Obra da Unila na época em que canteiro estava ativo: projeto será adaptado para diminuir valor estimado para a conclusão, de R$ 800 milhões.| Foto: Divulgação/Unila
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Paradas há quase nove anos, as obras da sede da Universidade da Integração Latino-Americana, a Unila, em Foz do Iguaçu, devem ser retomadas. Ainda não é possível estimar uma data específica, mas dois pontos fundamentais são certos: um, existe caixa. E dois, ele virá da Itaipu Binacional.

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A confirmação é do diretor-geral brasileiro da hidrelétrica, Enio Verri. À Gazeta do Povo, ele revelou como andam os trâmites de retomada das obras e disse que, após uma avaliação técnica sobre as condições dos esqueletos dos prédios já levantados no local e adequações no projeto, Itaipu procederá ao convênio que deve resultar na contratação de uma empreiteira ou consórcio para o término da execução.

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Os cerca de R$ 800 milhões estimados pela Unila para a finalização do campus exatamente da forma como consta no projeto, entretanto, não são um valor plausível, considera Verri. O projeto terá de ser adaptado para que se chegue a um orçamento mais módico. “Com a adequação, será possível chegar em um valor de custo-benefício um pouco melhor. Oitocentos milhões de reais, sem dúvida nenhuma, é (um valor) muito alto”, estima o diretor-geral.

Verri reuniu-se recentemente com o ministro da Educação, Camilo Santana, para dar o pontapé inicial nos primeiros trâmites da retomada. Tanto Itaipu como o MEC indicaram responsáveis para iniciar as discussões sobre como será revisto o projeto junto ao espólio do escritório de Oscar Niemeyer.

Ao MEC e à Unila caberá negociar junto aos arquitetos responsáveis a adaptação do projeto e, à Itaipu, firmar o convênio para viabilizar a obra. A conta de ambos ficará a cargo de Itaipu. “Nos colocamos à disposição para viabilizar o projeto e o convênio. Pode ser feita uma parceria entre Itaipu, MEC e a Secretaria de Obras do Paraná. O convênio passa os recursos para a Secretaria de Obras, que licita e acompanha a execução”, estima Enio Verri.

Mesmo sem uma definição sobre novos e possíveis valores para a obra, o diretor-geral brasileiro garante que existe fluxo de caixa para finalizar o campus. A demanda, agora, é avaliar tecnicamente o que pode ser aproveitado do que já está em pé. “Temos muita coisa para discutir com a equipe de engenharia”, afirma.

Equipes técnicas de Itaipu vêm acompanhando o canteiro. E, em uma avaliação preliminar, crê-se que será possível aproveitar parte do que está sobre o terreno, conta Verri. “A obra parou em um estágio em que faltava ainda aumentar alguns andares. Mas parece-me que não vai dar para fazer isso”, adianta. “O problema, então, é que ela não vai mais conseguir atender ao número de pessoas que se propunha. A partir daí, a dúvida é se terminamos aquela obra e fazemos outras ao redor. Aí é uma questão para o pessoal da arquitetura e da engenharia (avaliarem). Mas terá que ser feita uma adequação, de qualquer forma”, antecipa.

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Diretor-geral brasileiro de Itaipu, Enio Verri reuniu-se com o ministro da Educação, Camilo Santana, para dar o pontapé inicial nos trâmites da retomada da obra.| Foto: Rubens Fraulini/Itaipu Binacional

Adaptações no projeto para a sede da Unila

A Unila foi fundada em 2010, na segunda gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O projeto da sede da instituição foi um dos últimos de Oscar Niemeyer, para um campus que fica dentro da área de abrangência de Itaipu. A obra deveria ter sido concluída em 2015, mas isso nunca aconteceu. A expectativa sobre a retomada da construção já recaía sobre Itaipu, mas as tratativas também não avançaram.

A obra foi dividida em duas etapas, sendo somente a primeira orçada originalmente em cerca de R$ 240 milhões. A construção começou em 2011 e, passados cerca de três anos e seis termos aditivos celebrados entre as partes, o orçamento já ultrapassava os R$ 260 milhões. A obra se tornou inexequível para o governo e foi abandonada pelo consórcio vencedor da licitação em 2014, com cerca de 40% da construção executada entregue à Unila no início de 2015.

“A obra parou e a empresa foi para a Justiça. TCU (Tribunal de Contas da União) e CGU (Controladoria Geral da União) ficaram do lado da Unila. Ainda hoje segue o processo questionando isso, mas, nesse meio tempo, a obra ficou parada”, conta o reitor da universidade, Gleisson de Brito. Desde então, a Unila busca recursos junto ao Ministério da Educação (MEC) para finalizar a sede, mas o orçamento estimado para a conclusão das obras nunca pôde ser aportado.

O arquiteto Jair Valera, responsável técnico do espólio do escritório de Niemeyer, conta que é possível, sim, pensar em adequações para o projeto da Unila. “É um projeto bastante extenso. Mas é possível reduzir o custo fazendo alterações”, adianta. Tudo vai depender das expectativas e necessidades para adaptação.

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Valera participou ativamente do projeto do campus junto com Oscar Niemeyer. Ano passado, ele esteve no terreno a pedido da Unila para avaliar a situação da obra não terminada. “Uma reforma ali tem que ser urgente. Está tudo exposto”, diz.

O projeto da Unila era, segundo Valera, de muita estima para Niemeyer. “Foi um projeto ao qual ele deu muita importância. Era baseado na Universidade de Constantine, na Argélia. Tem praticamente tudo o que é necessário para uma grande universidade”, rememora.

No caso da readaptação, o arquiteto garante que não vai alterar a forma como Niemeyer pensou o projeto original e que é possível garantir a obra sem perder o selo do escritório. “Podemos extrair algum prédio, ou diminuir um pouco os que não foram feitos, mas mantendo as características das obras deles. Trabalhei com Oscar muitos anos, participando das criações. Imagino que eu saiba bem o que ele faria”, adianta.

Esqueleto do prédio principal do campus da Unila: obras abandonadas desde 2014.| Foto: Sara Cheida/Itaipu Binacional

Expectativa da retomada é a melhor em anos

Jair Valera e Kadu Niemeyer, neto de Oscar e inventariante do espólio do escritório, ainda não foram formalmente procurados para tratar da adequação. Mas têm expectativa que isso aconteça o quanto antes. Assim como Gleisson de Brito, o reitor da universidade que atualmente se espalha por sedes alugadas e um prédio próprio. “É a primeira vez em quase 10 anos que temos sinalização tão robusta sobre essa retomada”, comemora.

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Não há prazos concretos para a retomada, mas as primeiras etapas precisam ser vencidas para que o projeto ande. O desenho original previa, na primeira etapa, um prédio central, a administração, um restaurante universitário e um prédio de aulas. Na segunda, um prédio de laboratórios, um anfiteatro e uma biblioteca. “Esta segunda etapa não chegou a ser iniciada. Portanto, tem questões a serem discutidas com Itaipu para saber qual vai ser a obra que levaremos à frente. Isso vai depender também de quanto recurso Itaipu estará disposta a investir ali. Mas para nós, terminar o que está levantado já seria um grande passo”, explica.

A Unila tem quase 7 mil alunos vinculados, com 29 cursos de graduação e 12 programas de pós-graduação, além de cerca de 900 servidores, entre professores e técnicos. O objetivo da instituição, quando foi pensada, era ter metade dos alunos de origem internacional. “Temos avançado em consolidar o objetivo da integração. A gente ainda não chegou aos 50% dos estudantes internacionais. Hoje são 30%, mas ainda assim somos a universidade mais internacional do país, apesar de sermos pequenos, em números absolutos”, conta o reitor.

Cerca de 2,5 mil estudantes internacionais compõem a instituição, de 39 nacionalidades. Os países com mais representantes na instituição são Paraguai, Colômbia, Haiti, Peru e Venezuela, mas também há estudantes da Europa, da China e do Líbano, por exemplo. “A identidade latino-americana ainda está em processo de construção. E a América Latina está vendo o Brasil como potência em educação superior e mandando seus filhos para estudar aqui. E quando voltam, eles levam o nome do Brasil”, diz Brito, que comemora o anúncio de recomposição orçamentária estimado para a Unila em 2023, em torno de R$ 7 milhões.

“O orçamento vai dar um alívio na reorganização das nossas atividades. Desde o pacto de criação da Unila, entregamos o número de cursos previstos, mas temos ainda apenas 70% do corpo docente estimado e em torno de 80% do corpo técnico-administrativo. O próximo passo é demandar que o governo cumpra com o compromisso de entregar todas as vagas que precisamos e que foram pactuadas lá atrás”, reforça.

A Gazeta do Povo procurou a assessoria do MEC para saber dos trâmites de retomada das obras do campus por parte da pasta e do orçamento previsto para a instituição, mas não houve resposta até a publicação dessa reportagem.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]