No oeste do Paraná, cidade de Terra Roxa é referência na moda bebê.| Foto: Jonathan Campos/Agência de Notícias do Paraná
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Com vocação inata para o agronegócio em diferentes cadeias de produção, algumas regiões do Paraná caminham para impulsionar a economia também em outros segmentos. O oeste do estado, por exemplo, que é destaque nacional na produção pecuária e de grãos, busca novos espaços no polo têxtil. Novos porque alguns já estão ocupados e bem representados.

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Cascavel, a quinta maior cidade do Paraná com 348 mil habitantes e com a concentração de um dos maiores plantéis avícolas do país, vai sediar um importante evento que coloca o município na rota nacional do setor. De 19 a 21 de outubro, será realizado por lá o Polo Têxtil Show. Destinado a profissionais e a empresas do segmento, o evento quer atrair visitantes ligados às indústrias de confecção, lojistas, importadores, distribuidores, designers de moda, estudantes de costura e moda e, claro, o consumidor final.

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“Esta é uma vocação que temos aprimorado ao longo dos anos e que representa uma consolidação. Com isso, Cascavel entra no circuito nacional dos grandes e importantes eventos do setor têxtil”, afirmou a coordenadora do Núcleo de Confecção Têxtil, setor ligado à Associação Comercial e Industrial (Acic), Maria Elena Covezzi.

A feira promete reunir empresas e indústrias de confecções, fábricas de confecção, fornecedores de máquinas e equipamentos, indústrias têxteis e de fios, plataforma de serviços, lojas de tecido, malhas e aviamentos. “Queremos reunir as principais empresas e profissionais do segmento, expondo novidades em tecnologias, design e produção”, completou ela, ao lembrar que a feira quer atrair olhares de todo o Brasil.

Maria Helena pontua que é em Cascavel que se produz boa parte da moda fitness brasileira, além da produção, por uma indústria local, dos uniformes oficiais do Palmeiras. “Temos mais de 160 indústrias do segmento têxtil que querem e precisam ganhar o reconhecimento merecido. São referências nacionais. O evento será uma forma de mostrarmos o que temos, o nosso importante parque industrial”, completou.

Indústria de fios de Toledo está entre as mais modernas da América Latina 

Enquanto a realização da feira é uma novidade para Cascavel, o polo regional vem se consolidando e tem metas ambiciosas. A menos de 40 quilômetros, em Toledo, está uma das mais importantes indústrias de fios do Brasil, considerada uma das mais modernas da América Latina.

A Fiasul, renascida com este nome na década de 1990, é a maior no segmento no estado. O planejamento estratégico quer levar a unidade à quinta colocação no ranking nacional em 2024. Com mil colaboradores e uma produção mensal de 2,2 milhões de quilos de fios, a indústria fornece seus produtos, prioritariamente, ao mercado catarinense, o maior no ramo brasileiro.

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Augusto Sperotto, sócio fundador que está na função de diretor presidente e presidente do Conselho de Administração, lembra que a Fiasul se mantém em solo paranaense mesmo sem o estado produzir algodão há mais de três décadas. Isso ocorre por condições estratégicas. Prestes a completar 30 anos, a indústria quer atender mercados regionais, o nacional, e quem sabe, o internacional.

“Na década de 1980, o Paraná investiu muito na produção da monocultura do algodão. Existiam muitas lavouras e o processamento precisava passar, necessariamente, pelas fiações, que foram instaladas em algumas cooperativas. Foi assim com a estrutura que hoje é a Fiasul, que pertencia antes a uma cooperativa”, contou.

A cooperativa que comandava a indústria de fios faliu nos anos de 1990 e um grupo de empresários locais resolveu assumir o chão da fábrica. Deu certo, mesmo com o desaparecimento das lavouras de algodão ao longo daquela década. “Não temos algodão aqui (no Paraná), mas nosso principal fornecedor é o Centro-Oeste, então estamos no meio do caminho entre o fornecimento da nossa matéria-prima e o envio do fio ao nosso principal mercado, que é Santa Catarina”, explicou.

Segundo Sperotto, estar no oeste do Paraná é uma decisão estratégica que considera como uma vantagem competitiva. Essa, a exemplo de outras fiações, é considerada segundo o empresário, um marco da industrialização do Paraná. Além de fios de algodão, saem da Fiasul fios de poliéster com algodão e viscose de algodão.

“Nossa indústria sobrevive se a indústria têxtil sobreviver. As regras para importação de material têxtil (fios e tecidos) deixa o produto nacional competitivo, mas depende da industrialização e modernização constante. Isso eleva nosso grau de competitividade e nos permite concorrer com a importação. Não temos medo dos chineses, dos indianos, nem de outros mercados, porque produzimos fios com preços competitivos”, reiterou.

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A regra está na modernização das máquinas, avalia Sperotto. “Estamos constantemente em modernização, todo ano substituindo as máquinas antigas pelas mais modernas e mais produtivas. Isso nos mantêm como top de linha. Se parar de investir, abre o flanco para o concorrente entrar. Nossa missão é entregar o melhor fio pelo menor preço”, completou.

Terra Roxa: a cidade que dita a moda para os bebês 

Pode até parecer ironia, mas foi no contrapé do desaparecimento das lavouras de algodão no Paraná - a matéria-prima da Fiasul em Toledo - que um município inteiro se descobriu no mercado têxtil. Terra Roxa fica a 90 quilômetros de Toledo e a 130 quilômetros de Cascavel, e vem construindo, desde a década de 1990, uma estrutura ligada à indústria. “A cidade vivia basicamente dos cultivos de café e do algodão. Quando essas lavouras foram desaparecendo, a cidade precisou se reinventar e começou um novo ciclo, com as confecções”, reconheceu a administração local.

Ainda com uma forte vocação agrícola, focada na pecuária e produção de grãos, a cidade é reconhecida como a Capital Paranaense e Nacional da Moda Bebê. São mais de 100 empresas e parques industriais voltados ao segmento que quer vestir bem os pequeninos. A cidade virou um circuito de peregrinação de grávidas que querem fazer um enxoval. Além das lojas locais, a moda bebê produzida ali está no mercado nacional e começa a ganhar espaço no exterior.

Em novembro, o município realiza a 14ª Feira Modas Bebê, quando a pequena cidade de apenas 18 mil habitantes é invadida por lojistas, empresários do segmento e consumidores.

Moda bebê de Terra Roxa alcança profissionalização por um Arranjo Produtivo Local  

Mas como nasceu tudo isso? A Moda Bebê em Terra Roxa é referência graças a um Arranjo Produtivo Local (APL). Em 2024, a organização de empresários do segmento vai completar 20 anos focada na especialização produtiva desenvolvida na cidade por diversos empreendedores, com orientação constante de diversas instituições, entre elas o Sebrae-PR. “Nosso objetivo é impulsionar o desenvolvimento socioeconômico do território de Terra Roxa, por meio das empresas produtoras de confecções. Somos uma estratégia utilizada pelo Sebrae-PR para fortalecer os negócios locais. Estamos integrados a diversos projetos e programas”, lembrou o APL.

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O setor gera mais de 3 mil empregos diretos. Somando os considerados indiretos, são 5 mil pessoas que têm sua renda pautada na moda bebê de Terra Roxa. Isso significa que, em média, uma em cada quatro pessoas que reside na cidade está diretamente vinculada à indústria.

Os mais de 100 parques fabris confeccionam cerca de 500 mil peças por mês. Nos últimos anos, o segmento abriu portas importantes para as exportações, com mercados em países como Paraguai, Angola, Uruguai e alguns da Europa.

Do café para o setor têxtil, Cianorte é a capital brasileira do vestuário 

Outras regiões paranaenses também já têm fortes polos têxteis. A região noroeste do estado abriga o município considerado a capital brasileira do vestuário: Cianorte. A cidade que no passado teve forte presença no café se reinventou e começou a investir na indústria têxtil, há quase 50 anos.

Beto Nabhan, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Cianorte, contou que a vocação do município para a moda começou na década de 1970, época em que a geada negra arrasou lavouras de café. Com muitas pessoas saindo da cidade pela falta de emprego, o tio de Beto Nabhan teve uma ideia para gerar trabalho aos moradores.

“Nesse período, meu tio começou uma confecção, e só foi crescendo. Em 1980, as confecções tinham virado outras marcas. No final dos anos 80, começaram a vir ônibus de excursão, que antes iam para São Paulo”, relembrou Nabhan.

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A vocação do município começou a nascer e crescer. Segundo dados do observatório da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o município de quase 84 mil habitantes tem 224 estabelecimento do setor têxtil. As três maiores empresas do ramo são PL Confecções, Morena Rosa e Be Eight.

O setor têxtil é diversificado, segundo Beto Nabhan. Quase 30% da população atua na área de confecção, que envolve estamparia, bordado, lavandaria e acessórios.

Capital nacional do boné, Apucarana gera mais de 30 mil empregos  

Se Cianorte é a capital brasileira do vestuário, Apucarana conquistou o título de Capital Nacional do Boné. Por mês, a cidade produz 8 milhões de bonés. A vocação do município começou há 50 anos, com um grupo de amigos visionários que vislumbrou esse mercado promissor.

“Viram que era um mercado em potencial crescimento, começaram a fazer viagens para ver se poderia trazer para Apucarana esse mercado. Começaram com algo muito manual e caseiro, mas sempre buscando evoluir”, contou a presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Apucarana e Vale do Ivaí (Sivale), Elisabete Ardigo.

Com o passar dos anos, Apucarana foi conquistando seu espaço no mercado e hoje tem diversas empresas do segmento. “A maioria dessas empresas são familiares, colocando seus sucessores, como filhos e netos. Vem de gerações”, destacou Ardigo.

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O município tem como foco a produção de bonés e algumas outras produções de vestuário. Grande parte da cidade atua no setor. “Há cerca de 140 mil habitantes em Apucarana, onde há 30 mil colaboradores na confecção. Tem um giro muito grande. A confecção contribui muito para a economia da cidade. Hoje faltam colaboradores. Temos em torno de 500 vagas abertas”, relatou a presidente do Sivale.

Os sonhos para o futuro são altos, e um deles é exportar mais. “A expectativa é buscar mercados mais amplos. Conseguindo exportar ainda mais, consolidar e levar Apucarana na frente, para que outros estados conheçam a capacidade produtiva que nós temos”, evidenciou.

Indústria de vestuário e têxtil tem participação ativa na indústria paranaense

A indústria de vestuário e têxtil gera 9,1% de empregos formais da indústria de transformação no Paraná. É um dos setores que mais empregam, perdendo somente para alimentos e construção civil. De acordo com o Observatório da Fiep 2023, há mais de 60 mil trabalhadores ativos. “O setor demanda e precisa de mão de obra qualificada. É um dos que mais empregam no estado, o terceiro. Dependendo da região, é o segundo”, comentou Marcelo Alves, coordenador de Assessoria Econômica e de Crédito da Fiep.

Valdir Scalon, coordenador do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário da Fiep, também destacou que o setor têxtil necessita de muita mão de obra qualificada. Ele comentou que em cidades grandes, como Curitiba, a dificuldade é maior ainda. “A mão de obra qualificada da confecção se torna difícil nos grandes polos. Mas as cidades polos são cercadas de cidades pequenas onde a mão de obra feminina é muito intensiva”, disse. O foco tem sido na capacitação de mão de obra nas cidades vizinhas de grandes polos, como Cianorte, Apucarana e Terra Roxa.

A exportação têxtil no Paraná ainda não é tão forte. Segundo o Observatório da Fiep 2023, foi de US$ 90 milhões em 2022, em torno de 2% da exportação têxtil nacional. “O nosso principal produto exportado em 2022 foi o falso tecido de polipropileno. Depois, tem fios de seda e algodão”, afirmou Marcelo Alves.  Os principais parceiros são Argentina, Paraguai e Estados Unidos.

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Setor têxtil toma fôlego pós-pandemia com expectativa de melhorar faturamento 

Beto Nabhan, presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Cianorte, também falou que o setor retoma o fôlego pós-pandemia. “Tivemos dois anos muito difíceis. Esse ano parece diferente. Ano passado já tivemos um aumento no faturamento. Em 2023, devemos chegar nos níveis de 2019. Já o ano de 2018 foi o melhor ano para confecção”.

Scalon também comentou que a pandemia da covid-19 deixou resultados negativos para o ramo que busca se superar. “Estamos com dificuldade. Um setor que sofreu muito com a pandemia. Cianorte e Maringá atuam muito com pronta-entrega e shopping. Sofreram muito com a pandemia e agora sofrendo com a crise econômica”, relatou.

Apesar disso, Scalon afirmou que o ramo têxtil busca tomar fôlego, com foco na capacitação dos trabalhadores, visando voltar a ser o segundo maior produtor têxtil do país. Atualmente, o estado paranaense está em quarto colocado em produção industrial de vestuário e têxtil, perdendo para São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais.

“Nós já fomos o segundo maior produtor, perdendo somente para Santa Catarina. Todo o planejamento da Fiep e investimentos no setor, com capacitação técnica e comercialização, é para conseguirmos voltar para segundo ou terceiro maior produtor. Temos muito o que aprender e para crescer também”, ressaltou Scalon.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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