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Baixa expectativa de crescimento, inflação no teto da meta e o crescente desequilíbrio nas contas externas (déficit em transações correntes no ano estimado em US$ 80 bilhões) são elementos do complexo cenário econômico de 2014. Dilma irá entregar o país numa situação muito distinta daquela que recebeu de Lula e este será um dos temas centrais do pleito eleitoral deste ano.

Não se trata apenas de resultados ruins: há um verdadeiro quebra-cabeça econômico na ordem do dia, já que as políticas que podem ser utilizadas para suavizar um problema pioram outros. Por exemplo, desvalorizações da moeda que seriam bem-vindas do ponto de vista das contas externas geram pressões inflacionárias. Por sua vez, políticas de expansão da demanda (o samba de uma nota só da atual gestão econômica) pioram a inflação e agravam o desequilíbrio externo. O cenário para 2015 incorpora ainda outros elementos preocupantes, especialmente no que tange a inflação. A elevação dos custos da energia elétrica, que será repassada, e a necessária revisão da política de preços dos combustíveis, com aumento do preço dos derivados de petróleo, acrescentam pressões adicionais sobre a inflação.

A credibilidade dos agentes que conduzem os processos é um elemento fundamental para bons resultados e neste campo a situação é igualmente preocupante. Ao longo dos últimos anos o ministro Guido Mantega perdeu quase que completamente a credibilidade do mercado. Os bons resultados obtidos ao longo de sua gestão no governo Lula, especialmente a gestão da crise internacional de 2008, são encobertos pelos resultados no governo Dilma.

Ao que tudo indica, alavancado pelos resultados de 2010, o ministro da Fazenda acreditou que era possível manter o alto nível de crescimento com estabilidade através da manutenção das políticas anticíclicas, sabiamente utilizadas no contexto da crise de 2008. Os resultados deste equívoco e do excessivo intervencionismo em setores específicos (energia e petróleo, especialmente) são evidentes. Sem dúvida, a comunicação do ministro com a sociedade também ajudou na perda de sua credibilidade. Nada pior para um ministro da Fazenda que autointitular-se "levantador de PIB". A cada previsão econômica frustrada seguia-se uma nova previsão otimista sobre o futuro, que logo à frente não se realizava. O ministro foi, ao longo do tempo, aproximando-se da figura do Cândido, de Voltaire, com sua visão de que vivemos sempre no melhor dos mundos possíveis.

Neste cenário, a substituição do ministro, algo que vem sendo cogitado na mídia especializada, poderia ajudar o governo Dilma a ganhar credibilidade na gestão econômica. A substituição de Mantega poderia ter impacto semelhante à Carta ao Povo Brasileiro apresentada por Lula durante a campanha eleitoral de 2002 para acalmar o mercado. Alexandre Tombini, atualmente presidente do Banco Central, é um dos indicados, de acordo com a imprensa, para substituir o atual ministro. Tombini, apesar de alguns equívocos no início de sua gestão, ainda goza de credibilidade no mercado e poderia ser um nome adequado para o necessário choque de credibilidade na política econômica.

A substituição do ministro é improvável em função da proximidade das eleições, mas, ao apontar uma nova linha na gestão econômica de um possível segundo mandato, a candidata Dilma poderia obter inclusive ganhos eleitorais. É claro que sempre existirão aqueles que insistirão no clichê de que uma gestão democrática e popular não deve ouvir os desejos do mercado – deve, ao contrário, enfrentá-los. São discípulos de Cândido e sua ingenuidade. Nada aprenderam com Lula.

Marcelo Curado é professor do Departamento de Economia da UFPR.

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