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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Para aqueles que olham o noticiário internacional e se aterrorizam com uma possível guerra entre os Estados Unidos de Donald Trump e a Coreia do Norte de Kim Jong-un, leiam com atenção a próxima frase: o Brasil já está em guerra – e está perdendo.

Em apenas três semanas são assassinadas no Brasil mais pessoas que o total de mortos em todos os ataques terroristas no mundo nos cinco primeiros meses de 2017. Ao todo, foram mais de 59 mil homicídios, segundo o último Atlas da Violência, publicado em 2017 e produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). São seis mortes por hora. Como comparação, a guerra civil da Síria já matou mais de 340 mil pessoas desde seu início em 2011, uma média de 56 mil por ano. Mas por que nos importamos e nos preocupamos mais com os desdobramentos da discussão entre Trump e Kim?

No Brasil, a criminalidade já virou rotina e a naturalização dessa situação aumenta a falta de cobrança por uma solução pelas autoridades. Essa soma de fatores nos levou, ao longo de anos de má administração, até a calamidade atual. Estados sem dinheiro não conseguem investir em nada, inclusive na segurança.

A greve das polícias locais é o último grito contra a falta de estrutura e a precariedade da segurança pública

A situação do Rio Grande do Norte é o último exemplo dessa triste fórmula a eclodir. É neste ponto que a criminalidade deixa a periferia e toma conta do Estado. E é só neste momento que percebemos o problema. A greve das polícias locais é o último grito contra a falta de estrutura e a precariedade da segurança pública.

O fim da paralisação se deu quando o governo acatou as reivindicações dos sindicatos. Dos 18 pedidos dos policiais e bombeiros, a maioria era por estrutura, novos carros, fardas e pagamento em dia. O básico para se combater a criminalidade e colocar a vida em risco. Você chega ao seu trabalho, mas não tem cadeira, computador ou mesa. Mesmo assim, precisa entregar os seus projetos, pois seus clientes estão cobrando. Soma-se a isso um atraso salarial. Um ou dois meses sem receber. Como você se sentiria? Agora imagine ser um policial e ter o risco de trabalhar em uma das 50 cidades mais violentas do mundo.

Leia também: Espírito Santo: lições do caos (artigo de Bene Barbosa, publicado em 7 de fevereiro de 2017)

Leia também: O direito à segurança (editorial de 7 de abril de 2017)

Esta é a situação que motivou a paralisação das polícias no Rio Grande do Norte, mas é a mesma história que se repete na maioria dos estados brasileiros. Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina... Na contramão, o crime se aperfeiçoa, cresce, inventa novas técnicas.

Mas a crise já passou e a polícia voltou a trabalhar, certo? Errado: os estados continuam quebrados ou mal administrados. Remedia-se e abafa, mas não se acaba com o problema. É uma doença da qual se tratam apenas os sintomas, sem cuidar realmente da causa. As dores passam, mas voltam piores quando o tratamento superficial não faz mais efeito.

Enquanto não houver uma conscientização da população para cobrar soluções e os governantes tiverem mais responsabilidade pelos seus gastos, continuaremos perdendo essa guerra e seguiremos sentados na frente da televisão, preocupados com a crise entre Trump e Kim.

Marco Antônio Barbosa, mestre em Administração de Empresas com MBA em Finanças, é especialista em segurança e diretor da Came do Brasil.
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