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A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada no fim da semana, foi o primeiro teste de verificação da sintonia entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda desde a posse do ministro Guido Mantega em substituição ao defenestrado Antônio Palocci. Favorável a um ritmo mais acelerado na queda das taxas, Mantega irritou-se com a sinalização dada pela ata de que o BC, ao contrário, poderá colocar um freio nessa pretensão.

O ministro não fez questão de fazer a crítica entre as quatro paredes de seu gabinete e diretamente para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Preferiu torná-la pública durante reunião com empresários paulistas, afirmando que há espaço suficiente na economia para que os juros continuem caindo à razão de 0,75 ponto porcentual, como ocorreu em dois sucessivos meses. Ou mais.

Atualmente, a taxa básica está fixada em 15,75% ao ano e a expectativa generalizada era de que, já em maio, ela fosse reduzida para 15% redondos. Mas o Copom, segundo sua ata, "en-tende que a preservação das importantes conquistas obtidas no combate à inflação e manutenção do desenvolvimento econômico" ainda exige cuidados especiais. Por isso a flexibilização da política monetária deverá ser "conduzida com maior parcimônia".

O desagrado do ministro em relação ao conservadorismo do BC tem dois componentes diferentes, embora, no final, se conjuguem. O primeiro, mas talvez o não mais importante no momento imediato, diz respeito à nova orientação da economia que Mantega gostaria de imprimir em sua gestão. Considerado um "desenvolvimentista" e velho crítico de Palocci, ele sempre defendeu rapidez nos cortes como forma de acelerar o crescimento econômico.

O outro componente é claramente político. Candidato à reeleição, o presidente Lula gostaria de iniciar a campanha ostentando mais uma bandeira popular, a de que seu governo, enfim, conseguiu o êxito de reduzir o juro real – taxa nominal menos a inflação projetada – a apenas um dígito. Isto é, abaixo de 10% ao ano, que, embora seja ainda o mais alto nível mundial, seria o menor praticado no país nos últimos 20 anos.

O Banco Central parece que está querendo estragar a festa tanto do presidente quanto do ministro. Mas embora estejamos todos cansados e insatisfeitos com a indecência do juro tupiniquim, é melhor agora apoiar a orientação prudente do Banco Central, que expõe razões concretas para justificá-la: o petróleo continua subindo, o crédito se expandiu exageradamente e o salário mínimo aumentou acima da inflação. Somados, esses fatores podem pressionar a alta dos preços e colocar em risco a estabilidade monetária.

O Banco Central cumpre diligentemente o seu papel de guardião da moeda. Quem não está cumprindo o seu é o Executivo ao descuidar-se de conter os gastos públicos. A liberalidade com que o dinheiro da viúva está sendo administrado nos primeiros meses deste ano eleitoral é o pior dos motivos para que os juros se mantenham altos. Sem reduzir o endividamento público, o país continuará refém das ta-xas elevadas. É neste ponto que se exige toda a parcimônia possível.

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