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Geralmente, quando se pensa em relações internacionais, ou mesmo em diplomacia, a primeira imagem que surge à mente é, compreensivelmente, a relação entre Estados. Esta visão não decorre do acaso. Por muito tempo, as pautas centrais da cena internacional refletiam apenas os interesses dos Estados, normalmente dos mais poderosos, e as relações internacionais equivaliam, erroneamente, às relações estatais.

Esta visão esquece parte importante da história. Basta lembrar a centralidade que cidades como Atenas, Esparta, Tânger, Tebas, Veneza e outras tiveram na política internacional ao longo do tempo. Portanto, já há bastante tempo as cidades são atores importantes nas relações internacionais. Foi somente com o processo de formação dos Estados modernos que os mesmos passaram a ser a face mais visível da realidade internacional; a diplomacia, intimamente associada às relações entre Estados; e a prática da mesma, um monopólio de diplomatas.

Desde o fim da Guerra Fria, este panorama vem se alterando drasticamente. Não somente outros atores ganharam mais visibilidade e relevância no cenário internacional como também a própria ideia da diplomacia enquanto exclusividade dos ministérios de Relações Exteriores dos Estados vem sendo alterada. É neste contexto que surge o termo paradiplomacia, buscando precisamente dar conta das ações de atores subestatais dentro do cenário internacional.

As cidades têm um enorme potencial como atores da política internacional

Este é o caso, por exemplo, das cidades. A participação das mesmas na cena internacional pode ter um escopo bastante alargado. A parte mais visível dessa ação talvez seja a promoção da mesma enquanto local turístico ou atuando como sede de importantes eventos internacionais esportivos, literários, musicais e cinematográficos, dentre outros. Contudo, esta é uma visão, apesar de acertada, limitada.

Não é raro que as cidades, por exemplo, se engajem em missões comerciais internacionais buscando atrair investimentos, ou em projetos de cooperação transfronteiriça na área da saúde ou da educação. As mesmas participam de redes regionais, como no caso do Mercociudades, e de processos de integração regional, atuando em organizações intergovernamentais, como no caso do Mercosul, por meio do seu Fórum Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos. Percebe-se, também, as cidades assinando acordos internacionais e inclusive assumindo metas globais, como por exemplo de redução da emissão de gás carbônico, até mais ousadas que seus próprios Estados. Portanto, as cidades têm um enorme potencial como atores da política internacional e isso impacta diretamente a vida das pessoas que nelas vivem. Consequentemente, cria-se uma importante esfera de atuação por parte das prefeituras.

Entretanto, o posicionamento estratégico de uma cidade na política internacional raramente é uma pauta de discussão nas eleições municipais no Brasil, ou mesmo elemento de cobrança por parte do eleitorado. Algumas prefeituras chegam a criar secretarias de Relações Internacionais, mas são raras as que efetivamente funcionam como reais instrumentos de projeção internacional das suas cidades e de atração dos mais variados recursos externos. Resta saber quando as cidades brasileiras acordarão e terão a projeção internacional no horizonte.

Ramon Blanco, doutor em Relações Internacionais, é professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
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