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O governo acaba de adotar novas medidas de defesa comercial contra produtos originários de vários países, alegando a prática de "dumping", isto é, preços irreais para entrada no mercado brasileiro. A providência é salutar, por buscar um padrão justo nas relações de troca com o exterior, porém precisa ser complementada pela correção do desequilíbrio cambial, que está comprometendo nossa pauta de exportações e gerando a desindustrialização da economia.

À primeira vista, o balanço econômico dá manchetes em torno do crescimento de 5,3% para a atividade industrial (5,4% no Paraná) e saldo comercial já de US$ 20,6 bilhões. De fato, há um acúmulo de números positivos: o comércio local avançou 9%, o crescimento da massa salarial foi de 7,8% e as montadoras de automóveis nunca tiveram um ano tão bom em produção e vendas. Para coroar, a Conab projeta uma safra recorde de 135 milhões de toneladas de grãos.

Mas é preciso cuidado com a euforia dos números – advertiu o economista Maurício Levy: eles escondem armadilhas. A pesquisa industrial mensal do IBGE aponta crescimento de apenas 4,5% no ano e a partir de uma base baixa: em 2006 a indústria de transformação – núcleo da atividade fabril – cresceu apenas 1,6%. Para exemplo, enquanto em 2005 as fábricas de carros fizeram US$ 4,7 bilhões em exportação, neste ano, entre janeiro e julho, o superávit do setor não passou de US$ 900 milhões, um quinto do desempenho anterior.

Mais, no período, com avanço de 23% a importação de bens industriais passou a ocupar o espaço da produção local, segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior. O próprio governo revisou para baixo a previsão de saldo comercial, de 45 para US$ 40 bilhões. Em setembro o superávit caiu 22%, queda de 9,5% em relação ao ano anterior. Pior, registra a Funcex, esse superávit decorre mais da valorização de produtos básicos do que da agregação de valor à pauta. Se os preços tivessem ficado no patamar de 2002 o saldo do ano cairia de US$ 20,2 bilhões para US$ 8,2 bilhões, não bastando para cobrir a conta de transações do Brasil com o exterior.

A análise impõe duas conclusões: o comércio exterior tem que ir além das commodities, hoje valorizadas mas de ciclo instável. Segundo, é importante manter a participação dos bens industrializados porque se exportarmos apenas produtos tradicionais deixaremos de estar presentes nos segmentos dinâmicos do mercado internacional – uma conseqüência da valorização do real. É por isso que países da União Européia lutam para conter a apreciação do euro ante o dólar, enquanto aqui assistimos passivamente essa valorização artificial decorrente da arbitragem proporcionada por juros estratosféricos.

Como resumo da ópera, o desequilíbrio cambial acaba de abater uma fábrica tradicional de lâmpadas incandescentes. A multinacional fabricante decidiu substituir a produção local por importações; para ela o Brasil deixou de ser competitivo.

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