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Além da multa: radares de trânsito se tornam "olhos inteligentes" no combate ao crime
Equipamentos desenvolvidos no Paraná ajudaram a encontrar adolescente que atacou duas escolas a tiros no Espírito Santo.| Foto: Divulgação/Velsis

Em novembro do ano passado, um jovem de 16 anos atirou contra estudantes e professores de duas escolas na cidade de Aracruz, no Espírito Santo. Resultado: quatro mortos e 12 feridos com os disparos. Cerca de quatro horas depois dos ataques, o adolescente foi apreendido dentro de casa. A placa do veículo que ele usou nos ataques estava parcialmente coberta, mas a tentativa de despiste não impediu a atuação de sistemas de inteligência artificial baseados em câmeras de segurança, que ajudaram as forças de segurança a identificar com precisão a identidade do autor dos crimes.

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O Programa “Cerco Inteligente”, responsável pela análise das imagens, foi lançado pelo Governo do Espírito Santo no início de 2022. O sistema integra câmeras de monitoramento e oferece uma resposta rápida no combate aos crimes de trânsito, ambientais, fiscais e de segurança pública. Para o governador Renato Casagrande, foi uma inovação necessária para a realidade do estado.

“A inovação vem para melhorar a vida das pessoas com a prestação de um serviço mais adequado a todos. O cerco é muito importante, uma plataforma de inteligência artificial que temos a partir de agora e que poderá ser demandada e aperfeiçoada a cada dia, fazendo com que as informações sejam processadas e, como consequência, melhoram a nossa resposta, trazendo mais segurança a toda sociedade capixaba. Segurança com relação ao crime, segurança em relação à violência nas estradas”, comentou, à época do lançamento do programa.

Empresa por trás do sistema capixaba é do Paraná

Guilherme Araújo é presidente da empresa responsável pelo fornecimento dos equipamentos e da análise de dados e inteligência artificial por trás do sistema capixaba. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele explicou que muitos dos dados que hoje são considerados imprescindíveis para as análises eram desprezados pelas forças de segurança.

“Os radares coletavam uma série de dados, que no final das contas iam para o lixo”, relatou o presidente da Velsis, empresa sediada em Curitiba. “Por isso, pensamos em desenvolver uma plataforma que trabalhasse essas informações, que consolidasse esses dados e fizesse cruzamentos com outras fontes de dados para gerar informações de inteligência. E isso nos abriu um leque de possibilidades de aplicação, desde pesquisas e estatísticas, por exemplo, até em áreas em que isso vinha sendo pouco aproveitado, como na segurança pública”, completou.

Sistema é evolução dos "radares dedo-duro"

O sistema, explicou Araújo, é uma evolução dos antigos “radares dedo-duro”, que há décadas estão em funcionamento no país. Nesse modelo, as imagens das câmeras de monitoramento de tráfego são cruzadas com bases de dados das polícias Militar e Civil. Quando há uma coincidência, como um caso de carro com alerta de roubo ou furto, ou até mesmo com pendências na documentação, como IPVA e licenciamento atrasado, um alerta é gerado para que esse carro seja identificado pelas forças de segurança.

Foi o que aconteceu em Paranaguá, no litoral do Paraná, em outubro do ano passado. Agentes da Guarda Municipal da cidade avistaram um furgão que usava placas clonadas de outro veículo, de características semelhantes, de Curitiba. Como o proprietário do veículo original tinha registrado boletins de ocorrências sobre multas aplicadas contra ele no litoral do estado, foi possível identificar o furgão clonado. O motorista foi autuado em flagrante por adulteração.

Em outro caso parecido, ocorrido em novembro de 2022, dois veículos com alerta de roubo em Curitiba foram identificados em Campo Largo, na região metropolitana da capital paranaense. Houve confronto entre a polícia e os assaltantes, e dois deles acabaram morrendo na troca de tiros.

Inteligência artificial identifica comportamentos fora dos padrões

Já o sistema de inteligência artificial criado pela empresa de Araújo permite a criação das chamadas “listas amarelas”, que identificam casos em que certos veículos entram para uma lista de atenção por apresentarem comportamento suspeito e fora dos padrões. A análise é feita com o uso de reconhecimento de placas, cruzamento de dados e o chamado machine learning, que é quando o computador, sozinho, identifica anomalias no comportamento dos motoristas.

“Dois veículos de outra cidade que, do nada, começam a trafegar juntos por um determinado trecho, por exemplo, podem acender esse alerta de anomalias por parte do sistema. Eles nunca passaram por ali, mas de uns tempos para cá estão sempre fazendo a mesma rota, juntos. O sistema identifica isso como um fator suspeito, porque pode ser o que nós chamamos de comportamento de batedor. Pode ser, por exemplo, um integrante de alguma quadrilha fazendo um mapeamento para uma rota de fuga depois de um grande assalto”, explicou.

"Listas amarelas" podem indicar suspeitos

Esses dados compilados na “lista amarela” não são indicativos de crimes, pontuou Guilherme Araújo. Mas, em caso de cometimento de algum ilícito, o sistema pode procurar por esses comportamentos fora dos padrões, e assim identificar os autores de forma mais rápida. Foi assim com o jovem de Aracruz, comentou o presidente da Velsis. “Estava tudo lá, as imagens dos locais por onde ele passou, os pontos onde ele entrou e saiu. Assim foi possível refazer todo o trajeto dele, até a casa onde foi apreendido”, relatou.

Curitiba planeja usar identificadores de disparos de armas de fogo

Curitiba é outra capital onde há a utilização de sistemas inteligentes de monitoramento e segurança. Além dos estudos para a implantação de radares de barulho para identificar veículos com escapamentos fora dos padrões, a capital paranaense vai investir na adoção de outro sistema baseado em análise inteligente de sons: os identificadores de disparos de armas de fogo.

A novidade foi confirmada à Gazeta do Povo pelo secretário municipal de Defesa Social, coronel Péricles de Matos. O sistema ainda não tem prazo para ser colocado em funcionamento, mas segundo o secretário funciona nos moldes do norte-americano ShotSpotter, uma solução capaz de identificar disparos de armas de fogo a distância.

“Temos uma solução nacional, de tecnologia brasileira, que funciona de modo similar à dos Estados Unidos. Além de identificar o local dos disparos, também será possível, com a análise do estampido, saber até mesmo qual o calibre da arma utilizada nos disparos. Há a possibilidade também de calibrar esse sistema, e assim será possível identificar não só os tiros, mas também o barulho provocado em uma batida de trânsito. Caso ocorra, o sistema, sozinho, pode acionar uma equipe de atendimento médico de emergência, por exemplo”, detalhou Matos.

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