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Gasolina caiu mais de 15% em julho e ajudou IPCA a registrar a primeira deflação mensal desde 2020.
Gasolina caiu mais de 15% em julho e ajudou IPCA a registrar a primeira deflação mensal desde 2020.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo/Arquivo

A esperada deflação em julho veio na exata medida esperada pelos analistas do mercado financeiro. O IPCA de -0,68% é o menor de toda a série histórica iniciada em 1980 e representa a primeira deflação desde maio de 2020, quando a pandemia estava causando terremotos na economia mundial. Esta é apenas a 15.ª vez desde o início do Plano Real em que o índice fica em terreno negativo. O recuo ainda foi capaz de puxar o acumulado dos últimos 12 meses quase dois pontos porcentuais para baixo, caindo de 11,89% para 10,07%; dependendo do desempenho dos preços em agosto, o acumulado poderá, finalmente, abandonar a casa dos dois dígitos.

O resultado era bastante esperado, pois julho foi o primeiro mês cheio com redução de impostos estaduais sobre combustíveis, energia e telecomunicações, após a aprovação da Lei Complementar 194 no Congresso Nacional – a sanção presidencial ocorreu em 24 de junho. Alíquotas que muitas vezes ultrapassavam os 30% tiveram de ser reduzidas para, no máximo, 18%, provocando uma queda imediata em preços como o da gasolina. Os combustíveis, aliás, ainda foram beneficiados por uma redução nos preços praticados pela Petrobras, consequência de uma leve melhora no cenário internacional. Na medição do IBGE, a gasolina caiu 15,48% e o etanol, 11,38%; apenas o gás de cozinha se manteve estável, com recuo de 0,36%. Já o preço da energia elétrica para o consumidor residencial caiu 5,78%.

Ainda existem muitas pressões inflacionárias, embora em alguns casos se trate de questões sazonais, como entressafras que reduzem a oferta

Combustíveis e energia são custos que também costumam ter reflexos sobre os preços de inúmeros outros produtos e serviços, e por isso exige atenção o fato de a queda de preços não ter sido mais generalizada. O índice de difusão – a porcentagem de itens analisados pelo IBGE que tiveram alta – caiu para 63%, o que ainda é um número preocupante. Dos nove grandes grupos de produtos e serviços pesquisados, sete ainda tiveram alta, incluindo Alimentação e Bebidas, com elevação substancial, de 1,30%. Isso indica que ainda existem muitas pressões inflacionárias, embora em alguns casos se trate de questões sazonais, como entressafras que reduzem a oferta. Foi o que ocorreu com o leite e seus derivados, prejudicados também pelo aumento nos custos de produção: em julho, o leite longa vida subiu 25,46%; o queijo, 5,28%; e a manteiga, 5,75%.

O mercado financeiro, cujas projeções o Banco Central reúne semanalmente no Relatório Focus, continua revisando para baixo suas estimativas do IPCA de 2022 – no documento mais recente, a previsão é de 7,11%. O caminho para o país chegar lá, no entanto, é repleto de obstáculos. A continuação do ataque russo à Ucrânia e os lockdowns chineses seguem causando choques de oferta – o recente acordo que permitiu a retomada do embarque de grãos ucranianos pode trazer algum alívio. Internamente, a entrada de dinheiro com o início do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 pode estimular a demanda e puxar preços para cima – o Copom, em seu relatório da mais recente reunião, alertou para esse risco, que deve ser monitorado bem de perto.

Caso não haja novos repiques na inflação nos próximos meses, haverá espaço para o Banco Central interromper o ciclo de alta dos juros, ou no máximo realizar mais uma elevação de 0,25 ponto na reunião de setembro, quando já se saberá o IPCA de agosto. Tudo isso enquanto a autoridade monetária brasileira mantém um olho no cenário externo, em que economias desenvolvidas também elevam seus juros para conter a inflação crescente. Isso, por sua vez, provoca fuga de dólares das economias emergentes, afetando a taxa de câmbio e, com ela, os preços de produtos importados.

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