de mulheres estudantes”, conforme revelado pelo site O Antagonista, em 2016.

Que outra entidade privada recebeu tanto dinheiro público, prestou contas de forma tão desleixada, levantou tantas suspeitas, sem nunca ter sido nem sequer investigada com um pouco mais de rigor?

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Há pelo menos quatro anos diferentes deputados tentaram instalar na Câmara uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar esses abundantes sinais de abuso. Nenhum obteve sucesso. Em parte, devido à força dos antigos mandantes do Planalto, mas também para atender ao interesse de partidos diretamente beneficiados pela escancarada militância político-partidária da entidade.

As eleições de outubro, no entanto, mudaram como nunca o cenário político, especialmente no Legislativo. Grupos que eram influentes havia poucos meses foram reduzidos pelos eleitores ao tamanho de nanicos, e aqueles que se esforçaram tanto para terem a imagem vinculada às gestões de Lula e Dilma foram os mais castigados pelas urnas.

Os motivos que levaram ao arquivamento das tentativas anteriores não valem mais, e os líderes dessa nova busca por justiça e verdade não são os mesmos. O esclarecimento de suspeitas e a punição de culpados são uma exigência social cada vez mais intensa e fazem parte de um processo transformador que não pode ser parado. A UNE precisa ser investigada.

Filipe Barros é deputado federal (PSL-PR).