Imagem ilustrativa.| Foto: Divulgação/PSDB/Facebook
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Neste último domingo, centenas de cidades realizaram seu segundo turno. O artigo terá como referência duas cidades, a capital paulista e uma potência interiorana: São Paulo e Ribeirão Preto (SP). São amostras que revelam tendências comportamentais do brasileiro na política e em seu engajamento.

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Bruno Covas (PSDB) e Duarte Nogueira (PSDB), respectivamente, foram os vencedores. Ambos os tucanos foram reeleitos. Em Porto Alegre, por exemplo, Nelson Marchezan Jr. (PSDB), que disputou a reeleição, foi derrotado no primeiro turno. Vale entender pontos importantes.

O populismo online

São candidatos que enfrentaram, grosso modo, adversários mais radicalizados ideologicamente. Guilherme Boulos (PSOL)e Suely Vilela (PSB), ambos em partidos identificados com pautas progressistas. Os dois revelaram, em sua plataforma e em seu discurso, a retomada do antigo populismo, mas sob uma roupagem jovem, moderna, online. Sua militância também carrega os mesmos traços.

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Os vencedores, pelo contrário, apresentaram ao seu eleitor um discurso pragmático de propostas objetivas, em detrimento de ataques pessoais e construções narrativas de polarização. Todavia, o trabalho online de suas milionárias campanhas foi sofrível, pouco criativo, o que gerou, em tempos de pandemia, índices diminutos de engajamento nas faixas etárias mais novas e, obviamente, um volume menor de propaganda e militância espontâneas. Trata-se de uma tendência que, certamente, fez a diferença no primeiro turno.

O uso do Covid-19 e suas consequências

Com 15 dias de trabalho, as duas campanhas derrotadas optaram pela polarização ideológica, além de usar a pandemia do coronavírus como um epicentro de histeria coletiva, criação de fake news e promessas vagas de diferentes formas de trabalho na contenção do número de contaminados. Márcio França, o derrotado profissional do PSB, veio a Ribeirão Preto falar de um lockdown no dia seguinte das eleições. Sob a perspectiva deste analista que lhes escreve, um erro que descredibilizou e deslegitimou ainda mais tais candidaturas, pois logo foram desmentidos por associações comerciais e governantes estaduais.

Ao mesmo tempo, mostrou os esforços de seus adversários em lidar com a pandemia de forma técnocrata e firme. Sem apelar para soluções mirabolantes ou propostas fantasiosas. No caso dos dois tucanos, o reconhecimento da dificuldade na lida com a situação, o investimento em formas de contenção e criação de vacinas criou empatia com o eleitorado de idade mais elevada.

Economia

Ao mesmo, seus planos governamentais assumiram as dificuldades econômicas e, frente à paralisia pandêmica, adotaram modalidades keynesianas de estímulo, principalmente obras públicas e incentivo aos setores mais prejudicados. A assistência social foi um grande espelho para os dois tucanos, e ambos não sofreram críticas desestabilizadoras. O auxílio emergencial do governo federal, também, foi de fundamental importância para que não houvesse calamidade.

Em contrapartida, para exemplificar, Suely Vilela, em Ribeirão Preto, prometeu em sua campanha 5 mil reais para 5 mil ribeirão-pretanos, sem que houvesse qualquer contrapartida. Foi apelidada de Silvo Santos Vilela. Na capital paulistana, Boulos falou muito sobre acabar com déficit habitacional, aumentar o salário do professor, zerar as filas do SUS. Só esqueceu de avisar ao eleitor o primordial: como? Com que dinheiro? Populistas, obviamente.

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Resultados

Em Ribeirão Preto, Suely Vilela não conseguiu, em debates e entrevistas, concatenar ideias ou solidificar um argumento. Frente às câmeras, era evidente seu desconforto. Tentou vitimizar-se, o que criou uma sensação nítida de desespero. Seu padrinho político, o deputado federal Ricardo Silva (PSB), o qual assumiu o cargo depois de dois antecessores mortos, foi o maior perdedor no interior. A população rechaçou seu discurso vazio, mesmo que inflamado.

Em São Paulo, Boulos sai fortalecido como alternativa à esquerda para 2022. Falta-lhe humildade, todavia, para aceitar uma vaga no legislativo ou vice. Brigará com Ciro Gomes e Fernando Haddad, provavelmente. Rachar a esquerda é seu forte, além de depredação, invasão e atear fogo em pneus. Uma chapa Haddad/Boulos ou Ciro/Boulos seria uma potência. Egos demais para poucas vagas. O paulistano, por sua vez, também preferiu o candidato mais seguro e propositivo. Bruno Covas e Duarte Nogueira formarão, em breve, um novo rosto para o PSDB, e que em nada se assemelha a João Dória. Aguardemos.

Marcos Paulo Candeloro é cientista político e professor de Ciências Humanas.