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A ameaça de Rui Falcão, a bem da verdade, revela a apreensão das lideranças petistas com o que ainda está por vir no julgamento do mensalão

Joseph Goebbels, o todo-poderoso ministro da Propaganda da Alemanha nazista, cunhou a frase segundo a qual "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade". Nos últimos sete anos, o PT não fez outra coisa senão negar peremptoriamente a existência do mensalão. O mantra entoado à exaustão buscou desqualificar o escândalo da compra de apoio parlamentar no primeiro mandato de Lula, reduzindo-o a uma mera manobra da oposição reacionária mancomunada com as elites, inconformadas com a ascensão de um líder sindical ao poder. Diante da precariedade da versão inicialmente apresentada, confrontada com os fatos que mostravam o tamanho dos desmandos cometidos, a saída foi buscar outra, mais verossímil e que não atentasse tanto contra a inteligência da opinião pública.

A justificativa então encontrada foi a de que o mensalão, na realidade, não passava de recursos não contabilizados de campanha, o conhecido caixa 2, um crime menor diante da gravidade da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República. Com a prevalência desse argumento, confiavam os mensaleiros, seus advogados e a cúpula petista que tudo poderia se resolver da melhor forma possível quando do julgamento no Supremo Tribunal Federal.

Mas o script imaginado por seus autores não vem se desenrolando conforme o previsto, com os ministros do STF não só reconhecendo que o crime do mensalão efetivamente ocorreu, mas também condenando a quase totalidade dos réus até agora julgados. Nesse particular, a condenação do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) – ex-presidente da Câmara e até então candidato do partido à prefeitura de Osasco (SP) – pelos crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro sacudiu a cúpula petista. Mais uma vez a saída encontrada foi a de reagir com os surrados argumentos de sempre, cabendo ao presidente nacional do PT, Rui Falcão, entoar a cantilena da vez.

Segundo ele, a condenação de João Paulo Cunha se configurou – como sempre – um golpe da oposição "conservadora e reacionária", contando para tanto com o apoio da mídia e do Poder Judiciário, objetivando a destruição do Partido dos Trabalhadores. Falcão disse mais, de forma enigmática: "Não mexam com o PT, porque quando o PT é provocado ele cresce, reage". Ameaça que, a bem da verdade, revela a apreensão das lideranças petistas com o que ainda está por vir, notadamente em relação ao futuro do ex-ministro José Dirceu, apontado como o mentor do esquema do mensalão. Além de Dirceu, sentarão no banco dos réus o então presidente da agremiação, José Genoíno, e o tesoureiro Delúbio Soares. Três dos artífices, juntamente com o publicitário Marcos Valério (já condenado), de toda a trama que resultou no desvio de uma dinheirama que supera os R$ 100 milhões.

Dirceu, inclusive, já havia começado a mobilizar seus seguidores para "reagir" às "provocações" bem antes de Rui Falcão. Em junho, falando a estudantes da União da Juventude Socialista, ligada ao PCdoB, o ex-ministro fez seu chamado às armas: "Todos sabem que este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também, porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas. É a voz do monopólio da mídia. Eu preciso do apoio de vocês", afirmou à plateia de estudantes.

Ameaças à parte, é importante que se diga que o julgamento em questão está mostrando não um suposto golpe das elites descontentes, mas o amadurecimento das instituições brasileiras, personificadas na figura do Supremo, que, de forma soberana e sem se curvar a pressões, vem cumprindo com seu papel. Papel que encontra eco na opinião pública brasileira, há muito almejando por um choque ético no país e um basta à corrupção desbragada. O que se espera que efetivamente ocorra no day after das decisões que estão sendo tomadas no STF.

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