No fim de maio, aulas retornaram em Portugal, com medidas de distanciamento. Imagem ilustrativa.| Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP
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A convivência social no ambiente escolar é parte fundamental do processo de aprendizado do aluno. É por esse caminho que ele, na primeira infância, aprende a administrar as próprias emoções, começa a construir o que, na juventude e vida adulta, será sua independência, e inicia o processo de aquisição de bem-estar emocional e autoconfiança. Soma-se a isso a sensação de pertencimento que só o relacionamento em um grupo inserido em um ambiente de convívio diário pode oferecer. E isso é tão precioso quanto o conteúdo oferecido em sala de aula, porque é algo a ser levado por toda a vida e construirá suas bases para o convívio harmônico em sociedade.

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Por isso, o retorno às aulas presenciais em meio à pandemia, ainda que no sistema híbrido, é tão importante para a ideia de construção de uma sociedade mais justa, segura e democrática. E, se considerados os protocolos já à disposição da comunidade escolar, que considera o modelo híbrido – em que uma parte da turma assiste à aula presencialmente enquanto a outra acompanha remotamente, em um esquema de revezamento – como alternativa viável ao momento, as instituições de ensino se tornam ambientes muito mais seguros para estudantes (e, por consequência, seus pais), professores, funcionários, gestores da educação e comunidade, do que supermercados, farmácias e estabelecimentos comerciais, locais imprescindíveis para que a vida siga adiante.

Mais: com a constatação, na prática, de que estudantes são replicadores de boas práticas em suas casas, a convivência em um ambiente seguro terá como consequência a disseminação de comportamento preventivo nas famílias dos alunos. Porque eles estarão diante de um novo momento, em que todos os protocolos de proteção contra o novo coronavírus – sobretudo os direcionados à comunidade escolar, e aí estão incluídos o do Ministério da Educação e os das secretarias de Educação e de Saúde do Paraná –, sem exceção, são observados e aplicados cuidadosamente.

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Em live realizada no final do ano passado pela revista Crescer com especialistas da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBC), o pediatra Marco Aurélio Sáfadi lembrou que os estudos revelam que as crianças não são vetores importantes de transmissão de Covid-19, ainda que elas possam ser agentes do contágio. Segundo o especialista, os dados apontam que o risco de transmissão é maior entre moradores de uma mesma casa do que na escola. Sáfadi informou ainda que um estudo de transmissão do novo coronavírus comparou dados da Suécia, que manteve as escolas abertas, e da Finlândia, que optou pela suspensão das atividades nas instituições educacionais. A taxa de contaminação entre as crianças foi igual nos dois países. O que sinaliza de modo concreto que a abertura das escolas não está diretamente ligada à ampliação do risco de transmissão nas comunidades.

Outra possibilidade de tornar as escolas ambientes ainda mais seguros do que outros de uso diário da população seria a adoção do mesmo procedimento das vacinações contra a H1N1. Algumas instituições privadas de ensino costumam contratar clínicas particulares para a aplicação da vacina contra a gripe. Em um momento adequado, o expediente pode trazer ainda mais proteção a professores, funcionários da educação, alunos, familiares e comunidade.

Exemplos para essa retomada estão por aí. O Uruguai escolheu iniciar o retorno pelas escolas rurais, também com a divisão das turmas e um contato menor com o corpo docente. A Alemanha retomou as atividades presenciais nas escolas quando a curva de contágio registrou queda. E retornou ao ensino remoto em casos de instituições que registraram infecção pelo novo coronavírus. O governo daquele país ampliou o monitoramento e o controle de novos casos.

Em Portugal, o plano de contingência proibiu que pais acompanhem os filhos até a sala de aula; os alunos recebem álcool gel nas mãos e passam por um tapete desinfetante antes de entrar na classe, e materiais utilizados por eles, como tablets e notebooks, precisam ser trazidos de casa – a escola não fornece material. Na Espanha, os estudantes recebem uma espécie de “kit Covid”: uma bolsa pequena de tela vazada com máscara, pacote de lenço descartável e um tubo de álcool em gel. Outros países decidiram reiniciar as aulas presenciais por regiões que registraram poucos infectados ou índices muito baixos de transmissão.

E se pensarmos que, de acordo com o que explicam pesquisadores e sanitaristas, a Covid-19 deve se estender ainda por alguns anos, o papel dos estudantes na disseminação de informação de qualidade, na construção de uma sociedade que ouve a ciência e aprende com ela, não pode ser subestimado. E a retomada das atividades em sistema híbrido, permitindo aos alunos o acesso ao processo de aprendizado em quase sua totalidade, é fundamental. O que se apresenta como uma maneira de recuperar todo o período em que ficaram distantes fisicamente uns dos outros e da escola. Em setembro do ano passado, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou que, ao redor do mundo, crianças estão perdendo parte do aprendizado no modelo de isolamento que as afastou do ambiente escolar.

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O retorno das aulas presenciais no modelo híbrido vai permitir às instituições privadas de ensino retomar de modo pleno seu papel em meio à sociedade: o de um ator importante na construção de um cenário saudável a partir da oferta de educação de qualidade. Ao trabalhar pela construção do pensamento crítico junto a crianças, adolescentes e jovens dentro dos projetos pedagógicos adotados pelas escolas a partir de seus contextos socioculturais, ajuda a forjar não só o futuro de uma comunidade, mas orienta também na condução de um presente construtivo, democrático e ético. Em um momento sem precedentes na história do planeta, isso é extremamente necessário. E libertador.

Douglas Oliani é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR).