• Carregando...
 |
| Foto:

"Quem gosta de miséria é intelectual", sentenciou Joãosinho Trinta, artista que sofisticou o carnaval carioca nos anos 80. Como objeto de estudo ou massa de manobra ideológica, a pobreza é glamourizada pelos bem postos nas academias e partidos políticos. Os miseráveis sonham com a prosperidade, ainda que os bens dela decorrentes sejam ouro de tolo, como o Corcel 73 do Raul Seixas. As igrejas que prometem riqueza material estão repletas; as que dizem para os fieis esperarem o paraíso espiritual definham.

Se todos querem a prosperidade, por que ela é tão rara? Há explicações que focam as condições naturais (relevo, minérios, vegetação, clima), a exemplo das que afirmam que nos trópicos não há civilização rica. Ocorre que, no passado, a pobreza estava nas áreas frias, habitadas por povos muito selvagens. Roma, China, Egito, Grécia, maias, astecas, incas e persas estavam em regiões de clima tropical ou, ao menos, não gélido.

Discípulos de Platão acreditam ser necessário educar os governantes: déspotas ilustrados gerariam a prosperidade. Gana, logo após a independência, foi governada por gente com doutorado e nem por isso escapou do declive para a miséria. Nem todos os chefes de governo dos países ricos tiveram formação acadêmica. Ao governar, os filósofos são oprimidos pela realidade, tornando-se apenas governantes imersos em suas circunstâncias.

Diferenças culturais entre os povos também são apontadas como causa do sucesso ou do fracasso. Os coreanos são o mesmo povo do ponto de vista genético e cultural. Como explicar o fracasso (pobreza e ditadura) da parte norte e o sucesso (riqueza e democracia) do sul? Cultura igual, resultados distintos. A tese da superioridade racial/cultural se debilita ante esse fato. Acresça-se que os coreanos não são maciçamente protestantes para se enquadrarem na explicação de Max Weber sobre a ética protestante.

Faz algum tempo o professor Pio Martins escreveu, aqui na Gazeta, que, se fosse compelido a escolher um livro para levar para ilha deserta, optaria por Ação Humana, de Ludwig von Mises. Concordo, acrescendo que eu esconderia debaixo da camisa a obra Por que as nações fracassam, de Daron Acemoglu e James Robinson. Os autores desenvolvem argumentação sobre a prosperidade afirmando que o poder político organizado em Estado é essencial para impor ordem, direitos e obrigações, segurança econômica (propriedade e contratos) e para prestar serviços públicos sem os quais a pobreza não cede passo.

Para os autores, instituições políticas e econômicas includentes são dotadas de aparato judicial imparcial e oferecem serviços públicos que propiciam igualdade de condições para que se possa livremente escolher a profissão, comerciar, contratar, empreender. Presentes essas condições, surgem dois outros motores da prosperidade: educação e tecnologia, incrementadores exponenciais da produtividade.

Por que a receita simples não é adotada por todos? A "destruição criativa" referida por Schumpeter muda a titularidade do poder, ampliando a quantidade de detentores, e os poderosos num determinado momento histórico se opõem ao progresso econômico e aos motores da prosperidade para não perder poder.

O capitalismo é revolucionário.

Dê sua opinião

O que você achou da coluna de hoje? Deixe seu comentário e participe do debate.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]