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| Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

As ações do Banco Central do Brasil, ofertando dólar norte-americano para as instituições financeiras, garantindo a estabilidade da cotação e assegurando que tenham os recursos cambiais necessários para repassar aos investidores internacionais que estão de saída do país, não devem ser analisadas como um movimento isolado, inesperado ou imprevisível.

Até alguns meses atrás as economias mais avançadas tinham taxas básicas reais de juros negativas ou próximas a zero para os seus títulos públicos. Essas taxas foram consequência de uma política que os governos desses países encontraram como alternativa viável para aquecer a demanda agregada interna e colaborar na recuperação da crise que teve origem a partir de 2008.

Os investidores dos mercados desenvolvidos, a partir do começo da crise, passaram a buscar alternativas rentáveis para as suas aplicações de capital e de investimentos financeiros. Encontraram nos mercados emergentes um grupo de nações que estavam praticando taxas reais de juros elevadas. O Brasil estava neste grupo. A estabilidade cambial destes países, juntamente com os juros reais altos e o baixo risco, fez com que o capital fluísse das economias avançadas para os mercados emergentes.

O regime flutuante de câmbio é essencial e eficaz por admitir ajustes dinâmicos sobre a cotação, funcionando como um termômetro do processo

A avaliação necessária a ser realizada por estes investidores internacionais era a de analisar se este grupo de emergentes manteriam uma política persistente de juros reais elevados. Um procedimento adotado juntamente com outros de combate à inflação. O regime flutuante de câmbio é essencial e eficaz por admitir ajustes dinâmicos sobre a cotação, funcionando como um termômetro do processo. Uma política orientada para o objetivo de garantir um fluxo positivo de entrada de recursos cambiais internacionais para o país é imprescindível, pois o juro elevado garante a valorização das moedas destes emergentes em relação às nações ricas, e o resultado da apreciação pode ameaçar reduzir as exportações destes países. Os recursos financeiros externos poderiam eventualmente ser utilizados para equilibrar os prováveis resultados negativos das transações correntes nos balanços de pagamentos.

As nações em crescimento, ao estabelecer estas ações e políticas, de forma intencional ou não, atuaram como agentes importantes na movimentação do fluxo de capital mundial em um período de ajustes e de crise nos países ricos.

A recomendação acadêmica para as políticas econômicas é de que estas ações sejam sempre instrumentos de curta duração. A política econômica não deve ser contínua ou persistente. As consequências da persistência em manter as taxas de juros básicas elevadas por muito tempo têm efeitos recessivos. Estas causam impactos e efeitos negativos contínuos sobre o crescimento econômico, desemprego e na política de gestão dos gastos públicos destes países, entre outros aspectos.

Leia também: O conceito de bem-estar (artigo de Carlos Rodolfo Schneider, publicado em 18 de junho de 2018)

Opinião da Gazeta: Inflação, juros e crescimento (editorial de 25 de junho de 2018)

Quando foi iniciado os aumentos nos rendimentos dos títulos dos EUA iniciou-se, também, o processo dinâmico de depreciações das moedas nos países mais pobres. O fluxo de retorno do capital estrangeiro começou. Este fluxo causa desequilíbrios de curto prazo, gerados pelo aumento da demanda por câmbio – valorizando a moeda dos mais ricos – e produzem as oscilações que são o resultado dos movimentos diários de oferta e demanda nas cotações cambiais entre as moedas envolvidas. No Brasil, este processo encontrou o governo reduzindo as taxas básicas de juros. Redução na valorização internacional da moeda do país. Os ambientes internos e externos, no caso brasileiro, começaram a exigir ajustes sobre a cotação cambial e com tendência à desvalorização da moeda doméstica.

A economia encontra-se em movimento. Temos um cenário bem diferente do anterior. Neste ambiente, a política cambial coordenada pelos bancos centrais dos países emergentes, age de forma a buscar constantemente a estabilidade da cotação da moeda, evita a inflação causada pelos efeitos cambiais, e proporciona uma gestão adequada para o fluxo de saída do capital estrangeiro no curto prazo. Os bancos centrais oferecem dólares para atender a demanda causada pela saída das aplicações dos investidores internacionais e evitar a desvalorização repentina da moeda doméstica. É uma medida de política econômica macro prudencial. Esta operação concede significativo apoio ao mercado financeiro doméstico, neutralizando o risco de formação de expectativas negativas. Busca-se, também, garantir a boa qualidade de risco do país emergente. Países que não possuem reservas cambiais podem ser auxiliados, neste momento, por instituições como o Fundo monetário Internacional (FMI).

Existem outros riscos que não são gerenciáveis pelo governo de um país emergente. As nações mais pobres possuem, na percepção dos investidores internacionais, o risco dos efeitos regionais de contágio. Eles podem espalhar-se através de ligações financeiras e comerciais entre estes países. Existem ainda outras incertezas estruturais, incluindo eleitorais.

A perda social pode ser geral e enorme, podendo comprometer a busca pelo desenvolvimento de uma nação no longo prazo

O conjunto de instrumentos que os governos dispõem para alcançar os objetivos econômicos de estabilidade nos preços e de gestão sobre questões como os gastos do governo é elevado. Uma vez tomada a medida ocorrem limites na eficiência de cada uma delas. São limitações causadas pela dinâmica dos agentes da sociedade e a eficiência das medidas no tempo. Quando perdem ou reduzem a eficiência, as políticas podem receber o reforço e a ajuda de novos procedimentos intervencionistas, cada vez mais invasivo das autoridades governamentais. Esta é uma ação que os agentes que formam a base institucional de um país, e que têm um papel a desempenhar, devem perceber.

As políticas econômicas estão em movimento. Estes movimentos podem novamente não beneficiar o crescimento ou o desenvolvimento de um país. Este processo não é um jogo em que o juiz pode favorecer apenas um time. A perda social pode ser geral e enorme, podendo comprometer a busca pelo desenvolvimento de uma nação no longo prazo.

Agostinho Pascalicchio é doutor em Ciências pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, mestre em Teoria Econômica pela University of Illinois e professor universitário nas áreas de Economia, Engenharia Econômica na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Responsável pela avaliação financeira de projetos na Comunidade Europeia.
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