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Ontem os ministros do Supremo confirmaram a mensagem que já vinham enviando à nação desde o início do julgamento: o mensalão não foi uma ofensa menor, um "mero crime de caixa dois", e sim uma verdadeira tentativa de anular a independência do Poder Legislativo

Em uma sessão histórica, o Supremo Tribunal Federal negou a ideia, infelizmente tão comum no Brasil, de que só os "peixes pequenos" acabam punidos por seus crimes. Ontem, durante o julgamento do mensalão, três líderes do Partido dos Trabalhadores foram condenados pelo crime de corrupção ativa, o que os configurou como mentores e principais operadores do esquema de compra de apoio parlamentar no primeiro mandato de Lula. Os petistas caíram em sequência, como dominós: primeiro, o ex-tesoureiro Delúbio Soares, com o voto da ministra Carmen Lúcia; depois, Gilmar Mendes foi o sexto a condenar o ex-presidente do partido José Genoino. Por fim, Marco Aurélio Mello selou o destino do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, apontado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, como o "chefe da quadrilha" que teria desviado dezenas de milhões de reais dos cofres públicos.

O STF ainda tem trabalho a fazer – os mesmos três personagens serão julgados também por formação de quadrilha, e vários outros réus ainda enfrentam outros tipos de acusação; ao fim do julgamento, será preciso determinar a pena para cada um dos condenados. Mesmo assim, ontem os ministros do Supremo confirmaram a mensagem que já vinham enviando à nação desde o início do julgamento: o mensalão, ao contrário do que a defesa dos acusados alegava, não foi uma ofensa menor, um "mero crime de caixa dois" que "todos os partidos cometem", e sim uma verdadeira tentativa de anular a independência do Poder Legislativo, um atentado contra os próprios fundamentos da república.

Uma surpresa da sessão de ontem foi o voto do ministro Dias Toffoli. Seu currículo de advogado do PT, assessor da Casa Civil sob José Dirceu e advogado-geral da União fazia crer que ele absolveria todos os petistas importantes; as suspeitas cresceram quando ele inocentou o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha de todas as acusações, logo no início do julgamento. Ontem, ele livrou Dirceu, seu ex-chefe, mas condenou Delúbio Soares e Genoino, assumindo uma posição mais severa que a do ministro revisor, Ricardo Lewandowski (que condenou Delúbio e inocentou Dirceu e Genoino). Para Toffoli, é inverossímil que Genoino não estivesse a par do mensalão; já Lewandowski aceitou a tese da defesa ao jogar toda a responsabilidade da compra de votos, no lado petista, sobre o tesoureiro do partido – como se os principais nomes do PT pudessem ficar alheios a um esquema de tamanha proporção.

Resta saber como os condenados se portarão após a decisão do STF. Do trio petista, o mais resignado até o momento tem sido Delúbio Soares, que parece conformado com a possibilidade de acabar preso. José Genoino vem preferindo culpar a imprensa, que, segundo ele, estaria se comportando como um torturador da época da ditadura militar brasileira – o mantra foi repetido à exaustão no domingo, quando o ex-deputado votou em São Paulo. O caso mais preocupante é o de José Dirceu. Antes mesmo do início do julgamento, ele já havia prometido lançar um movimento político de resistência à decisão do Supremo em caso de revés, e dias atrás avisou que se pronunciaria hoje à cúpula do PT. Se rejeitar o veredicto da maior corte de justiça do país e tentar mobilizar movimentos sociais para fazer sua defesa nas ruas, o ex-ministro estará apenas demonstrando que sua arrogância está ainda maior que na época em que organizou o mensalão, acreditando que jamais seria pego ou punido. Se a direção do partido demover Dirceu de seu ímpeto de tentar reverter a condenação no grito, terá feito um grande favor ao país.

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