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O salto do mercado imobiliário chinês permitiu à Evergrande voos altos, mas a empresa se endividou.
O salto do mercado imobiliário chinês permitiu à Evergrande voos altos, mas a empresa se endividou.| Foto: Divulgação/Evergrande

O dia 20 de setembro de 2021 ficou marcado pela notícia de uma construtora chinesa que pode dar o calote em pagamentos de US$ 83,5 bilhões em juros na próxima quinta-feira, dia 23, e outros US$ 47,5 bilhões que irão vencer no dia 29. A construtora é a Evergrande, empresa chinesa desconhecida de boa parte do mundo ocidental. Ela é a incorporadora imobiliária mais endividada do mundo, com débitos de US$ 300 bilhões. Caso ocorra sua falência, os efeitos gerarão riscos de falência para outros setores como os bancos, afetando investidores e compradores de imóveis.

A Evergrande é uma empresa que cresceu muito e de forma desorganizada. Seu crescimento preocupa o governo chinês e todo o mundo econômico, por conta dos riscos da falência. A liquidez da empresa está piorando há meses, tanto que, nesta semana, a agência de classificação Fitch já considera o calote como provável. São passivos de US$ 300 bilhões, quase 800 projetos na China inacabados, cerca de 1,2 milhão de pessoas aguardando a entrega das unidades, e fornecedores cobrando as dívidas.

Para entender um pouco mais o buraco em que a companhia se meteu, é bom olhar sua origem. A empresa foi fundada em 1996, mesmo período do “boom imobiliário” na China, devido à urbanização do país. As famílias gastavam 75% da renda em habitação e o Estado apoiava o setor imobiliário para um crescimento econômico acelerado. O fundador da Evergrande, o bilionário Xu Jiayin, soube aproveitar o momento e as oportunidades, expandindo a empresa e tomando mais empréstimos. A empresa, além da incorporação imobiliária, vendia garrafas de água mineral, controlava o melhor time de futebol do país, criava porcos e pretendia produzir veículos elétricos.

Contundo, nos últimos anos a corporação vem enfrentando várias ações judiciais de compradores de imóveis que ainda não receberam o que compraram. Esses atrasos nas entregas começaram porque os reguladores chineses passaram a restringir os “hábitos imprudentes” de empréstimos das incorporadoras imobiliárias. Além disso, o mercado imobiliário da China está desacelerando; mesmo com uma redução nos preços dos apartamentos, a Evergrande realizou 25% a menos de vendas do que no mesmo período no ano passado.

Os reguladores chineses incentivaram o mercado imobiliário a crescer; depois, com medo do tamanho da empresa, passaram a restringir os tais “hábitos imprudentes”. Agora, com o “pilar” da Evergrande caindo, vão precisar socorrer a empresa. Muitos investidores emprestaram dinheiro para empresa com a expectativa de que Pequim sempre interviria para resgatá-la se as coisas ficassem muito instáveis.

O mercado já está caindo com os pilares da Evergrande. Vamos aguardar para saber o que deve ficar ficar em pé.

A situação da Evergrande é um exemplo de como a regulação econômica é prejudicial e disfuncional. O Estado chinês criou um monstro que pode e, provavelmente, vai atacar o próprio criador. A crise da Evergrande vai afetar os mercados financeiros globais e tornar mais difícil para outras empresas chinesas continuarem a financiar seus negócios com investimento estrangeiro. Com isso, vamos ter escassez de crédito não só para as empresas chinesas, mas para toda a economia, à medida que as instituições financeiras se tornam mais avessas ao risco.

O dia 20 de setembro foi feriado na China, e o mercado já está caindo com os pilares da Evergrande. Vamos aguardar para saber o que deve ficar ficar em pé.

Murillo Torelli Pinto é professor de Contabilidade Financeira e Tributária da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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