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Polícia Militar do Paraná
Polícia Militar do Paraná| Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo

Trinta e dois policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar, de Guarapuava, que atuaram no enfrentamento ao “cerco” na cidade, quando bandidos bloquearam os acessos ao município e atacaram o quartel da PM enquanto tentavam assaltar a empresa de transportes de valores Protege, estão sendo investigados em Inquérito Policial Militar (IPM) por comentários feitos em um grupo de WhatsApp após a confirmação da morte de um dos policiais que atuou na ocorrência. A informação foi divulgada pelo deputado estadual Soldado Fruet (Pros) e confirmada pela coluna, que teve acesso a documentos do processo.

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Logo após a notícia da morte do 3º sargento Ricieri Chagas, os policiais do batalhão reagiram com indignação no grupo de WhatsApp que mantêm para comunicação. Houve críticas ao chefe do Batalhão, ao Comando da Polícia Militar e à Secretaria de Estado da Segurança Pública, principalmente por conta da divulgação da informação de que havia um plano de contingência para enfrentar aquela situação, o que foi contestado pelos policiais.

Para a Polícia Militar, os comentários, às vezes desrespeitosos à hierarquia da corporação, são passíveis de abertura de inquérito para posterior responsabilização dos envolvidos. “Ações, comportamentos, posturas e atitudes como as que ensejaram a instauração deste IPM, ao mundo civil podem parecer absurdas, no entanto, ao Militar Estadual estão devidamente previstas na legislação peculiar”, disse, em nota a PM.

Nas mensagens compiladas na denúncia que motivou a abertura de inquérito, os policiais de Guarapuava lamentam a morte do colega e criticam as ações determinadas pelo comando no enfrentamento ao assalto, bem como a estrutura da PM para combater esse tipo de crime. “Quem fala que existiu plano de contingência que carregue essa cruz e se explique para a família dele”, foi o primeiro comentário após a notícia da morte de Ricieri. “Podemos ser os próximos, porque o plano de contingência continua o mesmo”, emendou outro policial.

“Eu não consigo entender como uma pessoa teve coragem de dizer que a gente estava com ‘medinho’ de caixeiro. Nós que fomos lá, estávamos lá! Vimos a desgraça acontecer na nossa cidade, depois de a gente avisar tantas vezes e pedir para não cumprir o cartão à noite para pelo menos salvaguardar a todos”, criticou um militar. “Vamos ver se vão continuar querendo fazer política em cima da situação ou se vão mostrar a realidade que se encontra nossa instituição. Não quero ter que chorar por ter nenhum amigo mais por causa do sistema, por causa de planos que nunca existiram, ou, se existiram não foram passados a quem realmente interessaria”, foi a resposta.

Críticas ao comando e descontentamento expresso

Logo a conversa se transformou em críticas ao comando. “Quando mais precisamos, fomos abandonados. Deixaram irmãos de farda feridos, deixaram nossas famílias chorando em casa sem saber se voltaríamos. É uma mistura de ódio, raiva, tristeza, que, infelizmente, não trará ninguém de volta”, escreveu um policial. “Saudades de quando eu estava na faculdade. Lá, eu erguia a mão e opinava no parecer de um doutor. Aqui tenho alguém não habilitado para me chamar a atenção de como eu dirijo. Alguém que não usa arma, mas ensina abordagem. E o piro, um ‘vidente’ dizendo onde devo estar parado para combater o crime, independente do dia”, respondeu outro colega. “Mistura de tristeza, dor e ódio por quem poderia ter feito algo por nós e nada fez! Desprezo por nossos comandantes”, concluiu mais um PM.

Em nota, os praças do 16º Batalhão comentaram o inquérito. “Cabe informar os cidadãos que tais comentários ocorreram no fatídico dia da morte do Sgt Ricieri Chagas, e que diante da revolta de seus irmãos de farda e das falácias realizados pelo ex-secretário de segurança pública, o senhor Coronel Romulo Marinho Soares e demais oficiais, os quais insistiam que existia um plano de contingência e que o mesmo teria sido executado com total perfeição. Diante disto e pela perda do irmão de farda, cerca de 30 policiais militares tomados pela emoção da perda e pelo sentimento de impunidade somado as declarações falsas noticiadas em rede nacional, questionaram no grupo da 1ª Cia sobre de quem seria a culpa, quem seriam os responsáveis por essa perda e sem a faltar com o respeito ou ferir a honra de qualquer autoridade expressaram de maneira firme o descontentamento e revolta que sentiam no momento”, diz a nota.

“Informamos que estes 30 Policiais Militares denunciados de forma covarde, se forem condenados além de terem todos os transtornos referentes a suas condutas, podem incorrer em crime militar podendo até serem licenciados a bem da disciplina. Não seria justo com quem lutou para defender a cidade de Guarapuava no dia 17 de abril, e vem com determinação cumprindo a atividade-fim da Polícia Militar”, conclui.

Caso dos policiais de Guarapuava é comentado na Alep

O deputado Soldado Fruet comentou o caso na tribuna da Assembleia Legislativa. “Abriram um IPM contra nossos heróis, guerreiros, que quase morreram em Guarapuava, por comentarem sobre algo que eu mesmo questionei aqui em plenário, que não existiu plano de contingência. Hierarquia e disciplina não podem ser usadas como mordaça".

A Polícia Militar explicou a motivação e o andamento do inquérito. Confira a íntegra da nota:

Os fatos ocorridos em Guarapuava em 17 de abril de 2022, ensejaram a instauração de dois Inquéritos Policiais Militares (IPM) distintos. O primeiro IPM, que apurou as situações de defesa territorial e os confrontos ocorridos, instaurado pelo Comandante-Geral, foi concluído e remetido à Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual (VAJME), sem que qualquer Militar Estadual tenha sido indiciado.

O segundo IPM, foi instaurado pelo Comandante do 4º Comando Regional de Polícia Militar, motivado por comentários desairosos e desrespeitosos, oriundos de aplicativo de mensagens. Objetiva mediante o devido processo legal, esclarecer eventuais autorias e materialidade de crime.

Salientamos que após conclusão, este IPM será remetido à VAJME, onde um representante do Ministério Público atuante nesta Vara especializada, mediante acurada análise decidirá sobre o oferecimento ou não de denúncia ao Juízo competente.

Ressaltamos derradeiramente que, ações, comportamentos, posturas e atitudes como as que ensejaram a instauração deste IPM, ao mundo civil podem parecer absurdas, no entanto, ao Militar Estadual estão devidamente previstas na legislação peculiar”.

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