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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente Lula durante cúpula da Celac, em março de 2024.
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente Lula durante cúpula da Celac, em março.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

A eleição presidencial venezuelana já tem data marcada: 28 de julho, segundo o Conselho Nacional Eleitoral do país. No pleito, o ditador Nicolás Maduro tem tudo para ser o candidato do bolivarianismo chavista, e “disputará” contra quem ele deixar concorrer, já que todos os principais nomes da oposição democrática estão barrados pelo Judiciário subserviente ao ditador. A essa altura, apenas os muito ingênuos ou os cúmplices declarados do ditador ainda afirmam que a eleição tem alguma chance de ser justa e limpa. E o presidente Lula já correu para se inscrever neste segundo grupo, dando seu aval ao teatro eleitoral previsto para daqui a alguns meses.

Ao lado do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que está visitando o Brasil, Lula soltou uma série de disparates sobre a eleição, com direito a comparações esdrúxulas com os pleitos brasileiros de 2018 e 2022. O petista chegou ao ponto de dizer que Maduro merece a “presunção de inocência”. “A gente não pode já começar a jogar dúvida antes das eleições acontecerem (...) nós temos que garantir a presunção de inocência até que haja as eleições para que a gente possa julgar se elas foram democráticas”, disse o presidente que já pediu o mesmo benefício a Vladimir Putin após a suspeitíssima morte de Alexei Navalny, mas que por outro lado é cheio de certezas quando se trata de Israel, que para Lula é causador de um segundo Holocausto; ou do casal Mantovani, chamado pelo presidente de “animais selvagens”, “canalhas” que “não merecem respeito”.

Para o ditador , Lula pede a presunção de inocência, a confiança em uma capacidade de jogar limpo. Para a oposição que sofre com o repetido arbítrio, Lula só tem a oferecer sarcasmo e advertências típicas de quem já dá como certa a má intenção

Não se trata, obviamente, de “jogar dúvidas”. O próprio Maduro já se encarregou de acabar com qualquer dúvida e dar ao mundo a certeza de que as eleições não serão justas. A inabilitação totalmente arbitrária da vencedora das primárias oposicionistas, María Corina Machado, bem como a de vários outros membros destacados das forças democráticas, como Henrique Capriles e Juan Guaidó, já é demonstração suficiente de que os venezuelanos não terão liberdade para escolher quem tentará a missão quase impossível de derrotar Maduro – “quase impossível” não porque o ditador tenha a estima de uma população que ele reduziu à miséria e à fome, mas porque as fraudes que marcaram os últimos pleitos venezuelanos podem muito bem se repetir, com o endosso de um CNE chavista, caso haja a mínima perspectiva de uma derrota.

Lula, aliás, não apenas se absteve de condenar a manobra judicial que inabilitou os principais nomes da oposição a Maduro, mas chegou a ironizar os democratas venezuelanos. Sem mencionar o nome de María Corina, Lula afirmou que “fui impedido de concorrer às eleições de 2018, e em vez de ficar chorando, eu indiquei um outro candidato que disputou as eleições”, em referência a Fernando Haddad. Só faltou explicar que, à época, Lula era um ficha-suja, automaticamente inabilitado pela aplicação de uma lei devidamente aprovada pelo Congresso e sancionada por ele mesmo, enquanto Corina está impedida de concorrer porque a Justiça venezuelana requentou uma condenação antiga, sem nenhuma previsão legal para tanto. Além disso, Lula tanto chorou que se lançou candidato em 2018 mesmo sendo ficha-suja, com direito a um enorme circo em Brasília, e continuou se promovendo como candidato por alguns dias mesmo depois de o TSE cassar seu registro.

Por fim, não satisfeito em pedir que o mundo conceda a Maduro uma “presunção de inocência” que ele não merece, Lula ainda se achou na posição de mandar uma advertência não ao ditador que sufoca seu povo, mas à oposição que busca o retorno da democracia à Venezuela. O petista quer que os adversários de Maduro não adotem “o hábito de negar o processo eleitoral, nem a lisura do processo, ou de rejeitar as autoridades eleitorais” e que “se o candidato da oposição [venezuelana] tiver o mesmo comportamento do nosso candidato aqui [Jair Bolsonaro], nada vale”. Ou seja, ainda que possa haver uma oposição real disputando a eleição, e não apenas a oposição permitida por Maduro, Lula quer que ela suporte calada todas as arbitrariedades que os órgãos chavistas porventura lhe impuserem para prejudicá-la.

Para o ditador carniceiro, Lula pede a presunção de inocência, a confiança em uma capacidade de jogar limpo. Para a oposição que sofre com o repetido arbítrio, Lula só tem a oferecer sarcasmo e advertências típicas de quem já dá como certa a má intenção. Cúmplice de ditadores mundo afora, o petista novamente revela seu desprezo pela democracia ao abraçar Nicolás Maduro e dar seu aval a uma farsa, um teatro destinado a manter os venezuelanos subjugados a um “socialismo do século 21” que nada deve aos totalitarismos do século 20 e levas sua vítimas a padrões de vida dignos do século 19.

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