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A escola da primeira infância e o despertar pela “desmuralização” da vida
| Foto: Unsplash

A cada minuto, nascem no mundo 270 novas vidas. Este é um dado da Organização Mundial de Saúde (OMS). E, segundo estimativa do mesmo órgão, o Planeta Terra já abriga oito bilhões de pessoas. No Brasil, a população é de cerca de 210 milhões de habitantes e, somente no primeiro semestre de 2022, o número de registros de nascimento foi de 1,5 milhão, conforme aponta a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen).

O aumento populacional acontece em especial nas grandes cidades. E essa centralização populacional no espaço urbano exige que a moradia das famílias seja, a cada dia, mais verticalizada e em espaços que, não raros, quase não ultrapassem oitenta metros quadrados. No Brasil, por exemplo, o número de apartamentos cresceu 321% desde 1984 segundo a PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Proporcionar aulas de campo com regularidade permite que as crianças possam ampliar sua visão de mundo e principalmente das relações que as cercam.

Deste modo, pode-se pensar que a relação destas novas vidas e os espaços que ocupam está cada vez mais insólita, principalmente quando pensamos em lugares ao ar livre. E é justamente neste ponto que se necessita refletir: em que tipo de ambiente as crianças vivem suas infâncias? E qual o papel da escola nesta tendência alienada de crescer dentro de blocos de concreto?

Mais do que metodologias tecnológicas de ponta ou escola projetadas de última geração, é hora de voltar os olhos para uma escola que seja, sobretudo, mais livre, capaz de colocar essa criança para fora dos ambientes fechados e tradicionais. Mas acredito que, fundamentalmente, não se trata de voltar essa procura pelo espaço propriamente físico do ambiente. Se, por exemplo, uma instituição de ensino decide ter uma estrutura com dezenas de metros quadrados voltados para a natureza, não significa necessariamente que a criança passará mais ou menos tempo em contato com o meio ambiente. Mais importante do que contar hectares, é compreender como a escola ensina.

O planejamento pedagógico, documento fundamental na rotina escolar, somente tem sentido, se feito com a participação de professores, equipe pedagógica e comunidade, e que possibilita mais controle por parte da instituição sobre as atividades realizadas no ano letivo. Deve-se compreender então como são elaboradas as propostas desenvolvidas no decorrer deste período. Como viabilizar um trabalho que tenha como prioridade defender a identidade do grupo e encontrar maneiras para que tanto o professor quanto a equipe planejem e proporcionem o aprendizado mais longe das carteiras tradicionais e registros monótonos dentro de sala de aula, ou mesmo dentro dos limites físicos da instituição de ensino.

Proporcionar aulas de campo com regularidade permite que, além de conhecer sua cidade, as crianças possam ampliar sua visão de mundo e principalmente das relações que as cercam. São absolutamente infinitas as possibilidades do que se pode aprender dentro de um museu, por exemplo, ou mesmo em uma fazenda urbana.

Portanto, ao definirem que tipo de educação se almeja a uma criança, o responsável necessita entender os métodos de ensino de uma instituição e trocar perguntas como: “qual tamanho do parque que a escola tem?” por “quais tipos de propostas pedagógicas os professores desenvolvem com seu grupo quando estão dentro do parque?”. Ou, ainda, ao invés de questionar quantos recursos a sala multimídia está equipada, priorizar entender quais recursos tecnológicos são utilizados pelo professor e como são inseridos de acordo com a faixa etária da criança.

Numa sociedade puramente capitalista, não se pode atribuir culpa a ninguém quando os desejos de pais, mães ou responsáveis para um filho estejam essencialmente voltados para o “ter”. Mas acredito que é hora de pensar mais no “ser”. Importante seria que os adultos olhassem para as crianças e deixassem de perguntar, por exemplo, “o que eles desejam ser quando crescerem” e sim questionar “se elas querem ser felizes hoje?”.

O adulto que opta por ser pai e mãe necessita ter a ambição de que a criança viva uma infância focada em seu empoderamento e no desenvolvimento da habilidade de aprimoramento da autoestima. Esta certamente é uma base importante para que ela evolua em sua vida acadêmica e social, e continue sempre na busca de uma vida “desmuralizada”.

Carolina Paschoal é pedagoga e diretora da Escola Pedro Apóstolo.

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