Faltam poucos dias para o primeiro turno das eleições, mas dois terços dos brasileiros não definiram seu candidato para deputado federal, segundo a última pesquisa Datafolha. A disputa presidencial domina as atenções, fenômeno que tem sido constante desde a redemocratização. A mudança que os holofotes parecem não acompanhar é a relevância cada vez maior da eleição à Câmara dos Deputados. Não podemos esquecer que escolha de um bom candidato para deputado é fundamental.
No centro desta arena estão as emendas parlamentares. Entre 2018 e 2022, elas cresceram 195%, de R$ 11,3 bilhões para mais de R$ 35,6 bilhões. A maior parte dessa ampliação se deu nas emendas de relator, que não identificam o autor da indicação de repasses. E assim, em um ano eleitoral tão relevante para o Brasil, o orçamento público foi destinado sem transparência.
Só com consistência conseguiremos transformar a política e manter acesa a chama da democracia no coração de brasileiros e brasileiras. Isso significa a renovação da esperança.
Sem prestação de contas ou distribuição equânime entre parlamentares, o “orçamento secreto” virou alvo de acusações de inconstitucionalidade por ferir os princípios da publicidade e da impessoalidade. Faltam critérios para a aplicação dos recursos e sobram denúncias de desvios e desequilíbrios.
Esse cenário, preocupante por si só, ganha contornos dramáticos na iminência de uma eleição parlamentar atipicamente concorrida. Este ano, 448 dos 513 deputados federais disputam a reeleição, um recorde histórico. Eles são maioria absoluta entre os candidatos que mais receberam recursos do fundo eleitoral e contam com maior nível de conhecimento entre a população e com suas emendas parlamentares para atrair votos.
Mudar as práticas e os quadros da política brasileira é um enorme desafio. O sistema tem mecanismos quase intransponíveis e muito eficazes para dificultar a renovação. Foi o próprio Congresso que elevou o fundão este ano para R$ 4,9 bilhões, 186% a mais do que em 2018.
Pesquise o que ele já declarou sobre o tema, como seu partido se posiciona e se ele apresenta alguma solução para lidar com estes dispositivos. Diante dessa caixa preta, o valor da transparência na política fica ainda mais evidente. Até quando aceitaremos representantes que se apropriam do dinheiro público sem priorizar o que é importante para a população?
Dê preferência a candidatos que se prepararam para ocupar o cargo e que recorram a dados e evidências para a tomada de decisão. Combata o fisiologismo instaurado na política brasileira. A transformação que desejamos não vai se dar em dois ou três ciclos eleitorais. Por isso, iniciativas como o RenovaBR seguirão cumprindo o papel de formar e incentivar novas lideranças.
E foi com a proposta de renovar a esperança de brasileiros e brasileiras na política que, em 2017, criamos uma escola diferente de tudo que já tinha sido feito e que seguiremos fazendo até que todos os nossos representantes políticos tenham passado pela sala de aula. Afinal, é a partir da escola que devemos enxergar não só o futuro de nossos filhos, mas também o futuro do nosso país.
Só com consistência conseguiremos transformar a política e manter acesa a chama da democracia no coração de brasileiros e brasileiras. Isso significa a renovação da esperança. Ainda há tempo de promover debate e conscientização. Converse com amigos e familiares sobre a importância dos votos ao Legislativo e escolha um bom candidato a deputado federal. Eles costumam ser definidos nos últimos dias da eleição. A arma mais poderosa contra abusos de poder, desvios de finalidade e desequilíbrios institucionais continua a ser o voto. Este sim, legitimamente secreto.
Irina Bullara é diretora-executiva do RenovaBR.
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