Agroindústria na região centro-sul do Paraná vai processar pinhão.| Foto: Katia Pichelli/Embrapa Florestas.
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Líder nacional na produção de pinhão, o Paraná começa a dar um passo a mais e investir na industrialização do produto. O objetivo é agregar valor, garantindo renda ao longo do ano a famílias de pequenos agricultores que vivem em regiões de preservação ambiental e, por conta disso, têm limitação de uso do solo para plantar.

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A produção de pinhão é sazonal. Por lei, a semente da Araucaria angustifolia, o pinheiro do Paraná, só pode ser colhida e comercializada entre abril e julho. É apenas neste período do ano que os agricultores conseguem alguma renda com a venda do produto. Ainda assim, enfrentam a concorrência de atravessadores, que compram deles, pagando um valor muito baixo, e vendem ao mercado ou diretamente ao consumidor final por um preço maior, ficando com o lucro.

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O projeto de agroindustrialização do pinhão está sendo conduzido pela Embrapa Florestas, do Paraná, e pela Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio de Janeiro, em parceria com o Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Regional (Conder), que envolve 11 municípios da região centro-sul do estado.

A agroindústria será instalada no município de Inácio Martins, que tem a maior área de conservação de floresta de araucária no Brasil. Na unidade, será produzida a farinha de pinhão e o pinhão cozido, descascado, congelado e embalado a vácuo. Terá capacidade para o processamento de 9,6 mil quilos por mês e vai funcionar nove meses ao ano, estendendo o período de receita para o produtor, hoje limitado a quatro meses. Além disso, vai agregar valor ao produto, por enquanto comercializado apenas in natura.

“O projeto foi inscrito e aprovado no Ministério da Agricultura, que vai liberar os recursos para aquisições de equipamentos”, informa Tais Gonçalves Vieira, representante do Conder. Serão R$ 670 mil para a compra de fogão, embaladora a vácuo, câmara fria e outros. O terreno foi doado pela prefeitura de Inácio Martins. E o governo do Paraná, por meio do Programa de Vocações Regionais Sustentáveis, da Invest Paraná, vai assumir a construção, com investimento de R$ 1,2 milhão.

A previsão é que a unidade industrial comece a ser construída ainda esse ano e entre em produção em 2024. “Todo o projeto foi elaborado em conjunto com a Embrapa para que seja feito dentro dos padrões e que viabilize as certificações necessárias”, explica Taís.

O secretário de Meio Ambiente da prefeitura de Inácio Martins, engenheiro florestal Eder Lopes, diz que o município foi escolhido para sediar a indústria por ter a maior concentração de araucária e, consequentemente, a maior produção de pinhão da região. "51% do nosso município está na Área de Proteção Ambiental da Serra da Esperança. É a maior área de conservação da floresta de araucária, o que limita a expansão agrícola. Por isso, precisamos buscar alternativas para, de forma sustentável, fazer essa mata nativa render para os agricultores", defende Lopes. Ele confirmou que o município doou o terreno para a construção da unidade industrial.

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Produção de pinhão será comercializada por cooperativa  

A produção da agroindústria será comercializada por uma cooperativa, cujo modelo ainda está sendo estudado. As vendas serão direcionadas para supermercados, bares, restaurantes, lojas de produtos naturais e sem glúten e demais varejistas. Há intenção também de colocar os produtos na merenda escolar.

A pesquisadora Rossana Catie de Godoy, da Embrapa Florestas, responsável pelo projeto, destaca que as ações desenvolvidas serão de grande impacto para a população da região. “O uso sustentável dos produtos da sociobiodiversidade é fundamental para garantir o provento dessas populações de baixa renda”, afirma.

Segundo ela, a coleta e venda do pinhão é praticada na região a preços muito baixos, em beiras de estradas ou para atravessadores. “Portanto, o beneficiamento do pinhão em produtos de maior valor agregado é um fator decisivo como alternativa de renda para essas comunidades”, ressalta a pesquisadora.

O produtor rural Sebastião Cabral, do município de Inácio Martins, concorda: “In natura, o preço do pinhão no mercado é baixo. Industrializando, melhoram as vendas porque agrega valor ao nosso produto. Na minha propriedade, trabalho com hortifruti e o pinhão vai ser uma renda a mais".

Pinhão precoce produz a partir do sexto ano e em árvores menores. | Foto: Ivar Wendling/Embrapa Florestas.
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Com a agroindústria, os agricultores da região serão também estimulados a plantar a araucária, uma alternativa a mais à produção que hoje se dá apenas de forma extrativista. Uma opção interessante é o plantio de variedades precoces, desenvolvidas pela Embrapa Florestas a partir de mudas enxertadas produzidas a partir de brotos extraídos da copa de árvores de araucária adultas.

Normalmente, a araucária começa a produzir pinhões com 12 a 15 anos de idade e pelo menos oito metros de altura. Com a tecnologia desenvolvida pela Embrapa Florestas, as árvores começam a produzir a partir de seis a oito anos e o porte das árvores fica entre dois e seis metros de altura. Assim, além de antecipar a produção, facilita a coleta das sementes. Com a adoção dessas mudas, os produtores poderão investir na formação de pomares de pinhão como uma fonte de renda na propriedade rural.

Os 11 municípios paranaenses envolvidos no projeto são: Rebouças, Irati, Mallet, Prudentópolis, Inácio Martins, Fernandes Pinheiro, Guamiranga, São Mateus do Sul, Imbituva e Teixeira Soares. Juntos, totalizam 8.340 km² de extensão territorial, dos quais 45% apresentam vegetação florestal nativa (floresta com araucária). Em alguns municípios, como Inácio Martins, a floresta nativa alcança até 60% da área municipal, conforme o mapeamento do uso do solo publicado em 2019 pelo Instituto Água e Terras do Paraná (IAT).

Além da gastronomia, o pinhão pode impulsionar o turismo rural

O projeto prevê também o fortalecimento do turismo, a partir do pinhão e dos atrativos da Terra dos Pinheirais, que envolve o centro-sul do Paraná. Nessa linha, está prevista a adequação de rotas turísticas e treinamento na área gastronômica com pratos à base de pinhão cozido e farinha de pinhão.

Um livro de receitas também está nos planos, o segundo a ser coordenado pela Embrapa Florestas, que irá explorar novas tendências de consumo para o pinhão e gastronomia histórica. Essa etapa será conduzida pela nutricionista Maria de Fátima Oliveira de Negre.

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A estratégia é que o pinhão descascado, higienizado e embalado facilite o uso pelos restaurantes e profissionais da gastronomia. Além disso, segundo a pesquisadora da Embrapa, o pinhão e produtos derivados têm uma série de características benéficas que garantem uma alimentação saudável: com baixo índice glicêmico e pouco lipídio, é um alimento que fornece muita energia e é livre de glúten. E ainda tem amido resistente, que passa pelo tubo digestivo sem ser degradado servindo de alimento para as bactérias boas do intestino.

Estudo de mercado

De acordo com informações da Embrapa Florestas, um estudo de mercado foi realizado com lojas de produtos especiais, supermercados e 500 consumidores. A maior parte da pesquisa foi feita em bares, restaurantes e  lojas da capital paranaense e com consumidores de Curitiba, Irati, Inácio Martins, Imbituva e Prudentópolis. E as respostas corresponderam às expectativas: pinhão congelado foi considerado um produto com grande potencial, devido à praticidade, por ser saudável e um alimento natural.

Outro ponto observado é que a maioria não conhece a farinha de pinhão, mas considera um produto também com potencial, principalment devido à questão de saúde, pela composição isenta de glúten, permitindo consumo por pessoas celíacas, e também por ser um alimento prático, orgânico, não transgênico, pelo sabor e por ser proveniente da biodiversidade.

Sul detém 90% da produção nacional

Os três estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) são os principais produtores de pinhão de todo o Brasil. É da região que sai 90% de toda a produção nacional. Há pequenas produções também nos estados do Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo).

Dados do IBGE mostram que em 2021 em todo o Brasil foram produzidas 12.484 toneladas de pinhão. Desse total, o Paraná produziu 4.018 toneladas. Santa Catarina foi o segundo maior produtor, com 3.916 toneladas. Em seguida, veio Minas Gerais, com 3.464 toneladas, Rio Grande do Sul, com 1.081 toneladas e São Paulo com 5 toneladas.

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Alguns desses outros estados comercializam a produção de pinhão na Central de Abastecimento do Paraná (Ceasa). Em 2022, a central paranaense vendeu 1,06 milhão de toneladas de pinhão. Desse total, 46% eram provenientes do próprio estado, 30% de Santa Catarina, 20% de Minas Gerais e o restante dividido entre São Paulo e Rio Grande do Sul.

Santa Catarina saiu na frente na industrialização

Embora o Paraná tenha um volume de produção maior, Santa Catarina saiu na frente no projeto de agroindustrialização do pinhão. Com apoio também da Embrapa Florestas, os produtores catarinenses há cerca de 10 anos iniciaram um trabalho de organização da cadeia produtiva. E foram pioneiros no Brasil na transformação do pinhão.

“Aqui na serra catarinense, em 2010, foram constituídas algumas organizações produtivas já pensando no processamento do pinhão e, em 2012, foi criada a primeira agroindústria”, conta Natal João Magnanti, coordenador de projetos do Centro Vianei de Educação Popular. O centro é uma organização não governamental (ONG) que trabalha com projetos de agroecologia, educação e extrativismo sustentável do pinhão e de frutas nativas, na região de Lages (SC).

Na agroindústria catarinense, o pinhão é processado, cozido, descascado, congelado e embalado da mesma forma que deve ser feito  no Paraná.  Além disso, parte do pinhão é processado e se transformado em farelo, ingrediente com o qual se faz a paçoca de pinhão, produto típico da região serrana de Santa Catarina.

Restauração de reserva legal

A ONG atua em dois projetos que envolve o pinhão. Um deles abrange 18 municípios da Associação dos Municípios da Região Serrana de Santa Catarina (Amures). E outro, financiado pelo Ibama, acontece em seis assentamentos de reforma agrária, onde vivem 230 famílias, no oeste catarinense.

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Em contrapartida ao financiamento, há a obrigatoriedade contratual de restauração das áreas de reserva legal com o plantio, pelos assentados, de espécies em risco de extinção, entre elas a araucária. A produção de pinhão da região, depois de processada, é comercializada por uma cooperativa que presta serviço ao projeto.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]