O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro.| Foto: Carolina Antunes/Presidência da República

Começo de ano novo é hora de falar sobre previsões, construir cenários e fazer planejamentos. Isso vale para as pessoas, as famílias, as empresas, os governos e, condensando tudo, vale para o país como um todo. Na economia, as previsões mais importantes se referem às principais variáveis que comandam o crescimento econômico e o desenvolvimento social, entre as quais se destacam o Produto Interno Bruto (PIB), o nível de emprego, a inflação e a taxa de juros. Os rumos tomados por essas quatro variáveis ditarão o caminho da renda per capita, da evolução dos salários, do combate à pobreza, da redução das desigualdades, do equilíbrio das contas públicas etc.

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Os objetivos são óbvios: aumento do PIB, redução do desemprego, controle da inflação e juros baixos. Se o país conseguir caminhar nessas quatro trilhas, outros objetivos virão como consequência, a exemplo do aumento da renda por habitante, da redução da pobreza, do aumento da arrecadação tributária, da diminuição dos déficits públicos, do estímulo aos investimentos e do crescimento do consumo derivado de mais empregos e juros menores. As previsões podem variar e em geral são feitas sob três cenários: o pessimista, o otimista e o intermediário. No Brasil, muitos são os órgãos aparelhados em equipamentos, tecnologia e conhecimentos para pesquisar, produzir estatísticas e fazer previsões de natureza econômica e social, de maneira que os dados e as análises disponíveis são amplos e volumosos, o que facilita bastante a compreensão da realidade e as interpretações derivadas.

Sem crescimento econômico e, por consequência, aumento do nível de emprego e da renda per capita, o cumprimento das metas sociais e a redução da pobreza se tornam difíceis

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A começar pelo governo federal – que tem a sua disposição órgãos de elevado padrão, como o IBGE, o Banco Central e o Ipea –, passando pelos estados, associações de classe, federações e confederações, até chegar aos bancos e seus robustos departamentos de economia, o conjunto de órgãos e institutos de estudos, pesquisas, estatísticas e previsões é enorme e variado, e isso dificulta as distorções sobre um mesmo tema, sobretudo aquelas feitas propositalmente. Em relação a 2020, as previsões e os cenários, conforme as últimas divulgações, caminham em certas direções. Para o PIB, os otimistas falam em crescimento de 2,5%; para a inflação, a meta oficial do BC é de 4%, mas a maioria prevê que não passará dos 3,6%; a taxa básica de juros, a Selic, está prevista para 5% ao ano; o desemprego ainda deve continuar alto, na faixa dos dois dígitos, em torno de 11,5% da população ativa, apesar da previsão de que podem ser criados 1 milhão de empregos formais.

Essas estimativas têm várias explicações, e parece bastante razoável apostar nelas. Especificamente quanto à taxa básica de juros, que é a taxa paga pelo governo nos títulos da dívida pública, a previsão de que ela não fique abaixo dos 5% ao ano decorre do fato de o Brasil não ter estrutura econômica nem equilíbrio das contas públicas para sustentar uma taxa real de juros (que é a taxa nominal menos a inflação e menos os impostos sobre os rendimentos) em zero ou negativa. Ademais, taxa de juros negativa é prejudicial à economia, pois desestimula a poupança, incentiva o consumo a crédito, corrói o patrimônio dos fundos de aposentadoria e pensão, reduz o volume da poupança nacional e cria problemas para o mercado de crédito. Este é um assunto complexo, mas é conhecido e objeto de estudos, teorias, pesquisas e verificação histórica.

A reforma da Previdência, a sinalização sobre o andamento da reforma tributária, o programa de privatizações e concessões, a possibilidade de melhoria do mercado internacional e o pacote de medidas anunciadas pelo ministro Paulo Guedes, ao lado da confirmação, em 2019, de que o país começou a sair da recessão justificam a crença nas previsões relativamente otimistas para 2020. E o Brasil tem, entre outras, duas razões especiais para buscar elevadas taxas de crescimento econômico: o fato de que a população continua aumentando em torno de 1,5 milhão de habitantes ao ano e a necessidade de aumentar a renda per capita como recurso para reduzir a pobreza.

Sem crescimento econômico e, por consequência, aumento do nível de emprego e da renda per capita, o cumprimento das metas sociais e a redução da pobreza se tornam difíceis. Somente por isso, a principal luta do país, da sociedade e do governo no campo econômico deve ser a remoção dos obstáculos ao crescimento do PIB.