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Igreja da Assunção é incendiada em Santiago, no Chile.| Foto: Claudio Reyes/AFP

Quando um grupo de vândalos ateou fogo, pichou e depredou o interior de igrejas no Chile, duas reações se destacaram: o grito abafado e o silêncio ensurdecedor.

O primeiro partiu dos indivíduos capazes de perceber que por trás dos prédios em chamas está o fogo da intolerância que busca consumir não apenas altares e imagens, mas todo o restante da cultura judaico-cristã que alicerça o Ocidente. O grito destes foi louvável, mas abafado por algo ainda mais alto: o silêncio cúmplice dos cínicos, dos ignorantes e dos intelectualmente desonestos.

A imensa maioria dos “arautos da liberdade de expressão” se calou. Compreensível. Certamente estavam ocupados denunciando a islamofobia de quem olha duas vezes para uma burca ou a intolerância dos fundamentalistas que ousam aplicar na segunda-feira o que ouvem no sermão de domingo (um legítimo absurdo, é claro!).

O incêndio passou, mas é preciso debruçar-se um pouco sobre aquilo que vem depois das chamas. Afinal, o confronto está longe de terminar, pois o que os grupelhos e seus defensores realmente queriam incendiar permanece intocável. Seu ódio não é contra a arquitetura gótica, a arte sacra, os bancos de madeira, o confessionário ou a hóstia. Seu ódio é contra o que tudo isso representa.

Suas chamas – e aqui, infelizmente, não me refiro apenas à mistura de gases em alta temperatura – não buscam consumir prédios, mas princípios. Sua luta não é contra a “religião”; é contra a fé transcendente em Alguém que estabeleceu leis e diretrizes que não podem coexistir com a agenda pautada por aqueles que decidiram, por conta própria, deter o monopólio da virtude.

Se a boa notícia é a de que o fogo naquelas igrejas já cessou, a má notícia é que o seu alvo permanece “lá”. O alvo daquelas chamas está dentro de bilhões de pessoas mundo afora.

Neste exato momento, uma mãe aflita rezou um terço ou participou de um “Culto da Família” pedindo a Deus que tire seu filho caçula do vício. Ela não sabe, mas as chamas buscam consumi-la.

Neste exato momento, um homem comum, cujo nome jamais sairá nos jornais, decidiu doar parte do pouco que tem aos missionários que são perseguidos no Oriente. Para ele, é melhor colocar os R$ 10 que sobraram do seu parco salário no gazofilácio da igreja, e não na mesa do bar. Não é que ele tenha passado por uma lavagem cerebral ou esteja “pagando uma promessa”. Esta é apenas uma decisão pessoal, intransferível e voluntária. Ele não é lunático, alienado ou inculto. Ele apenas crê em Alguém, sem saber que as chamas buscam consumi-lo.

Neste exato momento, alguns decidiram confiar em vez de temer; preservar-se em vez de desfrutar; discordar em vez de engolir. Se o fizessem após assistir ao último vídeo do Felipe Neto, tudo estaria bem, mas, como tomaram tais decisões a partir do que a Bíblia lhes orienta, o mundo decidiu odiá-los. E, sempre que possível, incendiá-los.

O verdadeiro alvo das chamas chilenas – e de muitas outras, vistas diariamente em redes sociais, universidades e bolhas esquerdistas espalhadas high society afora – é o Alicerce Invisível que, para desgosto daqueles que O odeiam, continuam sustentando as decisões diárias da esmagadora maioria da população ocidental.

Uns O odeiam porque não O compreendem, mas ouso dizer que o ódio inflamável é movido pela resignada (e inconfessada) certeza de que, por maior que seja a temperatura da fornalha, o Quarto Homem continua imune às chamas.

Arthur Vivaqua é pastor, teólogo e consultor de estratégia e marketing aplicados à educação.

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