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No próximo domingo, dia 29, completa-se 1 mês da morte de Glaci Terezinha Zancan, professora emérita da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que teve papel fundamental para o desenvolvimento científico paranaense. Glaci, de 72 anos, foi vítima de esclerose lateral amiotrófica.

Nascida em São Borja (RS), a 16 de agosto de 1934, ela graduou-se em Farmácia-Química pela Faculdade de Farmácia de Porto Alegre, tendo concluído seu doutorado em Química Biológica na UFRGS, em 1959. No ano seguinte, foi contratada como farmacêutica pelo Instituto de Biologia e Pesquisa Tecnológica do Estado do Paraná. De 1962 a 1964, trabalhou com Luís Federico Leloir, Prêmio Nobel em Química (1970), em Buenos Aires, e, no ano seguinte, com Henri-Gery Hers, Prêmio Wolf em Medicina (1988), na Universidade de Louvain, na Bélgica.

Glaci iniciou sua carreira na UFPR em 1962, como livre docente. Em 1966, assumiu a regência da cátedra de Bioquímica da Faculdade de Farmácia. Em 1971, passou a professora titular do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular. Teve papel fundamental na consolidação do curso de pós-graduação em Ciência (Bioquímica) da UFPR, criado em 1965. Em 1970, foi eleita coordenadora do curso, atribuição que desempenhou por 11 anos ininterruptos com idealismo, responsabilidade e força de vontade. Além de orientar teses e dissertações, atuou efetivamente na formação científica dos pós-graduandos que passaram pelo Curso de Bioquímica da UFPR, coordenando com rigor e seriedade intelectual as sessões de referatas semanais da pós-graduação, de 1999 até sua aposentadoria, em 2003. Nesse período, deu grande incentivo ao posicionamento crítico e independente.

Em sua carreira científica, publicou trabalhos sobre estrutura e função da galactose oxidase e sobre a caracterização taxonômica do fungo produtor desta enzima, um organismo com muitos nomes e predicados: o Dactylium dendroides (aliás, Hypomyces rosellus, ou melhor, Cladobotryum dendroides). Ao longo de sua carreira docente, teve sob sua responsabilidade mais de 10 mil alunos dos cursos de Farmácia-Bioquímica, Medicina, Odontologia e da pós-graduação.

Glaci orientou 25 mestres e doutores, que estão espalhados pelas melhores universidades brasileiras, entre elas a UFPR e a UEM. Foi bolsista de produtividade científica do CNPq até 1992 quando, espontaneamente, solicitou o cancelamento de sua bolsa. Também chefiou o Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR por quatro anos (1995–1999) e exerceu atividades relevantes em pesquisa e política científica e tecnológica. Entre os temas por ela defendidos estão a universalização da pesquisa nas universidades brasileiras em todas as áreas de conhecimento, a rigorosa análise de mérito dos projetos por pares competentes, a profissionalização do docente universitário através da qualificação e da dedicação integral ao ensino, à pesquisa e à extensão e, finalmente, a valorização do trabalho e da competência nas instituições de pesquisa e universidades. Glaci defendeu essas posições nas agências federais em que atuou, como no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Comitê Assessor BF (1987 a 1990), na Comissão Coordenadora dos Comitês Assessores, que presidiu no período 1989–1990, e no Conselho Deliberativo, que integrou nesse mesmo período.

No Ministério de Ciência e Tecnologia, foi coordenadora da Escola Brasileiro-Argentina de Biotecnologia (1987–1989), instituição que também dirigiu, de 1989 a 1995. Sua atuação foi fundamental na implantação e consolidação desse centro, que hoje é modelo de sucesso nas relações bilaterais Brasil–Argentina.

No Paraná, foi membro do Conselho Estadual de Educação da Secretaria de Educação do Estado do Paraná e do Comitê Assessor do Conselho de Ciência e Tecnologia. Foi, por duas vezes, presidente e membro atuante do conselho diretor da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular. Foi secretária, conselheira e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que presidiu de 1999 a 2003. A partir de então, foi membro da Comissão Nacional de Biodiversidade (Ministério do Meio Ambiente), do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo Federal e do Conselho Superior da Capes.

Em vida, sua luta pela ciência foi reconhecida por condecorações: a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico, do governo federal; a Medalha do Mérito Educativo, do Conselho Federal de Farmácia; e a Ordem do Mérito Educativo, como oficial do governo federal. Finalmente, recebeu o título de Professora Emérita da UFPR, em 31 de maio de 2006. De espírito forte e decidido, sua incansável atuação pelo mérito na Academia e na Ciência brasileiras tem conseqüências evidentes e será lembrada por muito tempo. Seu passamento representa uma grande perda para seus admiradores, amigos e familiares. Descanse em paz, Glaci!

Fábio O. Pedrosa pertence ao Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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