Entrei correndo no salão verde da Câmara dos Deputados na tarde de 17 de maio de 2023, para organizar os últimos preparativos do pronunciamento de Deltan, como ele gentilmente pede para chamá-lo, dispensando o título de "deputado". O espaço reservado para entrevistas coletivas estava repleto de deputados, senadores, repórteres, assessores e curiosos, todos aguardando ansiosos para ouvir as palavras do ex-procurador e recém-cassado deputado federal do Paraná.
No dia anterior, assistimos estupefatos, no plenário do TSE, os advogados do PT saindo em êxtase, comemorando aos gritos e tirando foto “fazendo o L”, diante da decisão dos ministros de cassar o mandato de Deltan, obtido com os votos de 344.917 paranaenses, por unanimidade. Organizei os microfones e gravadores sobre a mesa, montei o tripé para transmitir o pronunciamento ao vivo nas redes sociais e repassei informações aos meus colegas e jornalistas.
Deltan chegou e foi recebido com uma salva de palmas calorosas e abraços. Impressionante a quantidade de parlamentares solidários que estavam presentes – mais de 50, entre deputados e senadores de diferentes partidos – como poucas vezes ocorreu no Parlamento. O momento do pronunciamento chegou. Eu estava no canto, cercado por luzes quentes que nos faziam suar. A todo instante, cinegrafistas reclamavam com quem estivesse obstruindo suas câmeras.
No discurso, Deltan evidenciou que foi cassado por ter feito o certo, por ter cumprido a lei, por ter prendido políticos corruptos. O que, até então, era inimaginável na história do país. Também tornou público o que uma de nossas assessoras anunciou: que estaria disposta a trabalhar de graça para ele. Sentimento compartilhado por todos os outros assessores. Sim, por ele vale a pena! Antes eu via Deltan Dallagnol na tevê e vibrava assistindo a surpreendente Operação Lava Jato enfrentar corruptos poderosos e recuperar bilhões do nosso dinheiro roubado. Neste ano, eu tive a honra de trabalhar em seu mandato.
Em quatro meses de convivência e trabalho, minha admiração por ele só cresceu. Um homem totalmente diferente do que parte da imprensa divulga. Humilde (jamais exigindo tratamento privilegiado como fazem outros parlamentares), acessível (dividia sua sala de trabalho com assessores, atendendo com atenção aqueles que o abordavam na rua), além de ser querido (sempre demonstrando preocupação com o nosso bem-estar). Alguém sem apego às pompas de Brasília e que realmente teme a Deus e se importa com o próximo. Trabalhou incontáveis semanas no gabinete até de madrugada com a equipe (os seguranças da Câmara dos Deputados são testemunhas), para honrar os quase 345 mil votos que o tornaram o mais votado do Paraná, o 7° mais votado do Brasil.
Desde que o TSE declarou o resultado da cassação, nossa vida virou de pernas para o ar. Trabalhamos o triplo, dormindo poucas horas, tentando, com uma equipe reduzida, dar conta de inúmeras demandas e solicitações. Lamentamos por não conseguirmos atender a imensidão de pedidos da imprensa, responder a todas as mensagens no WhatsApp e agradecer a atenção de tantas pessoas de bem.
A imprensa acampou em frente ao nosso gabinete. Ações corriqueiras como pedir uma pizza, expor material na porta ou consertar o ar-condicionado do gabinete viraram notícias, como se fossem prenúncios do despejo que sofreríamos em breve. Em todos os corredores da Câmara, fomos surpreendidos por repórteres. Por onde andamos na rua, recebemos manifestações de carinho. Pessoas nos abraçando, oferecendo ajuda. Vários assessores de outros parlamentares nos confidenciaram que choraram ao receber a notícia da cassação, como se aquilo estivesse acontecendo com eles.
Nos dias seguintes, fomos recebidos no aeroporto de Curitiba pela família e centenas de pessoas. Simpatizantes fizeram um lindo ato em frente ao Ministério Público. E uma enorme manifestação foi organizada em Curitiba com a presença de parlamentares de diferentes partidos e estados do Brasil. Respaldo popular que tanto nos consolou e motivou. Eu, como muitos brasileiros, por um bom tempo acreditei que não deveria me envolver com política, que era um lugar de corruptos. E sim, eles são a maioria. Porém, homens corajosos como Deltan e outros parlamentares me fizeram acreditar que precisamos nos engajar e participar.
Por mais que ele tenha sido enxotado da Câmara dos Deputados pelo sistema, sua incansável dedicação em fazer o que é certo nos dá esperança para continuar. Eu e dezenas de funcionários na Câmara aprendemos a admirar esse ex-procurador que deixou sua profissão, seu altíssimo salário no Ministério Público e a estabilidade profissional para servir as pessoas. Nossa equipe, infelizmente, foi desintegrada. Mas todos saímos com a cabeça erguida por termos trabalhado com dedicação e coragem 125 dias neste mandato.
Acreditamos que fizemos história na Câmara dos Deputados. Seguindo os passos do nosso parlamentar, trabalhamos com afinco para honrar os 345 mil paranaenses e representar tantos brasileiros de bem. Resultado dessa união: apresentamos 168 proposições legislativas, PEC do indulto natalino, ajudamos a barrar o PL da Censura, criamos os Gabinetes de Fiscalização Especializada (grupo de fiscalização dos ministérios, como na Inglaterra) e ajudamos na união de parlamentares da direita. Nós incomodamos o sistema e não nos curvamos, não nos adaptamos e não abandonamos nossos valores.
Deltan apresentou mais proposições legislativas do que muitos deputados em um mandato inteiro. Foi fiel aos seus princípios e nos provou que é possível, sim, ser íntegro e honesto onde quer que estejamos. Muitos colegas em outros gabinetes têm vergonha de expor para qual deputado trabalham, mas nós sempre teremos orgulho de dizer que tivemos a honra de trabalhar com o deputado federal Deltan Dallagnol.
Ps.: Dedico este texto aos meus colegas de equipe e a todos aqueles que trabalham nos bastidores da política brasileira em prol de um país melhor.
Lucas Marinho Mourão é ex-assessor parlamentar do deputado federal cassado Deltan Dallagnol.
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