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Entendendo ética e sua importância na vida de cada um
| Foto: Unsplash

Falar sobre ética é quase sempre seguir por um caminho tortuoso. Enquanto para muitas pessoas pode ser algo importante a ser discutido, para outras é algo interno, que não se discute e apenas se vive. Em qualquer um desses casos, entender o que é ética e o agir ético nos ajuda a tomar decisões informadas e justas. O trabalho da ética é justamente examinar questões fundamentais para uma sociedade e buscar entender os caminhos lógicos e mais justos para cada escolha. Agir de forma ética pode ser compreendido como estar alinhado aos princípios centrais da sociedade e do contexto em que vivemos. Significa ainda agir de maneira responsável, considerando como nossas ações vão impactar outras pessoas e o mundo ao nosso redor.

Segundo o Cambridge Dictionary, ética significa o estudo do que é moralmente certo e errado, ou um conjunto de crenças sobre o que é moralmente certo e errado. Trata-se de uma área da filosofia que estuda a moralidade e as escolhas que fazemos como indivíduos e também como sociedade. Está preocupada com questões sobre o que é certo ou errado, bom ou mau, justo ou injusto em nossas ações, valores e relacionamentos. O que a ética busca é entender as características lógicas em cada decisão e tenta tecer mecanismos para ajudar as pessoas nesse processo. Nenhuma pessoa age de maneira 100% ética, e seria bastante difícil desenvolver esse tipo de comportamento. Contudo, o importante é que busquemos ter ações cada vez mais alinhadas a esse ideal. Atualmente, alguns estudos mostram que, em geral, as pessoas acreditam serem mais éticas do que realmente são.

Qualquer relação pressupõe algum nível de compreensão ética, desde as relações pessoais até as decisões empresariais e escolhas de consumo.

Em um experimento da Northeastern University, algumas pessoas precisam executar dois trabalhos: um deles é longo e trabalhoso, enquanto o outro é rápido e divertido. Os sujeitos da pesquisa precisam jogar uma moeda para decidir no “cara ou coroa” quem deve fazer cada tarefa — essa parte é feita em um espaço privado, sem que ninguém os observe, mas eles não sabem que existem câmeras no local. Como resultado, apenas 10% das pessoas cumpriram o requisito de forma honesta.

Existem muitas teorias éticas que oferecem perspectivas sobre como devemos agir em uma determinada situação. Algumas enfatizam a importância de seguir regras e normas, enquanto outras se concentram em alcançar bons resultados ou em desenvolver virtudes de relacionamento, ou pessoais. Nesse sentido, podemos entender também que o contexto e a compreensão que uma sociedade tem sobre si mesma pode impactar a sua noção de ética. Por exemplo, o desenvolvimento da internet teve um grande impacto em nossos debates sobre ética. Existe agora um novo universo online, com suas próprias regras e normas, e é importante entender como podemos nos portar nesse cenário. A ética é, portanto, uma disciplina que está em constante desenvolvimento e evolução, e adquire novos contornos na medida em que novas questões, desafios e situações surgem na sociedade.

O mais importante é buscar agir de forma responsável, respeitosa, justa, honesta e empática em relação aos outros e ao mundo ao nosso redor.

Embora os termos "ética" e "moral" sejam frequentemente usados como sinônimos, eles se referem a questões diferentes. A moralidade é um conjunto de valores, costumes e crenças que uma pessoa ou sociedade considera adequados, ou inapropriados. A moral é geralmente baseada em crenças culturais, religiosas ou pessoais, e pode variar amplamente entre diferentes grupos e indivíduos. Por exemplo, uma pessoa ou sociedade pode considerar a honestidade, a justiça, a lealdade, a compaixão e o respeito pelos outros como comportamentos moralmente corretos.

Por outro lado, a ética é uma reflexão filosófica sobre a moralidade. Ela se preocupa em investigar e avaliar as bases lógicas e racionais da moral, bem como suas implicações práticas para as decisões que tomamos em nossas vidas. A ética busca esclarecer o que é moralmente correto e o que é moralmente errado, a partir de uma análise crítica e reflexiva. Em resumo, enquanto a moralidade é a prática das normas e valores que uma pessoa ou sociedade considera adequados, a ética é a reflexão crítica sobre esses valores e normas, a fim de avaliar sua adequação e coerência com princípios mais amplos. Em outras palavras, a moralidade está relacionada à prática, enquanto a ética está relacionada à reflexão crítica.

Cada decisão que tomamos gera algum impacto e precisamos entender se estamos sendo socialmente responsáveis nesse processo.

A ética é fundamental para a relação entre as pessoas porque estabelece os valores e princípios que guiam a nossa conduta. Quando essas normas éticas são respeitadas e seguidas, se torna mais possível ter uma convivência harmônica e de respeito mútuo. Uma dos fatores sociais impactados pela ética é o respeito entre as pessoas, independentemente de suas diferenças. Entendendo os valores éticos, somos mais capazes de ter compaixão, empatia e tolerância. Aprendemos a ver além de nossas próprias perspectivas e a respeitar as opiniões e necessidades dos outros.

Nesse caminho, a ética também ajuda a construir a confiança entre as pessoas, algo essencial em qualquer relação. Quando as pessoas agem de forma mais ética, percebemos que estão agindo em prol do bem de todos, e não apenas no seu ganho individual — aumentando a confiança nas relações. Outro ponto é desenvolvimento de mais justiça e equidade entre as pessoas, independentemente de suas diferenças. Com um comportamento mais ético, somos guiados por um senso maior de justiça que busca não a vingança, mas a reparação e o devido cumprimento das normas.

A ética pode ser aplicada em praticamente todas as nossas ações. Em algumas, ela terá um peso maior que em outras e o importante é buscar agir de acordo com princípios morais e valores alinhados ao que consideramos mais justo para nós e para os outros. Isto é, pensar no que faz mais sentido para o contexto e a melhoria de todos e não apenas em nosso próprio ganho pessoal. No ambiente de trabalho, por exemplo, a ética é fundamental para garantir um ambiente saudável e produtivo entre as pessoas. Agir de forma ética pode ser ter uma postura respeitosa em relação aos colegas, clientes e fornecedores; manter a confidencialidade das informações; evitar conflitos de interesse. A ética também envolve tomar decisões justas, cumprindo as leis e normas regulatórias, e considerando o impacto de nossas ações em relação aos outros.

Na vida pessoal, a ética é importante para manter relacionamentos saudáveis e respeitosos com amigos, familiares e outras pessoas em nossa vida. Isso inclui agir de forma honesta, respeitosa e empática, e evitando comportamento que possam prejudicar outras pessoas, prezando pela confiança em nossas relações pessoais. Na tomada de decisões, seja no ambiente de trabalho ou em nossa vida pessoal, pensar em ações mais éticas significa considerar as consequências de nossas ações em relação a outras pessoas e ao mundo ao nosso redor. Isso pode ser feito ponderando as opções disponíveis e evitando decisões precipitadas. Um ponto importante nesse cenário é sempre considerar o respeito aos direitos e a dignidade de todas as pessoas envolvidas. Outro momento de pensar sobre a ética das nossas escolhas é na compra de produtos ou serviços. Cada decisão que tomamos gera algum impacto e precisamos entender se estamos sendo socialmente responsáveis nesse processo — seja com as outras pessoas ou com o meio ambiente, os animais, e as nossas relações.

A ética é um conceito fundamental que pode ser aplicado no dia a dia em muitos contextos. Qualquer relação pressupõe algum nível de compreensão ética, desde as relações pessoais até as decisões empresariais e escolhas de consumo. O mais importante é buscar agir de forma responsável, respeitosa, justa, honesta e empática em relação aos outros e ao mundo ao nosso redor, promovendo o bem-estar das pessoas e do planeta.

Maria Cecília Oliveira Gomes é doutoranda em Filosofia e Teoria Geral do Direito na Faculdade de Direito da USP e professora do Data Privacy Brasil. Foi pesquisadora visitante na Data Protection Unit do Council of Europe (CoE) na França e no European Data Protection Supervisor (EDPS) na Bélgica.

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