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Darcy Ribeiro referiu-se, décadas atrás, a um projeto na “crise da educação”. Os fracassos são minhas vitórias, disse Darcy. Um fim trágico para um herói riscado do mapa. Esta crise, afirmo, avançará até um ponto. E então não poderá mais ser erradicada. O resultado será o fim do eterno retorno. E o ensino (devastado pela ação crônica da crise) não será mais capaz de compreendê-la. Os ratos roeram tua roupa, Dyonélio Machado.

A reestruturação do nosso país passa pela reformulação da educação. A interpretação não se resume aos livros. Nossas distorções transcendem os gêneros literários. Nossa pátria educa através da propaganda. Uma antologia de bordões políticos, um resultado literário (de péssima retórica) do Brasil no século 21. O prefácio a leilão, como fizemos com as cadeiras da Academia Brasileira de Letras.

O analfabetismo (funcional) é a grande censura que enfrentamos

O analfabetismo (funcional) é a grande censura que enfrentamos. Existe uma raiz ignorante na raiva. Um povo incapaz de ler a realidade e incapaz de reproduzi-la. O real não vale um real perante os imaginários. A mim importa pouquíssimo qual modelo de família tradicional nós adotaremos: a imposta ou a que tenta se impor. Preocupa-me, de maneira radical, a formação educacional dos filhos desta terra. A crise está desertando e desertificando nosso país. Os escritores foram os maiores historiadores do Brasil. Nossos tempos dão espaço para o terreno dos “achistas”. A literatura nunca deu. Machado de Assis dizia. Capitu dissimulava. Apenas pré-conceitos são achados sobre as – peles das – palavras. Não se acha nada sobre elas. Acha-se nelas e sob elas.

A universidade não tem o mínimo dever de corrigir falhas primárias em nossos estudantes. Nada adianta sobrecarregá-la com tarefas do ensino básico. O processo se torna traumatizante e traumatizado. A universidade não é determinista na formação intelectual do jovem. O ensino superior serve, hoje, mais como emissor numérico de registro em conselho. Seu papel se resume cada vez mais ao atestado jurídico e ao desatestado intelectual. Tem o seu viés relativista, e não tão ruim. Todo estudante pode, individualmente, vencer a crise educacional. Nós temos um dever, não um direito, à educação. A vitória deve ser do povo, não do indivíduo.

Leia também: Educação é outra história (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 2 de agosto de 2018)

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Ao vencedor, as derrotas. Meu compromisso é com os rumos da educação do nosso povo. Minha maneira de servir ao Brasil. Professor universitário, teórico educacional e escritor. O leitor verá a ausência de subordinação nas orações deste artigo. Que a educação siga sua própria sintaxe insubordinada. Talvez as gerações futuras nos definam como a era das erradas inversões. Do autoritarismo que subordinou a autoridade. Nós precisamos inverter o já invertido e negado por todos nós.

Nossa política não corrigirá a educação. Nossa educação corrigirá a política.

Guilherme Bacchin é escritor e estudante de Letras.
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