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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

A muito custo e com muito atraso, as mulheres têm assumido cada vez mais postos de trabalho, funções diretivas e papéis de influência na sociedade. Uma participação equitativa de homens e mulheres nos mais diversos âmbitos é não só uma exigência de um olhar justo sobre o ser humano, como uma necessidade para o bem comum de qualquer comunidade. A especificidade da contribuição feminina não pode ser dispensada impunemente em uma sociedade madura. Uma cultura em que apenas os homens desempenhassem papéis de influência seria, no mínimo, desequilibrada – como podemos constatar a partir da nossa própria experiência.

É justamente a valorização da mulher e do homem em sua singularidade e complementaridade que exige a recusa de um traço fundamental da chamada teoria ou ideologia de gênero: a negação efetiva da diferença sexual. Um feminismo que verdadeiramente deseja sublinhar a força da identidade feminina se contradiz quando cede à liquidez de uma teoria que já não reconhece a existência dessa mesma identidade; de uma teoria que afirma, deslegitimando-a, que essa identidade é artificial e criada apenas culturalmente. Ora, que a singularidade do feminino foi formada, sem dúvidas, também culturalmente – além de por seu substrato genético – pode ser afirmado sem problema e isso em nada lhe retira de valor e beleza. A formação cultural da identidade feminina, que tem um fundamento na realidade psicofísica, precisa ser refletida, depurada, aprofundada, mas não cancelada a partir de apriorismos – o que nem sequer é possível.

A formação cultural da identidade feminina precisa ser refletida, depurada, aprofundada, mas não cancelada a partir de apriorismos

Foi esse mesmo desenvolvimento cultural que, a passos muito mais lentos do que gostaríamos, fez emergir a radical afirmação da igual dignidade entre homem e mulher – um dado para nós tão evidente, mas no passado completamente rechaçado mesmo por sociedades exaltadas por seu nível de esclarecimento, como a grega ou a romana. A pregação cristã foi decisiva para uma reavaliação do valor da mulher, arrancando-a da condição de objeto ou propriedade de seu pai ou marido. Infelizmente, porém, nem sempre o reconhecimento dessa dignidade saiu da mera teoria para se traduzir em direitos concretos ao longo do tempo.

Foi apenas no século passado que diversas conquistas das mulheres se consolidaram, como os direitos políticos e o acesso ao ensino superior. É claro que diversos movimentos feministas devem ser creditados por isso. Mas uma progressiva instrumentalização dos ideais feministas ao longo das últimas décadas minou as suas forças, concentrando-as em pautas que o contradizem – como o desprezo pela maternidade e a afirmação de um suposto “direito” ao aborto. Assim, o mainstream feminista se tornou mais um agente de uma colonização ideológica que está longe de representar uma real preocupação pela valorização da mulher.

A dignidade da mulher continua ameaçada por práticas às quais se faz vista grossa

Enquanto isso, a dignidade da mulher continua ameaçada por práticas às quais esses grupos fazem vista grossa. A pornografia, por exemplo, tem se provado cada vez mais, através de pesquisas nas áreas da psicologia, da neurologia e da sociologia, como um agente incentivador e perpetuador da objetificação das mulheres e da violência contra elas. Além disso, soluções legais e culturais para atitudes discriminatórias contra a mulher no mercado de trabalho, geralmente vinculadas à possibilidade de gravidez, são pouco discutidas, enquanto o mainstream feminista – numa postura que contradiz a “sororidade” (isto é, mais ou menos, a solidariedade entre mulheres) pregada pelo movimento e que favorece o machismo – se distrai desincentivando a maternidade.

É preciso, enfim, trabalhar por uma sociedade em que as mulheres possam ocupar, tanto quanto os homens, lugares sociais onde exerçam influência. Mas também é necessário remover os obstáculos que impedem as mulheres que assim o desejam de engravidarem e serem mães, pensando em novas soluções que tornem a maternidade mais compatível com a vida profissional, tanto quanto a paternidade o é. Mais básica ainda é a construção de uma sociedade em que a mulher se sinta segura e até mesmo protegida, nunca em um sentido paternalista, mas como afirmação de sua liberdade. Uma sociedade, enfim, que não apenas reconheça de maneira irrenunciável e concreta a dignidade da mulher enquanto pessoa, como também valorize a contribuição preciosa à família, à cultura, à política, à ciência e à economia que só ela pode oferecer.

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