Novo marco atrai bilhões de reais em investimentos em ferrovias e deve levar modal a dobrar participação na matriz de transportes do país.| Foto: Alberto Ruy/Ministério da Infraestrutura
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O Marco Legal das Ferrovias, projeto de lei que tramitava desde 2018 sob autoria do senador José Serra (PSDB-SP) e foi recentemente aprovado pelo Congresso, é um símbolo para o setor ferroviário no Brasil. O símbolo vem a partir da abertura de novas possibilidades para investidores, ampliação do transporte de passageiros, bem como das diferentes modalidades de negócio, seja com vias privadas ou de uso público.

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Um ponto crucial no Marco Legal é a abertura de um horizonte para investimentos, uma vez que o modal ferroviário representa, segundo dados de novembro da CNT, 14,95% da participação na matriz de movimentação de cargas no Brasil, um índice baixo se considerarmos as características geográficas propícias para o investimento no modal, indicado para a movimentação de cargas de grandes volumes e baixos valores agregados. Quando esses produtos acabam transferidos para o transporte rodoviário, registra valores de frete fortemente impactados ante as grandes distâncias percorridas, o consumo de combustível – que pressiona ainda mais com valores elevados – e o custo pela passagem por inúmeras praças de pedágio.

Se o transporte de carga ganha com o Marco Legal, um novo horizonte no transporte de passageiros se abre, uma vez que a implantação de linhas ferroviárias pode retomar o desenvolvimento urbano com o estímulo do transporte coletivo, seja em caráter municipal, metropolitano ou intermunicipal. A extensão de nossa malha ferroviária parou no tempo, enquanto as tecnologias avançam, assim como as demandas no setor. Há cidades no Brasil que sofreram com a redução das operações no modal ferroviário, a exemplo das conexões entre Bahia e Minas Gerais. As localidades perderam a movimentação de passageiros, de trabalhadores e, em termos de desenvolvimento, ficaram para trás, expondo o retrato do abandono do modal ferroviário e de suas consequências na vida de milhares de brasileiros.

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A política por trás desse novo momento do modal ferroviário deve ser encarada como  política de Estado que pensa no futuro da nação, e não como ações contidas apenas em uma gestão, pois a descontinuidade trará danos ao desenvolvimento e à melhoria de nossa economia. O Marco Legal das Ferrovias abre espaço para que tenhamos uma matriz de transporte mais equilibrada, uma logística mais eficiente e um país cada vez mais competitivo no cenário internacional.

Um novo futuro se apresenta ao modal ferroviário com o ganho que haverá ao se atrair novos investimentos, beneficiando desde o produtor, com melhor competitividade do seu produto, até a segurança nas rodovias, com a consequente redução do número de caminhões trafegando, bem como o fomento ao desenvolvimento. Investir em ferrovias não é sinônimo de desprestígio do modal rodoviário ou da minoração de empregos valiosos; investir em ferrovias é trazer uma dinâmica ainda mais eficiente ao transporte de cargas do país, criar novas possibilidades para exploração no transporte de passageiros e auxiliar no crescimento deste importante setor da economia.

Hugo Alexander Martins Pereira é engenheiro civil, mestre em Engenharia de Transportes e professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Positivo (UP).