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Confirmada nas urnas como presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff assumirá a condução dos destinos do país a partir de 1.º de janeiro próximo. A eleição da primeira mulher para ocupar o cargo mais importante da Nação deve ser debitada na totalidade ou quase ao patrono maior de sua candidatura, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, que com isso emplaca mais um marco na sua trajetória política.

Lula, que entrou para a história como o primeiro operário a chegar à presidência, consegue mais um feito ao eleger Dilma Rousseff sua sucessora.

Conhecido o resultado do pleito, algumas considerações se fazem necessárias com vistas ao quadriênio que se avizinha, a começar pela incógnita que cerca o próximo governo. Incógnita não tanto em relação à expectativa da continuidade da cartilha dos programas do PT, mas sim sobre como se comportará a eleita sem a tutela explícita de Lula. Sem nunca ter sido testada nas urnas e com um meteórico crescimento de prestígio no atual Governo, Dilma chega à presidência da República graças à inegável liderança política e carisma popular que desfruta aquele que foi o seu maior cabo eleitoral.

A partir de janeiro, entretanto, a história será outra, quando o criador cederá lugar à criatura, que terá então a responsabilidade direta de conduzir o país e garantir as condições ao seu desenvolvimento econômico e social. Inúmeros e de variados matizes se apresentam os desafios que esperam por Dilma. A começar pela necessidade de um choque ético na administração petista, arranhada nos últimos tempos por uma série de escândalos envolvendo figuras muito próximas do poder. São exemplos emblemáticos desses desmandos: o mensalão que levou à cassação do ex-ministro José Dirceu, o desrespeito a direitos constitucionais dos cidadãos, como ocorreu com dirigentes tucanos que tiveram seus sigilos fiscais violados por militantes petistas, e o tráfico de influência perpetrado por familiares de sua própria sucessora na Casa Civil, Erenice Guerra. Tais episódios, para citar apenas alguns poucos no vasto rol de denúncias de corrupção que marcaram os oito anos do lulismo, precisam ter um basta. A cultura da impunidade e do acobertamento que se tornaram lugar comum não podem mais prosseguir. A sociedade exige e espera isso de sua futura mandatária. Austeridade, o respeito à coisa pública e uma postura ética não devem ser entendidos como meras figuras de retórica, mas sim a regra sem exceção a nortear os passos da eleita e de sua equipe.

No campo prático das realizações é mister mencionar a prioridade que deve ser dada a algumas questões que simplesmente passaram ao largo de qualquer discussão mais concreta, à espera da necessária vontade política de se retirá-los das gavetas onde acabaram mofando. Estamos nos referindo às necessárias e urgentes reformas – previdenciária, tributária, política, trabalhista e sindical – quase sempre tratadas como temas tabus e conduzidos por interesses outros que não os da nação. O déficit galopante da Previdência Social, somado ao anacronismo das legislações trabalhista e sindical, a uma política tributária draconiana que impera e a falta de oxigenação do processo partidário, como forma de acabar com o ranço com que a política é conduzida no Brasil, são gargalos que demandam encaminhamento em busca de solução. A propósito, é bom que se diga, a bem da verdade, que nem Dilma nem Serra abordaram as reformas com a atenção que deveriam merecer durante os embates da campanha eleitoral.

Continuar crescendo, gerando empregos e promovendo a inclusão social de milhões de brasileiros que ainda vivem em condições marginais vai exigir do novo governo ações rápidas e programas consistentes, como resposta às premissas do desenvolvimento econômico e social. Para isso deve merecer cuidado especial o setor de infra-estrutura do país, como forma de desatar os nós que sufocam, por exemplo, a malha viária, portuária e aeroviária nacionais, hoje em boa parte incapaz de responder à altura ao ritmo que o progresso nacional exige. "Mãe’ do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como o próprio governo federal a qualificou, é de se esperar que Dilma leve à frente as obras previstas, cumprindo os cronogramas com redobrados cuidados na fiscalização evitando a repetição das suspeitas e denúncias de desvios de recursos e de superfaturamento que envolveram o PAC desde o seu lançamento. Isso tudo posto, é importante dar um voto de confiança àquela que será a primeira mulher a ocupar a presidência da República, sufragada nas urnas pela maioria dos eleitores.

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