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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A partir de 2004, os governos do PT ampliaram vagas em universidades públicas, com implantação de cotas, e financiamentos para as universidades privadas. Foi uma forma de compensar as fragilidades da educação de base na escola pública, que dificultava acesso ao ensino superior. Em vez de fazer transformações necessárias para oferecer escola de qualidade para todos, os governos optaram por facilitar o ingresso na universidade – uma espécie de “neoliberalismosocial”, atendendo individualmente as pessoas, no lugar de reformas estruturais que atendam a todos.

O número de alunos no ensino superior subiu de 3.887.022 em 2003 para 8.048.701 em 2016. O sucesso foi maior graças às cotas que permitiram ampliar o número negros em universidades quase totalmente brancas. O “neoliberalismosocial” no ensino superior não resolveu os problemas da má qualidade e imensa desigualdade como a educação de base é oferecida. Promover pessoas no lugar de fazer a revolução não deixou resultados esperados.

O número de adultos analfabetos continua praticamente o mesmo há 20 anos

A fábrica da desigualdade educacional continuou com a mesma fragilidade do sistema municipal da escola pública. O número de adultos analfabetos continua praticamente o mesmo há 20 anos. São produtos da fábrica de analfabetismo, que produz anualmente jovens de 15 anos sem saber ler nem a bandeira brasileira. A perversa fábrica de deseducação impede os resultados da política “neoliberalsocial”.

O mesmo ocorre agora, com parte da política anticrime apresentada pelo novo governo. Utiliza o método “neoliberalsocial” dos governos do PT: atacar os problemas pelos indivíduos, no lugar de fechar a fábrica do problema. Antes, os governos colocaram alguns jovens na universidade, agora vão colocar alguns jovens criminosos na cadeia.

A política anticrime de Bolsonaro, mesmo que venha a ter o êxito de aumentar cadeias, fracassará por não parar a fábrica de crimes de uma sociedade perversa em suas características; da mesma maneira que o êxito petista ao aumentar o número de alunos no ensino superior não impediu que o Brasil continuasse fabricando deseducados. As prioridades dos dois governos são diferentes, os métodos o mesmo: o “neoliberalismosocial”.

Leia também: A desigualdade é humana e tem cura (artigo de Clemente Ganz Lúcio, publicado em 27 de fevereiro de 2019)

Leia também: Educação é outra história (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 2 de agosto de 2018)

O Brasil não mudará enquanto não entendermos que o uso de paliativos não reduz o problema; enquanto não virmos que os problemas, universidades ou cadeias, têm origem no mesmo lugar: a educação de base. A chance para o país ter baixa criminalidade está na garantia de escola de qualidade com oportunidades para todos.

Há 40 anos, Darcy Ribeiro dizia que ou fazemos mais boas escolas ou vamos continuar fazendo mais prisões ruins. De lá para cá tivemos governos de direita, de esquerda, outra vez de direita e o remédio continua o mesmo: mais cadeias para prender adultos violentos, que não colocamos na escola quando crianças, e mais facilidades para ingresso em universidades sem qualidade, no lugar de mais rigor para formar todos nossos alunos no ensino médio.

Cristovam Buarque é ex-senador e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
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