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A evolução dos preços no Brasil, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 2,08% no primeiro semestre de 2007, bastante acima daquela verificada em idêntico período de 2006 (1,54%). Em um ano, o incremento foi de 3,69%, superior aos 3,18% verificados entre julho de 2005 e junho de 2006.

Lembre-se de que o IPCA, pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a variação dos preços de uma cesta de produtos consumidos por famílias que auferem rendimentos entre um e quarenta salários mínimos (SM), representa o cerne da política econômica do país, centrada na busca do cumprimento de metas de inflação, fixadas em 4,5% ao ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), para o triênio 2007-2009, com banda de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o CMN visa o delineamento das expectativas dos agentes e acomodar choques de oferta e/ou o surgimento de fatores acidentais.

O IPCA foi impulsionado por alimentos e bebidas (3,93%), variação três vezes maior que a registrada em todo o exercício de 2006, que foram afetados pelas chuvas do começo do ano e pela subida de 24,92% do preço do leite (3,4% em 2006), em decorrência da conjugação entre o período de entressafra (com inverno seco e diminuição do pasto e da alimentação do gado) e o aumento da demanda e dos preços externos, em conseqüência das quebras de produção acontecidas na Austrália e Nova Zelândia, atestando a ocorrência de uma espécie de globalização da inflação. Em compensação, os preços dos combustíveis recuaram, em razão da queda do álcool com a entrada da safra de cana de açúcar.

Não fosse a sobrevalorização do real, ladeando a depreciação global do dólar, a ascensão inflacionária acoplada aos alimentos seria ainda maior. Aliás, o câmbio apreciado permanece representando o principal fator explicativo da convergência entre o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) e o Índice de Preços no Atacado (IPA), apurados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que experimentaram incrementos de 1,46% e 0,69%, respectivamente, nos primeiros seis meses de 2007, e de 3,89% e 3,75%, respectivamente, em um ano encerrado em junho de 2007.

Em marcha semelhante, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IIGP-DI), mensurado pela FGV, situou-se em 1,44% no primeiro semestre e em 3,96% em doze meses. Cabe frisar que a diferença fundamental entre o IGP-M e o IGP-DI repousa na periodicidade de coleta dos preços: dos dias 21 a 20 do mês seguinte para o primeiro e de 1 a 30 (31) para o segundo.

A intensificação da concorrência e dos desdobramentos deflacionários exercidos pelos bens importados pode ser comprovada pela abertura de flancos para a realização de compras externas tanto de bens de investimento quanto de consumo, particularmente aqueles "made in China". No entanto, a influência do atraso cambial sobre os preços internos poderá perder fôlego, a partir da internalização da trajetória ascendente das cotações das commodities, em paralelo à adoção de posturas de recomposição de margens, principalmente por parte das empresas do segmento de serviços, em ambiente de expansão da demanda doméstica e dos salários reais.

Especificamente da área energética, devem emergir pressões exógenas nada desprezíveis, advindas do equilíbrio na equação entre oferta e demanda de petróleo, em face da ampliação do consumo, da diminuição da produção no Mar do Norte e do retardo na execução de grandes empreendimentos de exploração. Não por acaso, os preços do barril do óleo encontram-se acima de US$ 70,0, pouco inferiores aos recordes atingidos em 2006.

Em sentido análogo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), levantado para aferir a variação do custo de vida da população com rendimento entre um e oito SM, aumentou 2,20% nos primeiros seis meses de 2007 e 3,07% nos últimos doze meses.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UNIFAE – Centro Universitário Franciscano do Paraná – FAE Business School.

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