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Alunos da rede pública do Paraná.
Alunos da rede pública do Paraná.| Foto: Divulgação / SEED

O resultado obtido pelo Paraná no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), calculado em 2021 e divulgado em 2022, ainda ecoa na Secretaria Estadual de Educação. O primeiro lugar do estado no ranking nacional do Ensino Médio é o grande legado deixado pelo antecessor, Renato Federque migrou para São Paulo para comandar a Educação na gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) –, para o novo titular da pasta, o professor Roni Miranda.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, o novo secretário do Paraná tratou como uma “grande responsabilidade” o fato de assumir a gestão da “melhor educação do Brasil, segundo o MEC”. De acordo com ele, a prioridade da gestão será manter o índice obtido. Para isso, uma das estratégias iniciais será estreitar laços de cooperação com o Governo do Estado do Ceará.

Inspiração no modelo cearense de Educação

A inspiração no modelo de gestão cearense aplicado na educação pública se justifica: apesar de ser um dos mais pobres do país, o estado é referência na gestão do ensino público. A cidade de Sobral, distante cerca de 250 km da capital, Fortaleza, há 15 anos vem sendo o polo gerador das mudanças que vêm levando os cearenses aos bons resultados na Educação.

Segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2021, o mais recente dos levantamentos anuais da organização "Todos pela Educação", 98,3% dos jovens cearenses entre 6 e 14 anos estavam matriculados na escola em 2020. No Paraná, esse índice era de 97,5%. O percentual de alunos que concluíram o ensino fundamental naquele ano no Ceará foi de 91% – e 90,2% no Paraná.

No ensino médio, o percentual de jovens em idade escolar matriculados nas escolas cearenses era menor do que o registrado no Paraná, 82,3% no estado nordestino contra 84,8% no estado do sul. Só que quando a pesquisa mostra quantos desses jovens conseguem concluir os estudos, a liderança volta para o Ceará – o índice de conclusão nessa faixa do ensino é de 72,9% entre os estudantes cearenses, e cai para 68,7% em terras paranaenses.

Voltando a Sobral, foi lá que em 2007 o Governo do Ceará implantou o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic). Na prática, todas as crianças da cidade deveriam saber ler e escrever até o segundo ano do ensino fundamental. O resultado do programa não tardou a aparecer, e vem se consolidando com o tempo. No Ideb de 2021, o município alcançou a nota 8,0 na avaliação dos anos iniciais (1º ao 5º ano) do ensino fundamental, entre todos os municípios do Brasil com mais de 50 mil habitantes, conquistando o primeiro lugar no ranking.

Nos anos finais (6º ao 9º), Sobral obteve a nota 6,6 entre os municípios com mais de 60 mil habitantes, superando as médias estadual (5,5) e nacional (5,1). Ainda no fundamental, nove escolas públicas sobralenses estão entre as 100 melhores do País, sendo quatro nos anos iniciais e cinco nos anos finais.

Então, no final de 2022, uma lei estadual ampliou o Paic, agora chamado Paic Integral. Sobral será a primeira cidade do Ceará a ter ensino integral desde as creches até os anos finais do Ensino Médio. Para tanto, o Estado fornecerá apoio técnico, pedagógico e financeiro, graças a parcerias firmadas também com organizações não-governamentais.

Paraná quer copiar bons exemplos do Ceará

O Paraná quer copiar a ideia do Paic sobralense e implantar um programa que incentive as crianças a serem alfabetizadas no segundo ano do ensino fundamental. A meta foi estabelecida porque foram justamente nesta faixa os piores resultados do Paraná no último Ideb. Os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), que são de responsabilidade dos municípios, foram os mais afetados segundo o levantamento elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Na rede pública, o Paraná caiu de 6,5 na pesquisa anterior para 6,1 na atual, ficando em segundo lugar - atrás de Santa Catarina (6,2). No geral, quando o recorte engloba tanto rede pública quanto privada, o estado aparece na quarta colocação, com 6,2 pontos - novamente, Santa Catarina tem o melhor desempenho, com 6,5.

“Nós já tínhamos começado esse diálogo no outro mandato, quando o Renato [Feder] ainda era o secretário. Nós já estávamos buscando esse diálogo com o Ceará. O grande diferencial deles por lá é o regime de colaboração com os municípios. Nós queremos aplicar isso aqui também, porque queremos chegar à chamada alfabetização na idade certa para 100% dos estudantes do ensino fundamental no Paraná, até o segundo ano nos anos iniciais”, comentou o secretário de Educação paranaense.

Tecnologia nas salas de aula como aliada na educação pública do Paraná

Além da parceria com o Ceará, o novo secretário de Educação do Paraná vai seguir investindo na adoção de soluções tecnológicas dentro das salas de aula. O modelo foi uma das marcas da gestão de Feder, de quem Roni Miranda era diretor de Educação. Oriundo dos quadros próprios da Educação no Paraná, ele espera colaborar para que os professores recebam com cada vez mais naturalidade a presença de soluções tecnológicas nas escolas.

“Tecnologia não substitui o professor, isso é o que precisa ficar muito claro. Eu, como professor mesmo, posso falar de cadeira. Quando começou a se falar a primeira vez em tecnologia na sala de aula, eu ficava com medo. Será que isso vem para me substituir ou não? Mas é o uso da tecnologia no auxílio e no apoio do professor. Eu não quero o meu professor tendo que desgastar a garganta de tanto falar. Eu quero que ele use a tecnologia a seu favor. Então a gente vai trabalhar muito com isso, trazer muita formação para os professores, trazer muita ação de diálogo com esse professor também”, reforçou o secretário.

Ensino Médio mais atraente

O uso da tecnologia, então, não terá um fim em si mesmo, como definiu Miranda, e sim uma das formas para que o estudante paranaense se sinta motivado a não só concluir os estudos, mas com condições de escolher uma carreira universitária ou entrar no mercado de trabalho. De acordo com o secretário, essa “preparação para a vida” se baseia no Novo Ensino Médio e nas trilhas de conhecimento que estarão à disposição dos estudantes.

“Nós vamos começar a aplicar essas trilhas. São aulas de empreendedorismo, liderança, oratória, mídias sociais. São componentes, matérias novas, que estão entrando dentro do currículo do nosso estudante. Nós vamos sair com adolescentes com uma formação mais completa, realmente preparados para a vida. Na minha época, a gente saía só com a formação geral, que é o conhecimento de português, geografia, matemática, e isso é super importante. Mas a gente não estava preparado, por exemplo, para como lidar com dinheiro. Agora temos essa formação na nossa rede desde 2021. Isso é um grande ganho da educação do Paraná”, pontuou.

Novas metas

Segundo Miranda, o Ministério da Educação ainda não estabeleceu novas metas para o próximo Ideb. Com a nova matriz curricular trazida justamente por essas mudanças na grade de ensino, explicou o secretário, o cálculo do índice poderá passar por atualizações. Ele reconhece que as novas metas podem ser desafiadoras, mas garante estar tranquilo e consciente do trabalho a ser feito na área.

“No final de dezembro, saiu uma nova matriz, uma portaria do MEC, já trazendo uma nova proposta. Estamos esperando agora qual vai ser a meta do Paraná. Mas nesse momento, a nossa meta é ser o primeiro, continuar com bons resultados e aumentar essa liderança. Nossos indicadores são bons, mas ainda temos um longo terreno para melhorar. A minha responsabilidade é muito grande. Nós temos hoje a melhor educação do Brasil, segundo o MEC, e isso aumenta ainda mais essa responsabilidade”, concluiu.

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