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Carteira de Trabalho
Novo Caged registrou 1,2 milhão de novas vagas com carteira assinada de janeiro a julho de 2023; e desemprego medido pelo IBGE caiu para 7,9% no trimestre encerrado em julho.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dados divulgados no fim de agosto pelo IBGE e pelo Ministério do Trabalho mostram que, em meio a incertezas quanto ao desempenho da economia brasileira e à capacidade do governo de cumprir as metas fiscais que ele próprio estabeleceu, o mercado de trabalho tem resistido: o Novo Caged, que mede a evolução do emprego formal, com carteira assinada, registrou a abertura de 142,7 mil vagas em julho, chegando a 1,2 milhão no acumulado de 2023. Já a Pnad Contínua trouxe uma leve redução do desemprego, que ficou em 7,9% no trimestre móvel encerrado em julho – continuando a bem-vinda tendência de queda, depois de o desemprego ter subido nos primeiros três meses do ano.

“Resiliência” é um termo adequado não apenas porque o país segue gerando empregos neste cenário incerto, mas porque o faz apesar de o Brasil estar convivendo com uma taxa básica de juros acima de 13% ao ano desde junho de 2022. Com isso não queremos dizer que o Copom tenha errado a mão na política monetária – pelo contrário, foi justamente por ter agido com firmeza, e antes de muitos outros bancos centrais mundo afora, que a inflação brasileira emendou uma trajetória de queda que possibilitou o recente corte de meio ponto na Selic. Mas é inegável que os juros, nos patamares atuais, inibem a atividade econômica (o que faz parte do esforço de combate à inflação) e, portanto, os investimentos que possam gerar emprego e renda.

O governo se recusa terminantemente a reconhecer seu papel na construção de condições que permitam uma queda sustentável dos juros, que por sua vez estimule o investimento, a geração de empregos e o crescimento

No entanto, a resiliência passada não dá certeza de resiliência futura. O Produto Interno Bruto desacelerou para 0,9% no segundo trimestre, depois de um primeiro trimestre puxado por um desempenho extraordinário do agronegócio. A não ser por alguma circunstância incomum, para o bem ou para o mal, o Brasil se encaminha para uma espécie de “pouso suave”; se nem a inflação nem o desemprego tiverem um repique súbito ao longo deste segundo semestre, poderemos nos dar por satisfeitos no curto prazo, mas o trabalho de médio e longo prazo exigirá muito, especialmente de um governo dentro do qual ainda predomina um terraplanismo econômico que promete um crescimento ilimitado por meio do consumo desenfreado.

Lula já retomou sua gritaria contra o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, já que o Copom volta a se reunir na segunda quinzena de setembro para decidir se continua cortando a Selic. No entanto, o governo se recusa terminantemente a reconhecer seu papel na construção de condições que permitam uma queda sustentável dos juros, que por sua vez estimule o investimento, a geração de empregos e o crescimento. O governo interferiu na política de preços da Petrobras, forçando um represamento que teve de ser parcialmente abandonado em agosto, o que elevará novamente a inflação. Além disso, cada vez mais fica evidente que Lula aposta na irresponsabilidade fiscal, elevando gastos sem cortar despesas, a ponto de serem muito remotas, hoje, as chances de o governo fechar 2024 com o déficit primário zerado.

Sem uma política fiscal decente, o governo nada faz para preservar o valor de compra da moeda e deixa o Banco Central na posição de lutar sozinho pela estabilização dos preços com a única arma que tem, a política monetária. Juros altos são consequência da inflação alta, que por sua vez tem entre suas causas a irresponsabilidade governamental. Quanto mais tempo essa irresponsabilidade forçar o país a conviver com uma Selic nos patamares atuais, mais prolongados serão os efeitos dos juros sobre a atividade econômica, e as chances de o mercado de trabalho sofrer se tornarão cada vez maiores.

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