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| Foto: Louisa Gouliamaki/AFP

Aprender com os erros dos outros é ato de inteligência, pois aprender com os próprios erros implica sofrimento que, de outro modo, poderia ser evitado. No caso da economia nacional, o mundo está farto de histórias e exemplos capazes de ensinar sobre erros e consequências. O Brasil entra 2019 com esperanças renovadas, tanto por ter começado a sair da grave recessão de 2015 e 2016 como por ter realizado eleições para governadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores e presidente da República. Além do alto índice de renovação, sobretudo no parlamento, no caso específico da Presidência não só houve derrota do partido vencedor das quatro últimas eleições como foi eleito um presidente com outra linha de pensamento, saindo um partido de esquerda com pendor socialista e entrando um governo liberal na economia e conservador em matéria de costumes. 

Não só deve a população aceitar o rodízio de partidos e correntes no governo como a alternância no poder é saudável e necessária para que exista democracia de fato. A perpetuação de um partido ou uma corrente política no poder é a negação da democracia e prejudicial ao desenvolvimento do país. O Brasil começa o próximo ano mergulhado em um elenco de problemas econômicos cuja solução demorará não alguns anos, mas alguns governos. Quanto tempo vai durar a cura dos males que afligem a nação? Isso dependerá da competência e das condições dos futuros governos. Nesse sentido, é saudável a busca de lições sobre erros e problemas de outros países que passaram por situação semelhante à brasileira, como instrumento para melhorar a compreensão dos problemas nacionais e a formulação de soluções. Um país que vale a pena observar é a Grécia. 

Aprender com os erros dos outros é ato de inteligência

A sucessão de erros cometidos na condução da política econômica pelos governos gregos oferece um amplo cardápio de quais aspectos devem ser considerados na interpretação da situação brasileira e quais políticas podem dar certo e a que custos. A primeira regra para a solução de um problema é admitir que ele existe. A segunda é querer resolvê-lo. A terceira é aceitar o preço a pagar, que, embora possa significar sacrifícios no presente, estabelece as condições para o crescimento econômico e o desenvolvimento social nos anos seguintes. A Grécia andou por caminhos espinhosos e equivocados durante décadas na gestão de sua economia e, quando a situação se agravou, o país enfrentou conflitos sociais, greves e tumultos políticos tão logo medidas duras foram anunciadas. 

A primeira lição é a de que não se pode tolerar por muito tempo dois flagelos econômicos: déficits crônicos nas contas do governo e crescimento persisente da dívida pública. Como o Brasil é muito grande, esses dois flagelos se verificam, com poucas exceções, nos 5.570 municípios, nos 26 estados, no Distrito Federal e na União. Em realidade, a deterioração das contas, os déficits renitentes e o endividamento público estão na base do desmoronamento da estrutura financeira do setor estatal brasileiro, com a agravante de que esse estado de coisas aconteceu sem que os investimentos tenham crescido. Uma coisa é um governo fazer uma dívida para financiar a construção de uma rodovia, uma ferrovia, uma usina hidrelétrica, um porto; outra coisa é endividar-se para cobrir déficits de serviços e custeio da máquina estatal. 

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Parte da crise brasileira tem elementos internacionais, mas a maior parte do problema resulta de erros na estruturação da máquina estatal, deficiências na legislação de previdência social privada e pública, desordem no gasto púbico, ineficiência e corrupção. O fato é que o Brasil precisa não apenas melhorar a gestão dos gastos públicos, mas também rever a própria estruturação do setor estatal, suas funções e a amplitude de suas intervenções. A filosofia de querer fazer tudo e intrometer-se em todos os setores da vida nacional precisa ser revista por duas razões óbvias. Uma é conceitual: ela inverte totalmente a sadia relação entre governo e sociedade, que tem de se pautar pela subsidiariedade. A outra é prática: a sociedade não aguenta pagar a conta. A carga tributária efetivamente arrecadada está na faixa dos 34% do produto total do país, logo não é saudável manter e muito menos elevar os gastos do governo. 

O Brasil andou cometendo erros parecidos com os que ocorreram na Grécia, como aprovação de despesas públicas sem previsão de receita, concessão de aumentos salariais de servidores mesmo em época de crise e recessão, descuido com a bomba dos déficits da previdência social do setor privado e do setor público e tolerância com a explosão da dívida pública. Assim como na Grécia, por aqui a deterioração da situação econômica não ocorreu de repente nem foi obra do acaso, mas um longo processo de má gestão econômica e maus governos. Aprender com a história da Grécia e suas crises será útil para entender o problema brasileiro e enfrentá-lo com seriedade e urgência. 

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