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Muito difícil conseguir argumentar que, na média, o povo brasileiro não é criativo. Tanto que a frase “o brasileiro tem de ser estudado pela Nasa” ficou famosa alguns anos atrás. Então, por que outros países inovam muito mais do que nós?

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Importante entender que quem inova são os indivíduos, não o país, as empresas, os municípios. Mas tentar explicar problemas complexos com um motivo único é sempre um erro. Ainda assim, é possível definir alguns motivos que impactam as pessoas a inovarem mais ou menos. Para sermos específicos, vamos analisar dois deles: regras e incentivos. Para facilitar, citaremos alguns exemplos na prática.

O sistema de educação brasileiro é um exemplo clássico desse problema. Ele é considerado pelos usuários como ultrapassado e de baixa eficiência. O motivo? Para a maioria, a escola é tida como um curso preparatório para ajudar os alunos a ingressarem em boas universidades – melhor ainda se forem gratuitas. Assim, o Estado cria um incentivo muito claro, programas e provas como Enem, Fuvest e PAS, que medem a “qualidade” dos alunos de todo o país. As escolas, por sua vez, recebem esse estímulo e pautam seu currículo para ensinar os alunos aquele conteúdo. Para piorar, a regra é que o MEC defina o formato e o conteúdo que as escolas devem trabalhar com seus alunos, proibindo a mudança e a inovação.

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Importante entender que quem inova são os indivíduos, não o país, as empresas ou os municípios

Depois, há a obsessão pelo concurso público. Principalmente por conta das regras trabalhistas e regulamentações setoriais, é muito ariscado e custoso empreender por aqui. São comuns as histórias de pessoas que sofreram processos extremamente custosos, erraram na hora de pagar os impostos ou não tinham todas as licenças para operar e faliram. Por outro lado, temos um incentivo contundente para que a população preste concurso público e usufrua benefícios como ótima aposentadoria, impossibilidade de perder o emprego, sem obrigatoriamente ter de se esforçar no trabalho. Resultado: várias pessoas que poderiam criar soluções para problemas em forma de produtos ou serviços, gerando assim empregos e riquezas, consomem dinheiro da população sem obrigatoriamente dar um retorno a ela.

Também temos problemas sérios na agricultura. Existem muitos recursos para financiamentos subsidiados com o dinheiro do Estado, com foco no incentivo à agricultura tradicional. Mas as regras para quem vai receber o dinheiro são basicamente para compra de maquinário, agrotóxicos e sementes. Existe um sistema inovador chamado agroflorestal, que foi pensado para o nosso clima. Ele é mais barato e eficiente para ser implantado por aqui do que o modelo tradicional, criado para países de clima gelado. Como o incentivo dado é para a manutenção do modelo atual, as inovações em técnicas de plantio vão demorar muitas décadas ainda até serem implementadas e, quando isso acontecer, provavelmente já estarão obsoletas.

Leia também: Um novo caminho para a inovação (artigo de Karin Soldatelli Borsato, publicado em 20 de agosto de 2018)

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Na saúde, temos mais um exemplo simples: as clínicas médicas que oferecem preços populares. Um modelo de medicina inovadora, que tinha tudo para crescer muito mais – e beneficiar grande parte da população mais pobre – esbarra em algumas regras, como a proibição pela Anvisa de anunciar os preços praticados. As empresas são, então, incentivadas a contratar pessoas ou investir em tecnologia para resolver uma questão, aumentando seu custo. E quem paga essa conta no fim? Os pacientes, claro, que terão de arcar com valores de consultas mais caras.

Normalmente financiadas por dinheiro público, as pesquisas nas universidades e empresas estatais não têm estimulo algum para serem revertidas em produtos ou serviços úteis para a sociedade – logo, sem fins lucrativos. Como os incentivos e as regras não permitem que o pesquisador se beneficie do seu invento, por que ele se preocuparia com o resultado fora seu prazer pessoal? Por isso vemos tanto dinheiro sendo jogado fora nesse processo, sem ser revertido para a população.

Se um contrato de serviço de apenas um dia era impensável até pouco tempo atrás, pelos altos riscos que representavam, hoje o acesso amplo e barato à informação diminuiu enormemente esses riscos. Isso porque os contratados têm uma propensão muito maior de honrar seus compromissos, tendo em vista que uma avaliação negativa de seu desempenho colocaria em risco todos os seus contratos futuros. Diante desse cenário, as regras trabalhistas do Brasil intimidam várias startups, ou seja, as leis atuais não se aplicam à velocidade da cadeia produtiva dessas empresas e não garantem segurança jurídica aos inovadores. Assim, com medo de eventuais processos, esses empreendedores são desestimulados a ficar aqui; saem do país e levam junto a inovação.

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Como os exemplos dados acima, fica nítido que o Estado tira recursos da sociedade como um todo, concentra riquezas nos funcionários públicos, e o retorno para a população é apenas uma parte pequena do total na imensa maioria das vezes.

Enquanto o governo cria uma solução para um problema, o processo de mercado permite que empreendedores criem milhares de soluções, e que elas concorram entre si. Por não se tratar de uma obrigação, mesmo que você faça uma escolha hoje por determinada solução, nada impede que você a troque amanhã de forma rápida. Uma regra estatal, centralizada e definida por centenas de pessoas, nunca vai conseguir ser ágil, além de desconsiderar que a melhor solução para mim pode não ser a melhor para você nem para milhões de outros integrantes da nossa população a cada momento de suas vidas.

Quer ver uma sociedade mais inovadora? Libere-a.

Mateus Baumer, formado em Administração com pós-graduação em Gestão de Negócios, é sócio da BlueLab e responsável pela Diretoria de Marketing e Vendas.