Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash
Ouça este conteúdo

Até chegar à mesa dos brasileiros, os alimentos da cesta básica podem atingir quase 38% de tributação, graças à sobreposição de impostos. Em um cenário de pandemia e aumento da inflação, que tornou a fome uma realidade ainda mais assustadora no país, este dado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), basta para entender por que trabalhar por uma reforma tributária é tão urgente.

CARREGANDO :)

Hoje, mais de 33 milhões de pessoas se encontram em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passam fome no Brasil. Em pouco mais de um ano, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, 14 milhões de brasileiros passaram a não ter o que comer. Enquanto isso, o DIEESE registrou, em abril, a cesta básica mais cara da história do país: para comprar itens como arroz, feijão e macarrão, é preciso desembolsar, atualmente, mais de R$ 800 por mês. Segundo levantamento da entidade, o valor da cesta quase dobrou nos últimos seis anos, tornando a fome uma das maiores preocupações da população.

Recuperar a economia e o poder de compra do brasileiro devem ser prioridades absolutas do poder público. E uma tributação menos burocrática e mais justa é um ponto fundamental para isso. O sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos do mundo. Isso acontece porque a Constituição de 1988 confere à União, estados e municípios o direito de instituir seus próprios impostos, sujeitando os produtos a uma danosa superposição de tributos.

Publicidade

A compra de um carro, por exemplo, está sujeita, ao mesmo tempo, às contribuições para o PIS e a Cofins, que incidem sobre as receitas; ao IPI, de competência da União, e ao ICMS, devido aos estados. Já com a atual crise dos combustíveis, quem consegue financiar um veículo é obrigado a arcar com o preço absurdo da gasolina, cujo valor é composto por 50% de impostos. Além de extremamente oneroso e complicado, nosso sistema tributário é totalmente sem sentido e a classificação fiscal é um retrato dessa bagunça.

Em meio a tanta complexidade, até o próprio Estado não sabe como tributar produtos que não se encaixam em uma só classificação. Isso dá margem a manobras como as da Lacta, que conseguiu alterar a classificação do bombom Sonho de Valsa de chocolate para wafer, zerando a cobrança de IPI. O mesmo ocorre com o calçado do tipo "crocs", que fica entre sandália e chinelo.

Qual a razão de não facilitar a vida das empresas com uma tributação simplificada? Absolutamente nenhuma! Fazer o círculo do setor produtivo voltar a girar deveria ser o foco do governo neste momento em que a pandemia, além de tornar a saúde um caso de calamidade pública, vem afetando drasticamente o emprego e a renda do trabalhador brasileiro

No Congresso estão em discussão duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs), a 45/2029 e a 110/2019, que têm em comum a extinção de tributos incidentes sobre bens e serviços. Além delas, há o Projeto de Lei 3.887/2020, que institui a Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), unificando o PIS e a Cofins em uma só contribuição social. Esperamos, com a aprovação destas matérias, reduzir o custo de produção, aumentar a competitividade, o poder de consumo dos trabalhadores e gerar mais empregos, promovendo, assim, o retorno do crescimento da economia. O prato de comida do brasileiro está cada vez mais vazio. E adiar ainda mais a reforma tributária é condenar as pessoas à pobreza e à morte.

Daniel José é economista, mestre em Relações Internacionais e deputado estadual em São Paulo.

Publicidade