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Quem vai às igrejas católicas neste domingo, ou acompanha de algum modo os textos bíblicos reservados para este dia, provavelmente atinará para uma frase que se repete por três vezes: “A Paz esteja convosco”. Por outro lado, se observarmos os fatos que se tornaram notícia nestes últimos meses, dentro e fora do nosso país, seria muito fácil constatar que vivemos em um tempo carente de paz. Mas a constatação poderia se aprofundar, agora sem as manchetes. Bem fácil é ver grupos, famílias e até indivíduos imersos em conflitos consigo mesmos. Falta a paz. E quantos sofrimentos!!

Tentemos compreender o sentido da saudação do Ressuscitado àqueles discípulos atemorizados, sem paz. Como já mencionado, por três vezes em uns poucos versículos (Jo 20, 19-31) soa forte a saudação de paz. Seria desatenção do evangelista redator ou uma particular intenção? Na primeira vez que ressoou a mensagem, os discípulos estavam em um lugar com “as portas fechadas por medo dos judeus” (Jo 20,19). O medo denotava um quadro de desamparo em meio a uma situação hostil. Estavam sem paz.

Por uma segunda vez o Senhor Ressuscitado repetiu a saudação. Agora não é o medo a prevalecer. “Os discípulos, então, ficaram cheios de alegria por verem o Senhor” (Jo 20, 20). Porém, desta vez, além da alegria dos discípulos, outro importante elemento aparece: “Eu também vos envio” (Jo 20, 21). A paz oferecida é acompanhada de um desígnio de missão. A primeira pretendia libertá-los do medo, assegurando a eles a sua vitória sobre o mal e a morte. Agora a paz está associada à missão.

Individualismo, fechamento, subjetivismo tiram a paz, empobrecem os relacionamentos

Uma terceira vez, quase como um estribilho, o evangelista João inseriu a mesma frase. Neste caso, ela introduziu um diálogo entre o Senhor Ressuscitado e Tomé, o discípulo a quem faltava “crer” (Jo 19, 27). Mas não era apenas esta a dificuldade que o deixava sem paz. No primeiro encontro entre o Cristo Ressuscitado e os discípulos, ele, Tomé, não estava com eles (Jo 20, 24). Eis aí o risco para a falta de paz, e também falta de fé. Tomé se distanciara do grupo, da comunidade, dos irmãos. Para a linguagem do nosso tempo, poderíamos falar de individualismo, de fechamento, de subjetivismo. São atitudes que tiram a paz, que empobrecem os relacionamentos.

Pois bem, quais os caminhos de paz que a palavra do evangelho propõe aos que hoje querem crer, inspirados em Jo 20, 19-31, o texto hoje proclamado nas nossas igrejas? Os comportamentos dos discípulos oferecem preciosas sugestões. No primeiro caso, os discípulos tinham “medo”. Eis sua grande ameaça à paz. Não se tratava de um temor psicológico. Eles viviam em um ambiente hostil. A hostilidade não cessou. Mas a paz veio quando os discípulos tiveram o Senhor em seu meio. Foi isso que lhes proporcionou o encontro com seu Senhor.

Outro aspecto importante para nobres experiências de pacificação pode-se vislumbrar na segunda recorrência dos mesmos votos de paz. “A paz esteja convosco... Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio...”. Aqui se pode falar de um sentido para a vida. Quem se reconhece enviado a fazer o bem, motivado por sadios encontros com o Senhor, será capaz de pronunciar palavras reconciliadoras e assumir comportamentos pacificadores.

Dom José Antonio Peruzzo é arcebispo de Curitiba.
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