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O aperto da fiscalização sobre médicos e farmácias para combater a indiscriminada prescrição e venda de medicamentos para emagrecer, os chamados anorexígenos, já extrapolou o campo meramente preventivo. Hoje, este é um problema que está na esfera criminal, tal o abuso de muitos profissionais da área. Em reportagem do Fantástico, transmitida pela RPCTV no domingo, 18, assunto este depois ampliado em matéria da Gazeta do Povo, na última quinta-feira, mostrou como uma importante farmácia de Curitiba participa, junto com médicos, de uma verdadeira rede que já se espalha por todo o país que prescreve e vende de forma ilegal anorexígenos, inibidores de apetite, associados a outros remédios.

A irregularidade na farmácia de manipulação A Medical, citada pela reportagem, foi constatada em inspeção realizada pela Vigilância Sanitária, pelo Conselho Regional de Farmácia e por policiais do Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa). A Vigilância Sanitária adiantou que o relatório sobre a inspeção vai apontar que a farmácia prescrevia anorexígenos vinculados a outros medicamentos, o que é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Dessa forma, A Medical pode ser indiciada criminalmente pela associação de remédios para emagrecimento a outros medicamentos.

Esse flagrante de desrespeito à lei, que afeta diretamente a saúde das pessoas, vem alertar mais uma vez a gravidade dessa questão no Paraná e no país. Na verdade, o problema vai além da existência de médicos e comerciantes de remédios que apenas pensam nos seus lucros financeiros imediatos, prescrevendo e vendendo qualquer coisa para os desavisados consumidores. Envolve toda uma cultura da população em relação ao consumo de remédios e a automedicação, na qual a desinformação e a falta de precauções são os seus maiores ingredientes.

As estatísticas da própria Anvisa dão a dimensão do problema: os brasileiros consumiram quase duas toneladas do medicamento anorexígeno sibutramina no ano passado. A sibutramina está proibida em países da Comunidade Europeia e teve sua restrição ampliada nos EUA. No Brasil, embora medicamentos com essa substância sejam vendidos mediante a apresentação de receituário especial, de cor azul, os mesmos podem ser obtidos com muita facilidade nesta verdadeira rede subterrânea ou associados a outros medicamentos, como foi flagrada a farmácia curitibana.

Em 2006, a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes da Organização das Nações Unidas (ONU) indicou o Brasil como maior consumidor mundial de anfetaminas com finalidade emagrecedora, com um total de 9,1 doses diárias para cada mil habitantes. Isso revela que a cultura de automedicação no país apenas cresce, apesar do aumento dos índices de escolaridade da população e de todas as medidas preventivas já tomadas. O consumo indevido de medicamentos em geral, sobretudo de psicotrópicos, é considerado pela Anvisa um problema de saúde pública.

Anorexígenos causam dependência química e depressão. O abuso na prescrição e venda desses inibidores está fazendo um grande mal a milhões de pessoas, sem que essas se deem conta disso. É preciso que a legislação seja mais rígida tanto para a prescrição e venda desses e de outros medicamentos controlados, assim como as penalidades aos infratores. São necessárias mais campanhas de conscientização e apoio contínuo da rede escolar oficial para alertar os perigos do uso desses medicamentos. Agora, nada vai mudar de maneira significativa se os consumidores não forem vigilantes e se autoeducarem para o uso correto desses e de outros medicamentos.

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