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Desde o surgimento dos movimentos pelos direitos dos homossexuais, as igrejas vêm tendo dificuldade para responder com caridade e honestidade aos seus membros gays. Muitas igrejas promoveram "curas" semiterapêuticas, ou prometeram disciplinas espirituais para criar "ex-gays". No ano passado, Exodus International, a maior organização de "ex-gays" do mundo, fechou as portas, e seu fundador se desculpou pelas falsas promessas que o grupo tinha oferecido.

As discussões do Sínodo dos Bispos mostram que os líderes católicos estão se esforçando para valorizar os dons que os gays podem oferecer ao povo de Deus sem isentar ninguém do caminho árduo da moral sexual cristã. Gays como eu não vão deixar a Igreja, mas precisamos do Evangelho em sua totalidade, incluindo sua ética sexual, tanto quanto qualquer outro cristão. Que tipo de futuro a Igreja pode nos oferecer?

Quando me tornei católica, em 1998, não conhecia nenhum outro gay que estivesse tentando viver de acordo com a visão católica da sexualidade para me orientar. Mesmo assim, segui em frente porque eu ansiava pela Eucaristia. Se eu confiava que a Igreja estava me dando o corpo e o sangue de Cristo, achei que podia confiar a ela minha vida moral. A Igreja Católica era o lugar que eu sabia ser minha casa. Mas sabemos bem que nossa casa não é necessariamente o lugar mais fácil para se viver.

Cometi muitos erros em minha vida espiritual, e um dos maiores foi a maneira de ver minha tarefa como uma católica lésbica. Pensei que eu deveria, basicamente, fazer duas coisas: trabalhar intelectualmente para entender a teologia por trás da moral sexual católica; e não namorar garotas.

A parte intelectual vai bem, mas ainda hoje não creio que entenda muito bem o ensinamento católico, e não sei se um dia entenderei. Compreendo que a Bíblia oferece modelos tanto de amor entre sexos opostos quanto entre pessoas do mesmo sexo, mas apresenta aquelas no contexto do casamento e estas no contexto da amizade. Continuo a confiar na sabedoria histórica que tem guiado a Igreja apesar dos crimes e erros de alguns de seus líderes. Mas meu forte não é a teologia. Focar na tarefa abstrata de entender as necessariamente inadequadas explicações da doutrina católica me distraem da tarefa mais importante, que é viver essa doutrina.

E, por mais que eu tenha conseguido não namorar meninas, essa é uma tarefa puramente negativa, um "não farás". Não é a base de uma vida frutuosa. É frustrante quando os líderes da Igreja gastam todo o tempo falando sobre o que os gays não podem fazer, e por que não podem fazer. Eles estão cometendo o mesmo engano que cometi. Estão ignorando a questão mais importante na vida dos gays, como na vida de qualquer cristão: como Deus me chama a amar?

Deus chama cada um de nós a gastar nossas vidas em amor devotado: aos outros, e diretamente ao próprio Deus. É um grande erro pensar que o casamento, a paternidade e o sacerdócio são os únicos modos de fazê-lo. Jesus disse que "ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos". Nestes dias alguns esperariam que Ele dissesse "por seu cônjuge" ou "por seus filhos" – mas a amizade, o serviço à família e aos necessitados são formas de amor que o próprio Cristo viveu e exaltou. Como seria nossa vida se as levássemos mais a sério? Como nossas comunidades podem honrar uma amizade profunda? Como podemos honrar aqueles que cuidam da família, ou que servem os pobres?

Meu livro explora algumas dessas vocações abertas para os católicos gays, e desafia nossas paróquias a honrar essas vocações. Há outras de que não tratei, como a arte, o ensino ou parcerias celibatárias. Mas o primeiro passo e fazer a pergunta certa – e ela não é "por que gays não podem se casar na Igreja?", e sim "como os gays podem amar em Cristo?"

Eve Tushnet, escritora e blogueira, é autora de Gay and Catholic – Accepting My Sexuality, Finding Community, Living My Faith. Tradução: Marcio Antonio Campos

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