Fila de pessoas para receber água da Cruz Vermelha em Caracas na Venezuela. Foto: Matias Delacroix/AFP| Foto: AFP
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Em 2016, o economista Nicolás Cachanosky, professor na Metropolitan State University em Denver (EUA), escreveu um ensaio sobre quatro etapas do populismo econômico, no qual ele fala do caminho que o populismo percorre desde a indignação com a pobreza até as consequências das soluções aparentemente humanas, porém, desastrosas em relação à pobreza. Tomando dados da realidade e estudos antes feitos por outros economistas, ele diz que os programas populistas em geral incluem forte intervenção do estado na economia, incentivo desordenado ao consumismo, descaso com os investimentos de longo prazo, excesso de gastos, déficits públicos e endividamento do governo.

As receitas populistas prometem dar mais aos pobres – dinheiro, assistência social, mercadorias, etc. –, sob o argumento de que isso é mais importante do que a preocupação com déficit do orçamento governamental. Cachanosky lembra que a história tem demonstrado que, além de ser um modelo insustentável no longo prazo, o populismo econômico percorre vários estágios desde sua implantação até o fracasso inevitável.  Como prova, o economista toma o exemplo de vários países, entre eles a Argentina, a Venezuela e, ainda que em grau diferente, o Brasil.

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A expressão “os quatros estágios universais inerentes ao populismo” já estava presente em artigo publicado no ano de 1990, sob o título Macroeconomic Populism, por dois renomados economistas, Rudiger Dornbusch e Sebastián Edwards, no qual eles explicam o percurso das políticas populistas até produzirem resultado oposto ao pretendido, ou seja, piorando a vida das pessoas. O populismo tem, entre outras, a característica de prometer soluções simples para problemas complexos, em geral tentando mostrar que o governo pode tudo e que os problemas somente existem porque os governos adversários foram incompetentes.

O populismo econômico percorre vários estágios desde sua implantação até o fracasso inevitável

Governantes populistas costumam lançar a culpa de todos os males aos governos que lhes foram adversários e, ao mesmo tempo, se apresentam como os salvadores da pátria. Os quatro estágios do populismo são os seguintes: Estágio 1. O populista dá ênfase a tudo que vai mal na economia e na vida social, em seguida ele cria programas assistencialistas e paternalistas que atacam os sintomas, sem resolver as causas reais dos problemas, e a sequência é sempre a mesma: aumento dos gastos, inchaço da máquina pública, mecanismos de financiamento para o consumismo e, por óbvio, estouro das contas do governo.

Inicialmente, tais medidas parecem funcionar, a população sem conhecimento da complexidade do funcionamento da economia acredita no “milagre”, e o populista posa de pai dos pobres. Isso já ocorreu no Brasil, na Argentina, na Venezuela e em vários países latino-americanos. Quando produtos básicos como energia, combustíveis, telecomunicações e transportes são fornecidos por empresas estatais, os populistas passam a controlar preços – como fez Dilma com a energia e os combustíveis –, as empresas caem nos prejuízos, entram em dívida e, mais à frente, caminham rumo à insolvência, que somente não ocorre porque o povo é chamado a pagar a conta via aumento dos tributos.

Estágio 2. Depois de uma fase inicial de euforia – como aconteceu em 1986, com o Plano Cruzado do governo Sarney –, problemas começam a aparecer: inflação, desorganização do sistema de preços, escassez de produtos, a produção nacional se desacelera, o desemprego aumenta e a dívida pública explode. Nesse momento, os demônios de plantão, segundo a propaganda do governo, passam a ser os empresários, os especuladores, os investidores financeiros e os capitalistas. Claro, a estratégia do governo é criar inimigos para não assumir que o erro é o programa populista em si. Todos, rigorosamente todos, os governos populistas deixam um rastro de inflação, desemprego e retorno da pobreza agravada.

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Estágio 3. Neste estágio, com a queda da produção, o desemprego, a inflação e crises de abastecimento – receita que a Venezuela está assistindo há muito tempo –, o resto do mundo deixa de acreditar na capacidade de o país sair do atoleiro, os investidores internacionais retiram seus capitais, os bancos estrangeiros negam novos financiamentos, o balanço com o resto do mundo entra em déficits, o preço do dólar explode e a fuga de capitais começa – como ocorreu na Argentina –, e aí a crise geral se agrava, com diminuição de produto, renda e emprego. Nesse ponto, apesar da crise, o setor estatal aumenta impostos e torna-se ele próprio agente concentrador de renda em favor dos políticos e dos funcionários públicos, já que para estes não há desemprego.

Estágio 4. Se o país for democrático, o governo populista é posto fora por meio de eleições, e o novo governo tem de enfrentar as distorções e adotar medidas duras e impopulares, pois os ajustes, embora duros, se tornam necessários para recolocar o país no rumo certo, aumentar a produção e reduzir o desemprego. Uma regra é implacável em economia: um povo somente consome o que ele próprio produz, logo, os governos sucessores dos populistas não escapam de amargar impopularidade para consertar a confusão e o empobrecimento da nação.

As lições da história estão aí, o populismo é um mal, cujo exemplo atual mais visível é a Venezuela, que agregou um componente criminoso: o crescente número de pessoas assassinadas por causa dos confrontos políticos causados por um governo populista que destruiu a economia e empobreceu a população.

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