O Paraná, maior produtor brasileiro de frango, é o sexto estado brasileiro a registrar focos de influenza aviária H5N1. O território paranaense é responsável por um plantel de 428,5 milhões de cabeças de frango, o equivalente a 27% da produção comercial nacional. Os dois primeiros diagnósticos da chamada gripe aviária em aves silvestres foram confirmados pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), nos últimos dias, nos municípios litorâneos de Antonina e de Pontal do Paraná. Um caso suspeito, com indicações de também ser positivo, está sob análise na Ilha do Mel, também no litoral, segundo o órgão estadual.
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Na manhã desta segunda-feira (26), o Conselho Estadual de Sanidade Animal (Conesa) fez uma reunião extraordinária. Em entrevista à Gazeta do Povo, o secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, afirmou que os registros não afetam as condições nem o status sanitário, mas alertou que os cuidados precisam ser redobrados para que as contaminações não atinjam planteis comerciais.
“A situação preocupa e coloca todo mundo em alerta. Precisamos redobrar a atenção, o monitoramento, fazer com que o menor número possível de pessoas entre em aviários. É preciso fechar frestas por onde animais silvestres possam entrar nas granjas e, no caso de qualquer sintoma minimamente suspeito, comunicar imediatamente as autoridades sanitárias”, afirmou.
O secretário ponderou que os casos no Paraná, até o momento, estão na região leste do estado, em áreas distantes às plantas comerciais – mais concentradas no oeste, sudoeste e noroeste paranaenses. “Os planteis precisam ficar protegidos, por isso em reunião tratamos justamente dessa intensificação do monitoramento e possíveis ressarcimentos, compensações financeiras no caso de precisarmos sacrificar animais. Nesta terça-feira, vou a Brasília para tratar desses temas com o ministro (Carlos Fávaro)”, completou Ortigara.
Os três estados do Sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) respondem por 60% da avicultura comercial brasileira. Em fevereiro, iniciaram tratativas com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para que o Sul do Brasil alcançasse uma condição de unidade autônoma como medida protetiva às exportações no caso de a doença ser registrada em regiões mais distantes. A unidade foi descartada pelo Mapa naquele momento e segue suspensa, mas Ortigara reforçou a necessidade de retomar o debate.
“As aves comerciais, de corte e produção de ovos, estão protegidas neste momento e não há por que mercados fecharem as portas para os nossos produtos. Nossos plantéis estão protegidos. Nossa condição sanitária segue a mesma, mas precisamos proteger e trazer segurança às comercializações”, defendeu.
Emergência zoossanitária
Desde o aparecimento do primeiro caso da gripe aviária no Brasil, em 15 de maio no Espírito Santo, o Mapa declarou emergência zoossanitária. Desde então, houve a confirmação de 48 focos de influenza aviária de alta patogenicidade, todos em animais silvestres distribuídos e monitorados em seis estados brasileiros. Há registros da doença no Rio Grande do Sul (1), Paraná (2), São Paulo (3), Rio de Janeiro (13), Espirito Santo (26) e na Bahia (3).
A grande maioria dos focos, 46 deles, foi detectada em municípios litorâneos, condição que reforça, segundo Ortigara, a entrada da doença por aves migratórias. As exceções foram um caso no município de Nova Venécia, a 80 quilômetros do litoral do Espírito Santo, e em Queimados, no Rio de Janeiro, a 53 quilômetros da praia.
Como os estados estão enfrentando a gripe aviária
Na semana passada, o estado do Espirito Santo fundou o Comitê Gestor da Gripe Aviária. Um grupo multidisciplinar monitora, registra e é responsável pela contenção dos casos. O foco é evitar que a doença chegue aos criadouros domésticos e comerciais.
“O objetivo deste comitê é fazer com que o vírus não alcance a área de produção comercial no estado. Ao mesmo tempo, pedimos que cada município monte seu comitê gestor para que tome as decisões necessárias à biossegurança. O comitê se torna ainda mais importante caso aconteça a contaminação de alguma área comercial, alguma granja ou local de produção de aves, para que a gente saiba todas as medidas e estejamos preparados para conter o vírus no local e não disseminar”, afirmou o governador do estado, Renato Casagrande.
No Rio de Janeiro, o segundo no ranking com mais diagnósticos positivos de gripe aviária, as secretarias de Saúde e de Agricultura emitiram orientação conjunta para que a população não toque em aves silvestres com sinais de doença e solicitou atenção aos criadouros domésticos e comerciais. “O cidadão deve ligar ou comunicar imediatamente a unidade da Defesa Agropecuária da região ou a Coordenação de Vigilância Ambiental de seu município”, reforçou o documento, referindo-se a quando se identificar sintomas ou ter contato com animais. Pede-se, ainda, que os 92 municípios fluminenses façam manejo adequado de aves silvestres sob suspeita.
“Só pode ser feito por profissionais habilitados e com uso de EPIs (equipamentos de proteção individual). É importante lembrar que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves e nem de ovos. As infecções humanas pelo vírus da influenza aviária ocorrem por meio do contato direto com aves infectadas (vivas ou mortas)”, esclareceu.
Na Bahia, a Vigilância Epidemiológica para prevenção segue no mesmo caminho de orientação e reforço de fiscalização. “A Bahia participa de uma das principais rotas de aves silvestres que atravessam o continente, a Rota Nordeste Atlântica (na migração), por isso nossa atenção precisa ser ainda maior”, considerou o estado em nota técnica, pedindo monitoramento constante e comunicação imediata aos registros suspeitos.
Além do meio rural, o alerta por lá foi estendido aos profissionais de saúde para um possível aparecimento da doença em humanos, condição mais rara, mas não descartada. Para isso, foi intensificada a vigilância de epizootia em aves silvestres e domésticas; solicitado o monitoramento e intensificação à vigilância sobre sintomas gripais e síndromes respiratórias agudas graves em pessoas que tenham tido contato com animais suspeitos ou contaminados; além do comunicado imediato aos órgãos de Agricultura e de Saúde.
São Paulo tem alertado para que produtores comerciais mantenham o controle de acesso às granjas; restrinjam o acesso de veículos e pessoas estranhas; realizem a desinfecção de veículos que adentrarem a granja; façam a troca de roupas e calçados ao ingressar nas granjas; mantenham telas íntegras, portões e portas fechadas para evitar o ingresso de animais domésticos e roedores nos galpões; utilizar medidas de higiene, limpeza e desinfecção no ambiente em que as aves vivem e evitar o contato direto das aves do plantel avícola com as aves de vida livre.
“É importante ressaltar que o consumo de carne de aves e de ovos não transmite a doença. A infecção humana ocorre principalmente por contato direto com aves infectadas, portanto aves doentes ou mortas não devem ser manipuladas sem a utilização de equipamento de proteção individual (EPI). A Defesa Agropecuária deve ser acionada imediatamente caso ocorra alguma suspeita da doença ou identificação de aves mortas”, considerou o governo paulista.
No Rio Grande do Sul, o pedido das autoridades sanitárias é pela vigilância ativa e comunicações imediatas sobre casos suspeitos. Comitês Gestores seguem em monitoramento, afirmou o governo gaúcho.
Principal produtor avícola do país teme retaliações
No Paraná, a cadeia produtiva do complexo aves responde por mais de R$ 33 bilhões por ano de Valor Bruto da Produção Agropecuária, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral).
O estado concentra metade das cooperativas brasileiras do agro que focam nas exportações da carne e ovos para mais de 100 países. Com o possível registro da doença nas granjas, o setor produtivo teme retaliações do mercado externo. “A nossa economia está focada na avicultura. Boa parte dos negócios do Paraná está pautado no segmento proteína avícola. A situação nos preocupa e chama a atenção para o comportamento do mercado externo com o aparecimento dos casos. Estamos fazendo nossa parte para a prevenção e temos tomado todos os cuidados necessários”, destacou o coordenador da Câmara Técnica de Sanidade do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), Paulo Vallin. O POD reúne as principais indústrias do segmento no oeste paranaense.
“Não temos confirmações em aves domésticas ou em planteis comerciais, repito, mas esse é o momento para manter e ampliar o alerta, a vigilância e os cuidados. No Paraná, retardamos o máximo possível a entrada da doença, torcíamos para que ela não chegasse, mas chegou e agora é intensificar o enfrentamento e esperar que não atinja os plantéis comerciais. Vamos fazer todo o possível para que isso não ocorra”, completou o secretário estadual de Agricultura. A partir da reunião desta segunda-feira, as regionais da Agência de Defesa Agropecuária intensificam fiscalizações, monitoramento e realização dos exames.
Em todo o Brasil, há 283 investigações em coletas de amostras. Segundo o Mapa, essas investigações são classificadas por médicos veterinários como casos prováveis de síndrome respiratória e nervosa das aves. Nesses casos, são obrigatoriamente coletadas amostras para diagnóstico laboratorial. Diante de resultados negativos para a doença, eles são descartados e a investigação é encerrada.
O que diz o Mapa sobre a gripe aviária
“A influenza aviária é uma doença de notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Doença viral altamente contagiosa que afeta várias espécies de aves domésticas e silvestres e, ocasionalmente, mamíferos como ratos, gatos, cães, cavalos, suínos, bem como o homem”, esclareceu o Ministério da Agricultura.
A doença pode ser classificada em duas categorias: influenza aviária de baixa patogenicidade – IABP, que geralmente causa poucos ou nenhum sinal clínico nas aves; e a influenza aviária de alta patogenicidade – IAAP, que pode causar graves sinais clínicos e altas taxas de mortalidade. "A influenza aviária é uma doença de distribuição mundial, com ciclos pandêmicos ao longo dos anos, e com graves consequências ao comércio internacional de produtos avícolas. Em maio foi detectada pela primeira vez em território nacional, diagnosticada em aves silvestres – o que não compromete a condição do Brasil como país livre de IAAP para o comércio”, explicou o Mapa.
O vírus de influenza aviária apresenta alta capacidade de mutação e, consequentemente, de adaptação a novos hospedeiros. A possibilidade de transmissão desses vírus entre os seres humanos pode representar um alto risco para a população mundial.
Atualmente, os principais fatores que contribuem para a transmissão da influenza aviária são as aves migratórias/silvestres, a globalização e comércio internacional com o intenso fluxo de pessoas ao redor do mundo e mercados/feiras de vendas de aves vivas (no Paraná essas feiras estão proibidas), explicou o Ministério da Agricultura, que pede a aplicação de medidas de biosseguridade nos estabelecimentos avícolas para limitar a exposição de aves domésticas a aves silvestres, principalmente migratórias e/ou aquáticas.
“Essa é a principal medida de mitigação de risco para introdução do vírus da influenza aviária no plantel avícola nacional, e consequentemente, para diminuir o risco de evolução do vírus para formas altamente patogênicas e recombinação com componentes de outros vírus de influenza para formar vírus que podem não apenas infectar seres humanos, como ser transmitidos entre seres humanos”, completou o órgão federal.
Sintomas da gripe aviária
Nas aves, a gripe aviária é de fácil contágio. Apresenta início súbito acompanhada por dificuldade de locomoção, presença de edema (inchaço) na crista, barbela, articulações e pernas; hemorragia nos músculos; diminuição e alterações na produção de ovos (casca mais fina); morte rápida e repentina, às vezes sem manifestação de qualquer sintoma clínico.
Nos humanos, qualquer sintoma peculiar à doença precisa ser imediatamente reportado ao serviço de saúde, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os principais sintomas estão dificuldade para respirar, conjuntivite, febre, dor no corpo e outros sintomas gripais. Pessoas com alto risco de complicações da influenza aviária (imunodeprimidos, acima de 60 anos e portadores de doenças crônicas cardíacas ou pulmonares) devem evitar trabalhar com aves, em caso de surto.
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