| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
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O setor de transporte de cargas sofreu uma forte colisão com a pandemia da Covid-19. Com os negócios em ascensão até o primeiro bimestre de 2020, empresários que atuam no setor estão se vendo em cenário bastante crítico e com dificuldades de obter apoio governamental para salvar seus negócios. De maneira prática isso significa que as ações anunciadas pelos governos (federal, estaduais e municipais) para apoiar o setor, durante a crise que se instalou, ainda não chegaram às empresas e não representaram o socorro emergencial necessário.

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A terceira rodada da Pesquisa de Impacto no Transporte - Covid-19, da Confederação Nacional do Transporte (CNT) realizada na primeira quinzena de junho com empreendedores do setor em todo o Brasil – incluindo o estado do Paraná, mostra que 80% dos transportadores tiveram redução de demanda em maio, sendo que 64% dos entrevistados apresentaram queda no faturamento no mesmo mês. Outros 74% estimam um cenário negativo nos próximos quatro meses.

No Paraná o cenário é bastante similar. O setor de transporte de cargas é fatia significativa de 6% do PIB Estadual, formado por mais de 20 mil empresas, as quais juntas, empregam mais de 200 mil pessoas. Ou seja, é um bolo bastante expressivo da economia.

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Porém, os empresários também reclamam da dificuldade em ter acesso ao crédito que possa dar fôlego aos seus negócios neste período de pandemia. Eles engrossam o coro, apurado pela pesquisa da CNT em todo o Brasil, que mostra que 34% dos empreendedores do setor estão com a capacidade de pagamento muito comprometida e que outros 42% já recorreram a crédito desde o início da pandemia e, pasmem: 44,8% desses, tiveram a solicitação de crédito para capital de giro negada.

Analisando esses números e conversando com muitos desses empresários, chega-se à conclusão de que existe algo errado neste contexto. Os discursos dos governos – de todas as esferas - é de que o emprego precisa ser mantido. Algo que parece óbvio para uma nação que deseja retomar suas atividades. Mas, para se ter a população economicamente ativa, empregada é necessário, antes de mais nada salvar os negócios. E isso não está acontecendo. Discurso e prática estão divergindo.

Segundo o mesmo empresariado, com a negativa nos pedidos de crédito, as empresas se viram obrigadas a lançar mão de medidas de ajuste nas relações de trabalho – previstas na Medida Provisória 936. Sendo assim, 45,6% delas já adotaram a suspensão temporária do contrato de trabalho, outros 42,2% aplicou redução proporcional de carga horária e salários e 38% afirmam que, infelizmente, já efetuaram demissões.

A crítica aqui é: se tem crédito, o governo, principalmente o Federal, precisa ser mais ágil. Há recursos, porém grande parte represado. O que falta neste sentido é uma operacionalização adequada de pessoas técnicas que possam se dedicar a fazer com que o crédito chegue as mãos sem burocracia, de maneira que o dinheiro público seja protegido, mas que efetivamente circule para um bem maior. Somente editar medidas provisórias ou sancionar leis não atende. É preciso fazer valer – é preciso vislumbrar resultados dos atos.

As instituições financeiras também têm uma grande parte de responsabilidade neste cenário. Elas estão trabalhando ainda no modo "2019", onde a exigência para se conseguir o crédito hoje sãos as mesmas para cenários onde a economia nem imaginava um vírus pandêmico. E, de quebra ainda, algumas praticam juros exorbitantes. Tudo o que for acima de 1% ao mês é algo fora da realidade. Para quem está do lado de cá no balcão, o empresário, parece até que falta vontade e empenho em disponibilizar esse capital.

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Essas instituições precisam rever com rapidez essas exigências e traçar um plano emergencial efetivo – ou seja, uma proposta para atender o agora – algo que não vai perdurar para sempre. Desta forma todos ganham, inclusive elas mesmas.

É verdade, porém, que muitas dizem que o risco é altíssimo para se liberar o crédito por não se ter um cenário definido lá na frente. Sabe-se também que para isso elas dependem de ordens do próprio governo para poder oferecer taxas mais maleáveis. Logo, também cabe a elas propor alternativas ao governo, mostrando que os gargalos não estão permitindo o recurso chegar a ponta. E, cá para nós, o ente governamental, neste momento, nem deveria de pensar em cobrar juros. Deveria estar preocupado mesmo é em salvar empresas e empregos. Isso sim é fazer um bom colchão de investimentos para o futuro. A demora em dar uma resposta está sufocando muitos empresários.

Contudo, é importante frisar que ninguém está pedindo nada de graça. O que se exige é que o dinheiro proveniente de impostos pagos pelas empresas e pela sociedade possa retornar em forma de benefícios aos contribuintes neste momento de pandemia. É valor disponibilizado que será pago por elas no futuro. São linhas de crédito que, além de salvar empresas, também vão contribuir para que a economia de milhares de famílias brasileiras não sofra ainda mais com o desemprego em um setor tão estratégico para todo o país.

Coronel Sérgio Malucelli é presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná e do Conselho Estadual do Sest Senat no Paraná